Frei César: “É preciso que nós, com nossa vida, tornemos São Francisco presente”
04/10/2019
Moacir Beggo
São Paulo (SP) – O Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição, Frei César Külkamp, celebrou a Solenidade de São Francisco neste dia 4 de outubro no Convento São Francisco, no centro de São Paulo. Para os fiéis devotos que lotaram a igreja histórica no Largo São Francisco, durante a Celebração Eucarística, às 15 horas, Frei César fez o seguinte pedido: “É preciso que nós, com nossa caminhada, com nossa vida, tornemos São Francisco presente. E tornar São Francisco presente é tornar o próprio Cristo presente”.
Segundo o Ministro Provincial, esse Cristo, para São Francisco, é tão próximo na sua encarnação, na sua paixão e na sua eucaristia. “Ele está dentro de cada um de nós e, a partir de nós, quer estar presente no mundo de hoje. Que nós possamos celebrar São Francisco hoje e pedir essa graça da abertura do coração, para observar a tudo com os olhos de Deus, com os olhos da misericórdia”, animou.
O guardião e pároco, Frei Mário Tagliari, deu as boas-vindas ao Ministro Provincial. Assim, fez durante todas as celebrações na centenária igreja neste dia festivo.
Para Frei César, todos presentes na igreja estavam ali porque têm uma relação direta com o Santo de Assis. “São Francisco não é uma figura qualquer na vida de cada um de nós. Certamente, fala fundo no nosso coração e na nossa vida. E é por isso que nós queremos celebrar”, disse, acrescentando: “Celebrar São Francisco significa tornar presente, trazer à memória fatos, a pessoa dele, o seu projeto de vida, o seu seguimento fiel e radical a Jesus Cristo. E não foi outra coisa que ele fez na sua vida depois de descobrir a força e a vitalidade do Evangelho”.
Segundo o Ministro Provincial, no seguimento de Cristo, São Francisco não quis inventar nada de novo. “Ele não pretendeu criar outra coisa senão buscar aquilo que estava dado e criado, que era Jesus Cristo”, lembrou. Frei César, contudo, observou que o movimento criado por Francisco nos últimos 800 anos se tornou tão forte para a Igreja e levou o Papa Francisco a escolher um projeto de Igreja também fundamentado na vida e na santidade de São Francisco de Assis.
Jesus Cristo, assinalou o pregador, tornou-se a paixão de Francisco e o levou a segui-Lo e imitá-Lo com tanta radicalidade. “São Francisco tinha uma paixão tão grande pela encarnação que chegou ao ponto de inventar a representação do nascimento de Jesus nos presépios que temos até os dias de hoje”, explicou.
Outro grande mistério é a Paixão de Cristo. “Ao mesmo tempo, um Deus que ama tanto, vai até as últimas consequências e dá a própria vida no alto da Cruz”, explicou. “Mas foi esta paixão que Francisco quis experimentar e recebeu a graça de Deus de ter no próprio corpo as marcas da Paixão”, acrescentou.
Depois, outro grande mistério de Cristo, e que encantou tanto a Francisco, foi justamente a Eucaristia. “Ali, novamente, o Deus, na sua força, no seu poder, se faz pequeno no pão e no vinho para chegar ainda mais perto de cada um de nós. Por isso, ele dizia: ‘Pasmem o céu e a terra quando, no altar, estiver ali o sacerdote com o próprio Cristo nas mãos!’ Um Deus que não está lá nas alturas, mas se faz bem próximo de cada um de nós”, ressaltou.
“É isso que o Evangelho também nos diz. Esse Deus, que se encarna, que está próximo de cada um de nós, escolhe os pequenos. Foi isso que Francisco ficava ouvindo a cada Palavra do Evangelho e refletindo no seu coração: como viver essa Palavra concretamente? Isso o fez deixar a sua casa paterna, ir aos lugares onde ninguém queria estar, mas onde estavam seres humanos: os leprosos daquele tempo que não podiam entrar na cidade; os mais pobres que viviam nas periferias. É aí que ele vai viver concretamente a sua vida, porque entendeu que Jesus Cristo faria isso. Nós precisamos também hoje, ao celebrar São Francisco, não apenas cantar os seus louvores, como ele mesmo nos diz, que muitos pensam que podem se glorificar pelas honras dos grandes santos, mas é preciso que a gente também se atreva, no nosso tempo, a buscar a santidade”, ensinou Frei César.
Referindo ao tema da Novena e Festa de São Francisco, “Francisco, homem de encontro”, Frei César disse que nosso tempo precisa de relações novas. “Por isso São Francisco continua ali presente e nos desafiando”, disse, recordando que há 800 anos Francisco foi ao encontro do sultão do Egito, onde faz a grande experiência de ir ao encontro do diferente. “De ir ao encontro daquele que nós nem sempre entendemos. E essa provocação continua para o nosso tempo”, observou.
Segundo o frade, São Francisco busca na trajetória de santidade uma vida de fraternidade. “Foi ao encontro dos desprezados e teve misericórdia deles. Que é exatamente o sentimento de Deus. Deus olha para cada um de nós e tem misericórdia. Então, São Francisco pede a nós para irmos ao encontro de cada irmão, cada irmã, cada criatura, e reconhecer que tudo procede de Deus. E Deus a tudo olha e contempla com misericórdia. Que essa misericórdia faça parte da nossa vida e traga paz, traga esperança para o nosso tempo, tão marcado por divisões e violências tão tristes; por situações tão deprimentes de desvalorização da vida, de desvalorização de povos, de desvalorização do meio ambiente!”, completou.
FRANCISCO, O SÍMBOLO DA PAZ
Dom Eduardo Vieira dos Santos, vigário episcopal da Região Sé, celebrou às 10h30 no Convento e Santuário, tendo como concelebrante Frei Fidêncio Vanboemmel. Para ele, não devemos apenas admirar São Francisco, mas buscar imitar os seus exemplos.
“Tem muita gente que gosta de São Francisco porque ele protege os animais, protege a natureza, ou porque São Francisco é o santo da moda. São Francisco é o santo da moda? Não! É o santo do amor, da misericórdia. É como o símbolo da cruz. Tem muita gente que carrega a cruz no peito e acha bonito. É apenas um amuleto. A cruz é um símbolo da fé”, enfatizou. Para ele, São Francisco é o símbolo da paz. “São Francisco foi instrumento nas mãos de Deus. Deus pôde conduzir São Francisco no caminho do bem, no caminho da paz, do amor, do perdão, da misericórdia. Por quê? Porque São Francisco deixou Deus moldar a sua vida. E nós, estamos prontos para deixar Deus agir na nossa vida?”, questionou.
Dom Eduardo também destacou o Mês Missionário Extraordinário. “Nesse ano, o Papa Francisco convidou toda a Igreja para celebrar este Mês Missionário Extraordinário. Por que essa é a vocação da Igreja, que nasceu missionária. Jesus Cristo criou a Igreja. Ele é o missionário do Pai. Ele nos envia o Espírito Santo e nos faz todos missionários. A Igreja nasce missionária para ser missionária”, acrescentou.
Na sequência, Frei Mário Tagliari presidiu a Missa do meio-dia, transmitida ao vivo pela TV Canção Nova. O pároco e guardião explicou que, ao longo de nove dias, refletiu-se sobre o tema “São Francisco, o homem do encontro”. Recordando a vida deste santo, Frei Mário detalhou os encontros marcantes na vida de Francisco: com o Crucifixo de São Damião, com o leproso, “determinante para a sua vida”, com o Evangelho, com o sultão do Egito, “onde vai falar e ouvir sobre Deus”; o encontro com Cristo no Alverne, entre tantos de sua vida.
Já na sua reflexão, na Missa das 13h30, Frei Diego Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional da Província da Imaculada, perguntou aos fiéis devotos do Santo por que ele é tão querido e há 800 anos as pessoas se emocionam ao falar de São Francisco. Frei Diego destacou três aspectos para ilustrar esse amor. “O primeiro porque São Francisco ensinou o valor da humanidade, da fraternidade”, disse, chamando para o presbitério Gabriela e seu pequeno Bernardo vestido de frade. “Ele dormiu no colo da mãe de hábito e sandalinha franciscana. Eu acho que Francisco é aquele que aponta para nós que Deus se esconde na singeleza de uma criança. É o mistério da encarnação. E mais que isso: Deus é filho que dorme no colo. Pode dormir em paz, Bernardo! Era para ele entrar comigo na procissão, mas não quis. Criança é assim. É livre. Essa liberdade que Francisco mostra para nós. Francisco nos ensina que se nós queremos seguir sua proposta, não podemos ter medo de gente. Devemos construir laços de fraternidade”, ensinou o frade.
O segundo aspecto, segundo Frei Diego, é a simplicidade. “Num mundo que valoriza as pessoas pelo status, por aquilo que acumulam, Francisco vem mostrar a pobreza, a simplicidade. A gente percebe que Deus se revela de modo extraordinário no ordinário. Francisco era um homem simples. Hoje, essa proposta de Francisco é tão necessária”, disse.
O terceiro aspecto é o homem da paz, o homem da reconciliação. “Talvez seja por isso que Francisco é reconhecido como o santo da Paz, porque mostrou que essa paz deve estar dentro de nós. Hoje em dia, infelizmente, há aqueles e aquelas, que até em nome de uma possível paz, estão dizendo assim: façam guerra. Tem gente que está anunciando que, para alcançar a paz, é preciso usar armas. Não! Francisco diz assim: o homem é bom por natureza”, concluiu lembrando o Sínodo da Amazônia e o pedido do Papa para cuidarmos da vida.
Frei Diego deu a bênção final com o pequeno Bernardo no colo.
DIA DE BÊNÇÃOS
Gabriela Massa, mãe do pequeno Bernardo, explicou que seu nome é Bernardo Francisco. “Por causa do sobrenome Bernardone, eu brinco que é Franciscone”, contou Gabriela. Sua mãe é Ministra da Eucaristia no Convento São Francisco.
Já Mari Gouveia trouxe a “Jolie”, com lacinhos na cabeça, pela segunda vez para tomar a bênção. Na Missa ficou quietinha durante toda a celebração mesmo tendo ao lado um “coleguinha” um tanto barulhento.
Sua história de vida, contudo, não foi tão calma assim. “Estou com ela há um ano e nove meses. Estava passando na Rodovia Imigrantes com três amigas, subindo a Serra, quando a vi no acostamento abandonada, de coleira e muito debilitada. Estava tão fraca, com fome e sede, que não fez nenhuma resistência ao coloca-la no carro. Confesso que nem sabia se conseguiria salvá-la. E agora, um ano e nove meses depois, ela está muito bem. Era para doar, mas como estava doente, ninguém queria. Acabou ficando comigo. Hoje todo mundo a quer, mas não dou”, avisa.
Mari não gosta somente de animais. São Francisco de Assis a levou até Assis, na Itália. “É o Santo da natureza, da misericórdia e é muito atual”, enfatiza a moradora do bairro Aclimação, revelando que prefere frequentar o Convento São Francisco: “Eu gosto do estilo barroco dessa igreja. Tem outro clima aqui”.
Com a reforma, o Convento São Francisco pôde oferecer mais atrações para o público. No novo refeitório (onde os frades faziam a refeição), foi servida a macarronada preparada por uma equipe que também atua na Festa de Nossa Senhora da Achiropita. Nos corredores do claustro, barracas de quadros, livros e artigos religiosos. Em frente à igreja, mais barracas de bolos, doces, pães do Convento e artigos religiosos. Uma tenda foi armada especialmente para a bênção dos animais e dos devotos.
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