Ministro Geral fala sobre a nova Encíclica do Papa
21/07/2014
O Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry, contou em entrevista, no site da Ordem, que os franciscanos entregaram ao Papa Francisco o documento “Franciscanos pela Ecologia” para ajudá-lo na sua reflexão tendo em vista a nova encíclica que está escrevendo sobre a criação e o meio ambiente. Segundo Frei Michael, no encontro com os superiores da Ordem Franciscana, ainda em março, o Papa Francisco expressou o quanto o preocupava a questão do meio ambiente e lhes pediu conselhos.
“O Papa Francisco nos revelou sua preocupação sobre este assunto, e de que a Igreja necessita encontrar o caminho para responder a esta crise ecológica, utilizando o melhor da Ciência e contando com pessoas de boa vontade para se chegar a um acordo entre todos”, revelou o Ministro Geral. O documento franciscano foi publicado por ocasião do Dia Mundial da Água e do 35º aniversário da proclamação de São Francisco de Assis como “Celeste padroeiro dos cultivadores da ecologia” e propõe “um texto sugestivo sobre a consciência e sobre o compromisso ecológico”.
“Estive na Amazônia em fevereiro último. Estive três vezes ali no ano passado e cada vez que vou vejo um desmatamento maior. Também estive no Leste do Congo, onde também há conflitos pelos recursos minerais. E isso tem um impacto no problema social”, acredita Frei Michael.
O Ministro Geral crê que, segundo fontes vaticanas, a nova encíclica saia somente no início de 2015. “Tenho em conta que o Papa, a Igreja como um todo, terá em outubro o Sínodo sobre a vida em família. Antes, haverá um pré-sínodo e o Papa estará muito ocupado”, acredita o Ministro Geral, reforçando que “quiçá saia em novembro”, quando se comemora o 35º aniversário da Bula Inter sanctos, que declarou São Francisco de Assis “Celeste padroeiro dos cultivadores da ecologia”.
Michael Perry lembra que a preocupação com a conservação do meio ambiente é uma questão que todos, crentes e não crentes, devem colaborar. “Francisco também pediu conselho a outros especialistas como Dom Erwin Kräutle, o bispo de Xingu, uma zona profundamente afetada pelo desmatamento”, acrescentou Frei Michael.
Segundo o documento franciscano, o texto parte de uma premissa: no passado, eram os homens que temiam a natureza, enquanto nos últimos dois séculos “a situação deu uma reviravolta”, por causa de uma “cultura do desperdício, do descartável, da destruição”. “Atitudes que como nos recordou o Papa Francisco desde os primeiros dias de seu Pontificado, são antes de tudo anti-humanas e traem pela raiz a vocação humana, não só cristã, de custodiar”, com consequências danosas.
Tais comportamentos, de fato “empobrecem a Terra de todos, tornando-a mais frágil e colocando em risco o ambiente que as gerações depois de nós receberão como herança, transgredindo assim a qualquer responsabilidade em relação a eles”.
Olhando para a figura de São Francisco de Assis, que intuiu como “o natural indica e participa do sobrenatural”, os franciscanos retomam os ensinamentos dos últimos três Papas – João Paulo II, Bento XVI e Francisco – sobre o tema da ecologia, partindo de João Paulo II e de sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1990: paz com Deus criador, paz com toda a Criação. “A partir daquele momento – sublinha o documento – expressões como ‘vocação ecológica’ e ‘conversão ecológica’ passaram a fazer parte do vocabulário católico”.
Quanto a Bento XVI, os franciscanos evidenciam como seu ensinamento sobre ecologia “permanece até hoje como o mais desenvolvido por um Papa sobre este tema”. Basta citar a Encíclica Caritas in veritate: “A Igreja tem uma responsabilidade pela Criação e deve fazer valer esta responsabilidade também em público”, defendendo não somente a terra, a água e o ar como dons da criação pertencentes a todos”, mas sobretudo “protegendo o homem contra a destruição de si mesmo”. (n. 51).
Por fim, o Papa Francisco “nos habituou desde o início a uma ecologia em tempo integral”. Na homilia da Missa de início de Pontificado, em 19 de Março de 2013, o Papa Bergoglio afirmou que “quando não cuidamos da Criação e dos irmãos, então encontra espaço a destruição e o coração torna-se árido”.
O documento dos franciscanos chama a atenção para “toda manipulação de doutrinas religiosas no sentido antiecológico” e dedica amplo espaço, quer à participação dos frades na Conferência das Nações Unidas “Rio+20”, realizada no Rio de Janeiro em junho de 2012, quer na obra de defensores na ONU por parte da Franciscans International “para enfrentar casos de injustiça ambiental ou para melhorar as políticas nacionais, de modo a proteger populações e planeta”.
Por fim, os discípulos de Francisco convidam a evitar, por um lado, as “atitudes extremas” que podem transformar o “eco ativismo em ecoterrorismo” e por outro, aquele “sonambulismo irresponsável” que rejeita o problema. O comportamento mais correto, então, será feito de “pequenos e concretos passos”, realizados por “homens e mulheres de boa vontade”, pois “juntos é possível”.