Jesus deseja ser acolhido na figura dos pequenos
18/09/2015
Frei Gustavo Medella
Era aniversário da criança… Estava completando quatro anos e o padrinho, meio apertado de dinheiro naquele fim do mês, parcelou a perder de vista uma superboneca, caríssima, toda automatizada que chorava, mamava, bebia água, dava arrotinhos, mexia as mãos e as pernas, chamava “mamãe”. Estava ansioso para ver a reação da afilhada quando recebesse aquele dispendioso regalo. Chegou o grande dia! O padrinho teve que ir de táxi para a festa, pois seria muito incômodo carregar aquela enorme caixa envolta em papel e fitas coloridas no ônibus. Ao se encontrar com a menina, entregou-lhe, ansioso, o embrulho. A menina até agiu com entusiasmo, rasgou o papel, tirou a boneca da caixa e ficou com ela ao colo por uns cinco minutos. No entanto, logo deixou o sofisticado brinquedo de lado e voltou a brincar com a mola maluca de R$1,99, que ela nem sabia de quem tinha ganho, mas que sem dúvida foi o brinquedo do qual ela mais tinha gostado.
A inocência da criança permite a ela viver seus valores e suas escolhas de forma mais livre, de acordo com que lhe indica o coração. Tendem a ser mais espontâneas e transparentes. Não se prendem muito ao valor material, ao status, à fama ou ao número de súditos que têm ou deixam de ter sob seu comando. Não desejam ser mais do que ninguém. Querem é ser felizes. São livres.
Também os adultos desejam a felicidade, mas com frequência cometem equívocos ao buscá-la. Tudo isso, porque, conforme explicita São Tiago em sua carta, pedem mal, buscando apenas satisfazer os próprios prazeres (Cf. Tg 4,3). Vivem se medindo para se saber se podem mais ou menos do que seus pares, se são muito ou pouco poderosos, tal qual os discípulos de Jesus discutiam no caminho no qual atravessavam a Galileia até Cafarnaum (Cf. Mc 9,34). Estavam iludidos e ainda não tinham compreendido os ensinamentos do Mestre. Com paciência, mais uma vez Jesus derruba aquela arraigada expectativa de sucesso e poder que tomava o coração dos seus seguidores: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Mc 9,35).
Em vez de se colocar como o “maioral” aquele que tem solução para tudo (e de fato é e tem), Jesus assume a fragilidade da criança – em sua inocência, dependência e transparência – e manifesta o desejo de ser acolhido nos pequenos da humanidade: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo” (Mc 9,37). Mais um ensinamento precioso que recolhemos na Palavra de Deus.