Jesus se faz profeta e profecia
30/01/2015
Frei Gustavo Medella
No tempo em que telefone em casa era luxo e que celular não existia nem no mundo da imaginação, era muito comum que a pessoa desse o telefone de um vizinho para que houvesse alguma possibilidade de comunicação em caso de necessidade. Era o chamado telefone de recado. O vizinho atendia, tomava nota e levava a informação, a notícia ou o pedido a quem de direito, geralmente sem se envolver muito com o assunto que estava sendo tratado.
A missão do Profeta, embora tenha alguma semelhança com a tarefa deste vizinho generoso, ultrapassa de longe este ofício de portador de um recado. Se o vizinho leva a informação e, uma vez passado o recado, não tem mais nenhuma ligação com aquela mensagem, aquele que foi escolhido por Deus para o nobre exercício da profecia, além de fiel portador das Palavras inspiradas e enviadas pelo Senhor, também assume um compromisso inevitável com esta Palavra e com sua força transformadora.
O Profeta não é mero “garoto de recados”, mas alguém que se reveste de uma missão que compromete sua vida por inteiro, tanto que, conforme se lê no trecho bíblico de Deuteronômio, “O profeta que tiver a ousadia de dizer em meu nome alguma coisa que não lhe mandei ou se falar em nome de outros deuses, este profeta deve morrer” (Dt 18,20). É questão de vida ou morte, para a qual não existe meio termo.
E Jesus compreendeu com perfeição esta mensagem. Foi ao mesmo tempo Profeta e Profecia. Mensageiro e Mensagem encarnada, que chama para si a inteira responsabilidade daquilo que o Pai dele deseja. E desta fidelidade à toda prova emana a autoridade que Jesus manifesta e motivo de admiração e comoção entre seus contemporâneos (Cf. Mc 1,27). Jesus não tem o que temer, porque não tem apegos secundários. Seu foco está na missão que o Pai lhe confiou e por isso tem força para enfrentar o mal que se manifesta no mistério dos espíritos demoníacos e na postura hipócrita, orgulhosa, egoísta e prepotente dos mestres da lei e fariseus.