Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Mensagem Urbi et Orbi: Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível

17/04/2022

Papa Francisco

                      Imagens: Vatican Media

“Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa! Jesus, o Crucificado, ressuscitou!”

Assim o Papa Francisco saudou os fiéis presentes na Praça São Pedro e todos os que acompanharam a missa de Páscoa conectados pelos meios de comunicação em todo o mundo.

Cerca de 100 mil fiéis participaram da cerimônia, que pôde finalmente ser celebrada na Praça, após dois anos de pandemia, com os tradicionais enfeites florais para acolher o anúncio da ressurreição de Cristo.

Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra
Após a Missa, o Papa se dirigiu à sacada central da Basílica Vaticana, de onde dirigiu a a mensagem Urbi et Orbi (à cidade de Roma e a todo o mundo) e concedeu a Bênção Apostólica. Ele estava acompanhado pelos cardeais Renato Raffaele Martino e Michael Czerny.

O Pontífice repetiu as palavras de Cristo contidas no Evangelho de João, diante dos olhos incrédulos dos discípulos: «A paz esteja convosco!».

“Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra”, disse o Papa. Com todo o sangue e violência que vimos, temos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado. “Terá porventura sido uma ilusão?”, questionou Francisco, que imediatamente respondeu: “Não. Não é uma ilusão!”.

E hoje, mais do que nunca precisamos Dele, no final de uma Quaresma que parece não ter fim. Ao invés de sairmos juntos do túnel da pandemia, demonstramos que existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival.

Por isso temos necessidade do Ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação. Só Ele o pode fazer.

Crianças vítimas da guerra, mas também da fome
O Papa então dirigiu o seu olhar para todas as realidades que necessitam do anúncio pascal. Falando da “martirizada” Ucrânia, usou termos como crueldade e insensatez e pediu mais uma vez que não se habitue à guerra. De modo especial, citou o sofrimento das crianças não só ucranianas, mas também “as que morrem de fome ou por falta de cuidados médicos, as que são vítimas de abusos e violências e aquelas a quem foi negado o direito de nascer”.

Pediu paz no Médio Oriente, em particular entre israelenses e palestinos, no Líbano, na Síria e no Iraque. Paz também para a Líbia e para o Iêmen, para Mianmar e para o Afeganistão. Paz para todo o continente africano, particularmente na região do Sahel, na Etiópia, na República Democrática do Congo.

Na América Latina, a “guerra” social
Olhando para o continente americano, a oração do Papa é para que “Cristo ressuscitado acompanhe e assista as populações da América Latina, que, em alguns casos, viram piorar as suas condições sociais nestes tempos difíceis de pandemia, agravadas também por casos de criminalidade, violência, corrupção e tráfico de drogas”.

Falou também do Canadá, para que o Senhor ressuscitado acompanhe o caminho de reconciliação que a Igreja Católica no país está percorrendo com os povos autóctones.

A paz é possível!
Francisco concluiu recordando que cada guerra traz consigo consequências que envolvem toda a humanidade: do luto ao drama dos refugiados, até à crise econômica e alimentar de que já se veem os primeiros sintomas.

Cristo, todavia, nos exorta a não nos render ao mal e à violência.

“Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos!”


Fonte: Vatican News (texto de Bianca Fraccalvieri)

ÍNTEGRA DA MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO

PÁSCOA 2022

 


Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa!

Jesus, o Crucificado, ressuscitou! Veio ter com aqueles que choram por Ele, fechados em casa, cheios de medo e angústia. Veio a eles e disse: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19). Mostra as chagas nas mãos e nos pés, a ferida no lado: não é um fantasma, é mesmo Ele, o mesmo Jesus que morreu na cruz e esteve no sepulcro. Diante dos olhos incrédulos dos discípulos, repete: «A paz esteja convosco!» (20, 21).

Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra. Demasiado sangue, vimos; demasiada violência. Também os nossos corações se encheram de medo e angústia, enquanto muitos dos nossos irmãos e irmãs tiveram de se fechar nos subterrâneos para se defender das bombas. Sentimos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado, que tenha verdadeiramente vencido a morte. Terá porventura sido uma ilusão? Um fruto da nossa imaginação?

Não; não é uma ilusão! Hoje, mais do que nunca, ressoa o anúncio pascal tão caro ao Oriente cristão: «Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!» Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, no termo duma Quaresma que parece não querer acabar. Temos atrás de nós dois anos de pandemia, que deixaram marcas pesadas. Era o momento de sairmos do túnel juntos, de mãos dadas, juntando as forças e os recursos… Em vez disso, estamos demostrando que ainda não existe em nós o Espírito de Jesus, mas existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival, e pensa como há de eliminá-lo. Temos necessidade do Crucificado ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação. Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, precisamos que venha colocar-Se no meio de nós e nos diga mais uma vez: «A paz esteja convosco!»

Só Ele o pode fazer. Só Ele tem hoje o direito de anunciar-nos a paz. Só Jesus, porque traz as chagas, as nossas chagas. Aquelas chagas d’Ele são nossas duas vezes: são nossas, porque Lh’as provocamos nós com os nossos pecados, a nossa dureza de coração, o ódio fratricida; e são nossas, porque Ele as traz por nós, não as cancelou do seu Corpo glorioso, quis conservá-las, trazê-las consigo para sempre. São um timbre indelével do seu amor por nós, uma perene intercessão ao Pai celeste para que as veja e tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro. As chagas no Corpo de Jesus ressuscitado são o sinal da luta que Ele travou e venceu por nós, com as armas do amor, para podermos ter paz, estar em paz, viver em paz.

Contemplando aquelas chagas gloriosas, os nossos olhos incrédulos escancaram-se, os nossos corações endurecidos abrem-se e deixam entrar o anúncio pascal: «A paz esteja convosco!»

Irmãos e irmãs, deixemos entrar a paz de Cristo nas nossas vidas, nas nossas casas, nos nossos países!

Haja paz para a martirizada Ucrânia, tão duramente provada pela violência e a destruição da guerra cruel e insensata para a qual foi arrastada. Sobre esta noite terrível de sofrimento e morte, surja depressa uma nova aurora de esperança. Escolha-se a paz! Deixe-se de exibir os músculos, enquanto as pessoas sofrem. Por favor, por favor: não nos habituemos à guerra, empenhemo-nos todos a pedir a paz, em alta voz, das varandas e pelas ruas! Paz! Quem tem a responsabilidade das nações, ouça o clamor do povo pela paz. Lembre-se daquela inquietadora pergunta feita pelos cientistas, há quase setenta anos: «Poremos fim ao género humano, ou a humanidade saberá renunciar à guerra?» (Manifesto Russell-Einstein, 09/VII/1955).

Trago no coração todas e cada uma das numerosas vítimas ucranianas, os milhões de refugiados e deslocados internos, as famílias divididas, os idosos abandonados, as vidas destroçadas e as cidades arrasadas. Não me sai da mente o olhar das crianças que ficaram órfãs e fogem da guerra. Vendo-as, não podemos deixar de nos dar conta do seu grito de sofrimento, juntamente com o de tantas outras crianças que sofrem em todo o mundo: as que morrem de fome ou por falta de cuidados médicos, as que são vítimas de abusos e violências e aquelas a quem foi negado o direito de nascer.

No meio da angústia da guerra, não faltam também sinais encorajadores, como as portas abertas de tantas famílias e comunidades que acolhem migrantes e refugiados em toda a Europa. Que estes numerosos atos de caridade se tornem uma bênção para as nossas sociedades, por vezes degradadas por tanto egoísmo e individualismo, e contribuam para torná-las acolhedoras com todos.

Que o conflito na Europa nos torne mais solícitos também perante outras situações de tensão, sofrimento e angústia, que tocam demasiadas regiões do mundo e que não podemos nem queremos esquecer.

Haja paz no Médio Oriente, dilacerado por anos de divisões e conflitos. Neste dia glorioso, peçamos paz para Jerusalém e paz para aqueles que a amam (cf. Sal 121/122): cristãos, judeus e muçulmanos. Possam israelitas, palestinenses e todos os habitantes da Cidade Santa, juntamente com os peregrinos, experimentar a beleza da paz, viver em fraternidade e gozar de livre acesso aos Lugares Santos no mútuo respeito pelos direitos de cada um.

Haja paz e reconciliação para os povos do Líbano, da Síria e do Iraque, e, de modo particular, para todas as comunidades cristãs que vivem no Médio Oriente.

Haja paz também para a Líbia, a fim de encontrar estabilidade depois das tensões destes anos, e para o Iémen, que sofre com um conflito esquecido por todos mas com vítimas contínuas: a trégua assinada nos últimos dias possa devolver esperança à população.

Ao Senhor ressuscitado, pedimos o dom da reconciliação para Myanmar, onde perdura um cenário dramático de ódio e violência, e para o Afeganistão, onde não diminuem as perigosas tensões sociais e onde uma dramática crise humanitária atormenta a população.

Haja paz para todo o continente africano, a fim de que cessem a exploração de que é vítima e a hemorragia causada pelos ataques terroristas – particularmente na região do Sahel – e encontre apoio concreto na fraternidade dos povos. Que a Etiópia, atribulada por uma grave crise humanitária, reencontre o caminho do diálogo e da reconciliação e cessem as violências na República Democrática do Congo. Não falte a oração e a solidariedade pelas populações do leste da África do Sul, atingidas por enchentes devastadoras.

Cristo ressuscitado acompanhe e assista as populações da América Latina, que, em alguns casos, viram piorar as suas condições sociais nestes tempos difíceis de pandemia, agravadas também por casos de criminalidade, violência, corrupção e tráfico de drogas.

Peçamos ao Senhor ressuscitado que acompanhe o caminho de reconciliação que a Igreja Católica no Canadá está percorrendo com os povos autóctones. Que o Espírito de Cristo ressuscitado cure as feridas do passado e disponha os corações na busca da verdade e da fraternidade.

Queridos irmãos e irmãs, cada guerra traz consigo consequências que envolvem toda a humanidade: do luto ao drama dos refugiados, até à crise económica e alimentar de que já se veem os primeiros sintomas. Perante os sinais perdurantes da guerra, bem como diante das muitas e dolorosas derrotas da vida, Cristo, vencedor do pecado, do medo e da morte, exorta-nos a não nos rendermos ao mal e à violência. Irmãos e irmãs, deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos!