Os últimos momentos da vida de São Francisco
03/10/2015
Érika Augusto
São Paulo (SP) – A bonita Igreja de São Francisco das Chagas recebeu na noite deste sábado mais uma edição do Trânsito de São Francisco. É um costume celebrar na noite do dia 3 de outubro a morte do santo de Assis.
Neste ano os jovens vocacionados e a Jufra das Chagas foram os encarregados da preparação da celebração, que contou com a adesão de muitos fiéis, que vieram participar deste momento significativo. Os frades das 4 fraternidades de São Paulo estavam presentes (Vila Clementino, Pari e São Francisco).
As Irmãs Franciscanas de Ingolstadt conduziram a celebração, que foi animada por alguns cantos e reflexões. A homilia foi proclamada pela Ir. Inês dos Santos Nascimento, que partilhou com os presentes um texto muito poético, escrito em forma de carta, como se fosse ditada por Clara de Assis.
Ela começa: “Meu querido e amado Francisco, a morte me traz a escuridão do túmulo, mas me faz memória do túmulo vazio que Maria Madalena encontrou no dia da ressurreição. Sinto sua falta, Francisco. Tenho o vazio que a morte nos trás, mas creio que está presente ainda mais na minha vida, na minha missão e carisma.”
A carta continua, abordando pontos importantes da vida e carisma dos dois santos. O sentimento que se traduz é de alegria e louvor. Não há tristeza, luto, na passagem de São Francisco de Assis. Não cabe tristeza neste momento, pois Francisco sempre tratou a morte com a mesma alegria com que tratava a vida. A proximidade de Cristo, a certeza da ressurreição, nos dão a alegria de celebrar este momento.
A carta termina com uma frase que convida a todos a continuar o ideal do santo de Assis. “Mostra-nos que ainda é possível viver a tua pobreza, a tua mística, a fraternidade universal.”
Em seguida todos foram convidados a se sentarem para assistir ao momento mais aguardado da noite, a encenação do trânsito. Os jovens vocacionados entraram na igreja carregando Gabriel Nogueira, que foi o escolhido para representar São Francisco de Assis neste ano.
A encenação transcorreu em clima de oração. Frei Alvaci Mendes da Luz narrou os momentos principais, onde Francisco de Assis pede para estar com seus primeiros companheiros para se despedir e deixar seus últimos pedidos para a ordem.
O silêncio e a emoção tomaram conta dos presentes. A encenação transcorre até o momento final da vida de São Francisco, onde os jovens retornam então para a entrada da igreja, desta vez com o corpo chagado do santo, carregado numa padiola.
Tudo encenado com muita simplicidade, mas com muita comoção. Os cantos ajudaram os presentes a entrarem no clima de oração. Ao final da celebração todos se saudaram com muita alegria, desejando uma feliz festa de São Francisco de Assis. Todos foram convidados para um lanche, que foi preparado no corredor lateral da Igreja da Ordem Franciscana Secular.
ÍNTEGRA DA CARTA
Queridos Irmãos e Irmãs! Paz e Bem!
Carta de Santa Clara para reflexão do Trânsito de São Francisco.
Meu querido e amado Francisco!
A morte me traz a escuridão do túmulo, mas me faz memória do túmulo vazio que Maria Madalena encontrou no dia da ressurreição.
Sinto sua falta Francisco, pelo vazio que a morte traz, mas creio que estás presente ainda mais na minha vida, na minha missão e Carisma.
Louvo ao Pai de Jesus Cristo pela minha vocação. Louvo a Jesus Cristo que se fez caminho na pobreza. Louvo com alegria a Francisco que mostrou que é possível viver o Evangelho na Pobreza e pureza de coração.
Faço memória dos nossos encontros Francisco, nossos abraços, nossos diálogos, nossos olhares e todo amor humano e divino presente em nós.
Francisco querido, morto na tarde, mas vivo no Espírito. Quero fazer a vontade do Pai e a tua, meu bem aventurado Francisco. Ser tua “plantinha” foi o meu existir na servidão de Amada de Deus Pai em Jesus Cristo Pobre, espelho da Eternidade. Ser a serva na pobreza de São Damião.
Francisco me mostrou que o caminho para Cristo é a pobreza e eu nunca deixei de viver este privilégio.
Pobre e amado Francisco, tu estás vivo, és real e trago em minha memória tua sensibilidade com a vida, com a existência mortal, pequena e pecadora. Tudo que contemplava era motivo para louvar o grande, onipotente e bom Senhor! E louvava! Deus está presente em toda criatura. Puro coração!
Não sei falar de Deus Pai, do Cristo Esposo, sem lembrar de Francisco.
Francisco! Quanto mais me alimento do Cristo Crucificado, mais abro minha mente, alma e coração para o sofrimento que hoje passamos:
- O sofrimento da indiferença pela criação de Deus;
- O sofrimento do individualismo, que escraviza;
- O sofrimento da superficialidade que carrega o fardo do medo de se encontrar com o mais profundo do ser;
- Francisco, Irmão de todas as criaturas;
- Francisco livre para ser servo de toda criatura;
- Francisco que adentra no “Convento do monte Alverne, para usufruir da grandeza do Cristo Pobre e Crucificado”;
- Francisco que se encontra com a Irmã morte para deixar o legado de uma existência eterna;
Estás em tudo, e em todos Francisco, dizendo que é possível viver apaixonadamente o Evangelho, é possível trazer Jesus para um mundo que necessita do maior sonho do Crucificado: o Reino de Deus!
Tu existes Francisco, em todo ecossistema que sofre a dor do parto, em meio a dragões do poder que buscam engolir vidas para satisfazer um sistema egoísta cheio de sofrimento.
Ainda é possível te viver Francisco! És um projeto de vida! Sua morte nos diz que fizeste a tua parte, e nos convoca a buscarmos viver a nossa parte, hoje.
Pai Francisco!
- Olhe pelos consagrados (as), neste ano tão belo, dedicado à Vida Consagrada;
- Olhe para o Frades Menores;
- Olhe pelas Clarissas;
- Olhe pela Ordem Franciscana Secular, pelas famílias, leigos consagrados que buscam viver o Evangelho;
- Olhe pela JUFRA;
- Olhe pelos simpatizantes;
- Olhe pela Igreja, na pessoa do nosso querido Papa Francisco.
Mostra-nos que ainda é possível viver a tua pobreza, tua mística, a fraternidade universal.
Amém!
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