Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Cada um é “açougueiro” do próprio coração

08/10/2015

Notícias

 

Frei Gustavo Medella

Difícil busca a do ser humano… Eleger, no caminho da existência, os valores que serão capazes de lhe preencher  a vida de sentido é tarefa que exige coragem e desprendimento. Feliz de quem consegue fazer coro ao autor sagrado do livro da Sabedoria, quando diz: “Preferi a sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza” (Sb 7,8). É verdadeira graça alcançar este entendimento, pois quem se reveste de sabedoria passa a enxergar mais longe, encontra a força e a inspiração que são necessárias para superar as dificuldades próprias da caminhada.

Quem cultiva a sabedoria sabe reencantar a própria existência, consegue reinventar-se diante de qualquer obstáculo de perda, doença, frustração. Não sem dor, obtém a serenidade que é capaz de descortinar um novo horizonte de esperança. Beleza e forma física podem se esvair diante de uma enfermidade; uma conta bancária recheada pode escapulir pelas mãos numa crise econômica. O poder e a fama são, por natureza, passageiros e fugazes. A sabedoria, no entanto, esta permanece, humilde, discreta, mas garantindo até o fim o sentido da existência.

No Evangelho (Mc 10,17-30), o jovem rico era uma pessoa “de bem” e “de bens”. Cumpria “direitinho” os mandamentos, seguia com fidelidade as prescrições de um “bom judeu”, tinha apreço e considerava aquilo que Jesus ensinava. Faltou-lhe apenas a coragem de dar um passo a mais, de reordenar melhor os seus valores e de abraçar a sabedoria divina que Jesus lhe oferecia de graça. Ali pesou seu coração ainda aprisionado pelo apego às riquezas e, por isso, podendo abraçar a alegria de ser um seguidor de Cristo, foi embora abatido e com o coração cheio de tristeza.

Todos nós trazemos no coração um pouco deste jovem rico. Precisamos ter a coragem de identificar quais são os apegos interiores que nos impedem de abraçar com maior convicção e entusiasmo o projeto de Deus para nós. Ao modo do açougueiro que separa a carne dos ossos, que limpa as gorduras e pelancas, com a faca afiada da Palavra de Deus, que é “mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, que penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas” (Hb 4,12), separar em nosso coração aquilo pelo qual vale a pena entregar a vida (o filé da sabedoria) das banhas da vaidade, das nervuras do orgulho, e do osso duro da ganância pelo dinheiro.