Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O Deus que acalma o mar, mas não se afasta das tormentas

20/06/2015

Notícias

Frei Gustavo Medella

“Jesus dormindo sobre um travesseiro” (Cf. Mc 4,38). Certamente improvisado para oferecer um pouco de conforto àquele que não tem onde reclinar a cabeça (Cf. Mt 8,20). Travesseiro é sinônimo de parada, de repouso, de conversa consigo mesmo. Consultar o travesseiro é ouvir a própria consciência. E onde Deus escolhe repousar? Numa barca à deriva, balançada fortemente pelos ventos e pelas ondas, entre discípulos temerosos, que manifestam duplo espanto: primeiro pela força da tormenta e, segundo, pela aparente tranquilidade de Jesus, que à primeira vista não se importa muito com o que está acontecendo.

Jesus é Deus que escolhe habitar entre os tumultos humanos, vivendo em meio às tormentas que povoam os corações inquietos que navegam os mares nem sempre calmos da existência. Do meio da tempestade chamam pelo Mestre e manifestam a Ele todo medo e aflição. Diante do apelo, Jesus se comove a faz valer a autoridade daquele que pode dizer ao mar: “Aqui cessa a arrogância das tuas ondas” (Jó 38,11). A tempestade se acalma e as águas se tornam mansas. Os discípulos se sentem mais seguros, mas o medo não lhes deixa o coração, afinal ainda não tinham se dado conta de quem era Jesus de fato, e por isso a pergunta admirada: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem? (Mc 4,41)”.

Conhecer Jesus de verdade é um processo dinâmico, que não se resume em acumular informações e impressões sobre o Filho de Deus. Implica em viver experiências na companhia íntima do Mestre, atravessando com Ele, inclusive, momentos de medo e insegurança. Significa tê-lo presente no dia a dia e fazer questão de cultivar esta proximidade, lembrando que Jesus não se reduz a um amigo influente e poderoso com quem se pode contar para obter vantagens e benefícios pessoais. É um companheiro que se faz um com aqueles que com Ele escolhem caminhar, que se dispõe a carregar os mais pesados fardos para fazer acontecer o projeto do Reino sonhado pelo Pai, aceitando, inclusive, substituir o próprio travesseiro por uma terrível e torturante coroa de espinhos que lhe devora o crânio recostado no madeiro da cruz. Nada de conforto, nada de paz, nada de calmaria. Eis a beleza do amor de Deus: aquele que livra seus filhos de tempestades não se furta em abraçar o sofrimento, a humilhação e a dor para se manter fiel até o fim ao projeto de uma nova humanidade, salva e remida no sangue de Cristo.