Curitiba (PR) – Frei Cássio Vieira de Lima completou neste domingo, 22 de agosto, um século de vida. Esse privilégio, na Província Franciscana da Imaculada Conceição, com seus cerca de 400 frades, é exclusivo dele. Este momento histórico foi celebrado, às 11 horas, durante a Missa Solene na Paróquia Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba. Frei Cássio concelebrou ao lado do presidente da celebração, o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel, e também dos confrades da Fraternidade e região.

No comentário inicial, Frei Evaldo Ludwig lembrou que muitos foram os pedidos de caravanas para homenagear o aniversariante: “Mas de uma forma respeitosa, todos se sentiram responsáveis em assistir de suas casas. Nós também somos responsáveis pelo cuidado com tudo aquilo que estamos fazendo e o Frei Cássio mostra-se responsável pelo dom da vida dele e das pessoas que ele conhece e que fizeram parte dessa sua longa caminhada”, explicou. A celebração foi presencial, obedecendo as normas sanitárias, e as pessoas também puderam acompanhar pelas mídias da Paróquia.

Na sua saudação inicial a todos os confrades e paroquianos, Frei Fidêncio disse que a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, a quem ele representa nesta celebração, une-se a esta Fraternidade Franciscana e aos paroquianos, para, juntos, louvar e agradecer a Deus pelos 100 anos de Frei Cássio. “Que graça, que dádiva! Obrigado, Frei Cássio. Obrigado a Deus pelo dom da vida!”

O aniversariante foi convidado a fazer a reflexão e disse que seu ‘estado de saúde não é de pregador’. “Aliás eu nunca fui pregador. Eu fui um falador. Mas agora me pegaram ‘na arapuca’ e terei de falar alguma coisa”, brincou.

“Olhando para vocês, vejo os bancos cheios, espero que seus corações também estejam agora cheios de Deus”, saudou, com a mesma descontração: “O que é que os srs. vieram procurar aqui? Um padre bonito? Não. Nunca fui bonito e nunca me incomodei com isso, pois beleza não interessa ao padre. O que interessa é sabedoria e os conceitos divinos que ele deve distribuir para aqueles que o procuram, para aqueles com quem fala”, ensinou.

Frei Cássio nasceu em 22 de agosto de 1921, em Japurá (SP). Proveniente de uma família simples e muito pobre é o mais velho de cinco irmãos. Seu pai se chamava Olímpio de Paula Vieira e sua mãe Rita de Paula Vieira. Ingressou na Ordem dos Frades Menores no dia 20 de dezembro de 1941 e fez a profissão solene no dia 21 de dezembro de 1945. Foi ordenado sacerdote no dia 16 de julho de 1949.

Segundo ele, o pai era devoto do Profeta Jeremias e deu esse nome a ele. “Ele morreu cedo. Fazia dois anos que estava no seminário quando ele faleceu. Minha mãe morreu um pouco antes, durante um parto. Ninguém esperava isso, mas na época o conhecimento de parturientes era muito baixo. Quase não existia. Em todo caso, ela teve cinco filhos, quatro dos quais tentaram a vida religiosa e eu sou um desses que conseguiu”, celebrou.

Sua vocação, revelou Frei Cássio, se fortaleceu pelo testemunho e pela persistência de sua avó. “Eu sempre tive muita vontade de ser padre. Conheci padres que me deram exemplos grandiosos. Mas minha família era muito pobre, quase não tínhamos o que comer e não poderia ir ao seminário. Minha avó de 70 anos soube que o Ministro Provincial estaria em São José do Rio Preto, e ela foi procurá-lo fazendo uma caminhada a pe. Ela não tinha cultura, era muito simples, mas conversou duas horas com ele, que ficou impressionado com sua fé e sua religiosidade enraizada”, contou. Por causa dessa conversa, ele foi aceito no Seminário de Rio Negro, onde ficou 6 anos. “Sempre gostei de estudos e só de línguas aprendi 11”, recordou.

Ele também contou que antes de morar em Curitiba como sacerdote, ali foi estudante de Filosofia. Depois de se ordenar presbítero, disse: “Chegou a hora de trabalhar também para pagar os meus estudos e alimentação que tive no seminário. E assim eu fiz. Trabalhei em muitas coisas diferentes: só aqui em quatro hospitais, sendo um deles de leprosos; fui professor no colégio militares e lecionei em cerca de 20 estabelecimentos de ensino”, revelou. O dinheiro que ganhava colocou em poupanças. Há alguns anos retirou o dinheiro e entregou ao Ministro Provincial, causando-lhe espanto: “Onde é que você arranjou todo esse dinheiro?” Respondi: “Ah, padre, faz uns 40 anos que comecei a juntar e agora eu quero pagar o que comi e gastei no seminário onde nunca paguei. Eu soube que ele disse: ‘Até hoje eu nunca vi alguém que mandou para os seminários essa quantia'”, disse. Frei Cássio pediu que ajudem aqueles vocacionados que querem ingressar no seminário e não têm condições.

Segundo Frei Cássio, não dá mais para trabalhar como antes, com “aquele fogo”, mas não vai ficar parado. “Dá para fazer aquilo que posso e que Deus espera da gente”, disse. Para ele, nessa Paróquia onde está há 10 anos, atendeu muitas centenas de confissões. “Eu pretendo, então, atender confissões novamente para pagar aquilo que Deus deu até hoje: saúde, inteligência e conhecimento. Agora, com a presença da pandemia, as confissões decaíram. Mas vão voltar”, acredita.

O pároco Frei Alexandre Magno recomendou que, devido à pandemia, evitassem cumprimentar Frei Cássio e pediu que as pessoas deixassem num livro o nome e contato para ele agradecer depois. E também prometeu para o aniversariante que ele vai ter uma festa com abraços e muita gente quando fizer 101 anos.

Uma homenagem ao aniversariante veio da Comunidade Santa Madalena Sofia (foto acima), em Curitiba, onde foi pároco durante 30 anos e ajudou a construir uma igreja grande e muito bonita.

Frei Fidêncio deu novamente os parabéns a Frei Cássio e confessou: “Queria dizer meu muito obrigado a esta Fraternidade Bom Jesus dos Perdões porque eu percebi uma coisa muito bonita: irmãos cuidando de irmãos. Obrigado, Frei Alexandre! Obrigado confrades por esse zelo tão fraterno, apesar dos nossos pecados, por esse cuidado sobretudo por esses irmãos que mais necessitam da nossa ajuda. Rezem por nossos irmãos, rezem pelas vocações, rezem por nossa Província, para que possamos ser sempre fiéis à missão que Deus nos confiou. Frei Cássio, a você o grande abraço de todos os irmãos da Província”, desejou.

Desta vez, o bolo de aniversário, abençoado por Frei Cássio, foi entregue em pedaços embalados a todos os presentes.

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Fotos de Joaquim Eduardo Madruga, pela Pascom da Paróquia Bom Jesus dos Perdões, e Moacir Beggo.