Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Círculo Laudato Si’ de Assis: um dom a serviço dos pobres e da Criação

16/03/2021

Notícias

Todos nós podemos colaborar “como instrumentos de Deus” no cuidado da Criação, cada um com as próprias “iniciativas e capacidades”. É a solicitação do Papa Francisco pelo compromisso com a Casa Comum, contida na Encíclica Laudato si’, que motiva Antonio Caschetto, coordenador dos programas italianos do Movimento Católico Global pelo Clima (Gccm) e responsável pelo Círculo Laudato si’ de Assis.

O arquiteto de 40 anos de origem siciliana que se mudou para a Úmbria, onde vive com a esposa e dois filhos, se diz ser “particularmente afeiçoado” ao parágrafo 14 do documento do Pontífice, que lembra a declaração pastoral de 1999 sobre a crise ambiental feita pelos bispos da África do Sul. O envolvimento pessoal e os talentos, isto é, “aqueles que são um dom de Deus para cada um de nós”, lembra Caschetto, aparecem hoje como “necessários” para reparar os danos causados pelos seres humanos à Criação de Deus.

O Movimento Católico Global pelo Clima

Um apelo à ação, aquele do Papa, que para Antonio significa não “apenas” realizar projetos em sua profissão para reduzir o impacto ambiental, mas sobretudo reemergir e alimentar “um fogo que já estava presente” na própria vida, marcada pela experiência de ensinar a língua italiana aos requerentes de asilo, pelo serviço de guia espiritual no Santuário da Espoliação de Assis, pelo encontro em 2018 com o Movimento Católico Global pelo Clima do qual nasceu o Círculo Laudato si’ de Assis, em fevereiro do ano seguinte: um pequeno grupo de pessoas que se encontram regularmente para aprofundar a relação com o Criador e com os outros, à luz da encíclica de 2015, na necessidade urgente de enfrentar a mudança climática e a crise ecológica.

Antonio Caschetto

Conectar e criar uma rede

“O Círculo Laudato si” está sediado no Santuário da Espoliação, na paróquia de Santa Maria Maggiore, que é o lugar onde São Francisco renunciou a todos os bens e se despojou na praça”. Ali, onde repousa hoje o corpo do Beato Carlo Acutis, nasceu o Círculo “para criar uma rede”, para conectar “tanto as realidades que em Assis cuidam da nossa Casa Comum, portanto as associações, a diocese, os escritórios e os outros Círculos da Itália”, mais de uma centena em mais de 500 em todo o mundo.

Com a ajuda do pai espiritual, o Frei Carlos Acacio Gonçalves Ferreira, que vem da Amazônia, Antonio fala ao Vatican News sobre uma realidade marcada por um “ambiente familiar”, por um “intercâmbio entre os participantes”, geralmente cerca de quinze pessoas, “cada uma, então”, explica ele, “envolve as outras ‘por contágio'”: um contágio que, mesmo em uma época de pandemia, nesse contexto ganha uma nova luz.

O padre espiritual do Círculo, Frei Carlos

O Círculo, diz ele, “é baseado em três pilares. O primeiro é a oração: na oração percebemos a contemplação da beleza que nos cerca e, ao mesmo tempo, tentamos escutar o grito da terra, o grito dos pobres. Depois, há um momento de reflexão sobre os nossos estilos de vida, e após o momento de ação, com algumas propostas. O Círculo torna-se quase um ‘agorà’, no qual todos fornecem informações, por exemplo, sobre o uso de detergentes, sobre a limitação do consumo de plástico, sobre o desperdício de carne, e então essas reflexões são transformadas em ações concretas”.

O Círculo torna-se, assim, num “lugar de experimentação” onde, por exemplo, experimentamos detergentes produzidos com materiais “orgânicos”, “não químicos”, mas também “de reflexão” sobre as repercussões dos nossos hábitos no meio ambiente. Por exemplo, ele lembra, “durante a Quaresma do ano passado – também dedicada ao ‘jejum do consumo irresponsável’ – após uma missa do nosso pároco, projetamos um vídeo sobre o carbono gerado pela produção intensiva de carne, que depois determina as emissões de gases de efeito estufa”. E ainda, “criamos um pequeno blog dedicado à redução do uso do plástico em várias áreas, por exemplo, em embalagens de presente, com contribuições preparadas pelos nossos jovens”.

A Casa “Regina della Pace”

Autor de “Vivi Laudato si'”, um livro sobre as raízes franciscanas da encíclica do Papa Francisco, e formador de Animadores de Laudato si’, movido pelo chamado à ecologia integral para colocar-se a serviço da comunidade, Caschetto relata como entre as atividades do Círculo de Assis há também a colaboração com várias associações, em particular, com uma fundação, a Casa “Regina della Pace”, “que acolhe pessoas necessitadas, pobres, moradores de rua e também peregrinos: iniciamos juntos um caminho que nos chama à ação concreta”. Ele fala em “apoiar a Casa, que está localizada na área de San Damiano, perto do lugar onde São Francisco abraçou o leproso, e que é dirigida por duas senhoras com um grande desejo de dedicar-se aos outros, de acolher pessoas que são rejeitadas por todos, em grande dificuldade econômica: Tiziana, de Bergamo, tem uma bela história ligada a uma conversão ecológica com a Amazônia e doou a Casa “Regina della Pace” de sua propriedade para acolher os necessitados. A outra se chama Rosaria e é uma mulher de grande oração”.

Para os membros do Círculo Laudato si’ é antes de tudo uma questão de assegurar um serviço de acolhida aos hóspedes da Casa: o número, continua Caschetto, “é sempre variável, mais ou menos são cerca de dez pessoas, às vezes acontece de ter 15-20 quando há peregrinos”.

Iniciativa Laudato si’ do Círculo de Assis

Em setembro do ano passado, durante o Tempo da Criação 2020, também foi inaugurado uma Horta Laudato si’, na “simpatia” da natureza de San Damiano, lembra Antonio. “Demos vida a esta horta num terreno da Casa ‘Regina della Pace’: não separamos a terra em lotes, mas a colocamos em comum, trabalhando-a e compartilhando os frutos da terra entre as pessoas que precisam dela e os participantes do Círculo”.

A Horta Laudato si’

A ideia por trás da iniciativa foi mais uma vez a de “contágio”: aqueles que trabalharam naquela terra “serão um estímulo para aqueles que não a trabalharam, mas que se beneficiaram dos frutos da terra, recebendo incentivo para se comprometerem com a próxima semeadura”, assegura o coordenador do Círculo. “É um processo educativo que tentamos realizar, envolvendo também escolas, paróquias e peregrinos”.

No verão passado, por exemplo, envolvemos um grupo de peregrinos no projeto da horta – cerca de quinze jovens – que tinham vindo de Pordenone para um percurso de espiritualidade em San Damiano: permanecendo por vários dias, eles expressaram o desejo de nos ajudar. E assim eles trabalharam a terra por meio dia e tiveram a alegria de plantar a primeira semente, uma oliveira em memória da sua passagem”.

Diálogo ecumênico

O Tempo da Criação “foi um tempo especial” para o Círculo Laudato si’ de Assis cujos desenvolvimentos, recorda Antonio Caschetto, são vividos todos os dias. “Teve uma oração ecumênica com o bispo de Assis, dom Domenico Sorrentino, e com diferentes realidades ecumênicas, os anglicanos, os ortodoxos. Foi um trabalho coral e envolveu tanto Assis quanto Cannara, em particular Piandarca, o lugar do Sermão das Aves de São Francisco.

Tentamos ser um fermento para a Igreja, mesmo que de forma discreta: quando as conexões são criadas, é importante que elas continuem durante todo o ano. E a continuação dessa oração ecumênica foi entregar plantas, pequenas árvores, a certas realidades que trabalham pelo cuidado da nossa Casa Comum”, com a qual o compromisso continua também hoje em sinal daquela colaboração como instrumentos de Deus desejada pelo Papa.


Fonte: Vatican News (texto de Giada Aquilino )

(Vídeo gravado antes das últimas medidas adotadas para enfrentar a emergência da Covid-19)