Respostas rápidas para desafios urgentes
22/10/2018
Frei Gustavo Medella
Cidade da Guatemala – A esperança de que o III Congresso Franciscano Missionário da América Latina e do Caribe apresente propostas concretas e que possam ser executadas a curto prazo foi a marca principal da abertura deste encontro internacional. Os 140 congressistas, entre frades e leigos, chegaram à Cidade da Guatemala durante o fim de semana e, nesta segunda, dia 22, todos estavam a postos para iniciar o encontro.
Nas palavras de boas vindas, o Ministro Provincial da Província Nossa Senhora de Guadalupe (América Central e Panamá), Frei Edwin Alvarado Segura, destacou a generosidade das pessoas simples ao partilhar a experiência da confecção das bolsas que foram entregues aos missionários: “Encomendamos estas sacolas, um artigo típico da Guatemala, a uma família simples. Definimos a quantidade e combinamos o preço. Quando soube que seria distribuídas a participantes de um congresso franciscano de evangelização e missão, quiseram também ajudar e cobraram apenas a metade do preço”, contou. A partir deste exemplo concreto, Frei Edwin convocou os frades e leigos a trabalharem juntos por uma evangelização comprometida com a realidade. “Os leigos nunca devem dizer que trabalham para os frades. Trabalham com os frades”, frisou.
Em relação às expectativas em torno do Congresso, o Provincial disse que espera o surgimento de sugestões concretas para curto prazo: “As questões que temos aqui são urgente e precisam de respostas rápidas. Desde a última semana, por exemplo, cinco mil irmãos de Honduras caminham em direção aos Estados Unidos por conta da falta de condições de vida em seu país. A questão migratória não é uma teoria. É de verdade!”, alertou.
DIVERSOS CENÁRIOS E MUITOS DESAFIOS
Em sua fala introdutória, o Secretário Geral para a Evangelização e Missão, Frei Luís Gallardo, elencou a série de desafios que tocam diretamente a missão evangelizadora da Ordem. Diante destas provocações, Frei Luís enfatizou o lema do III Congresso: “Peregrinos descalços como irmãos de todos”. “Peregrinos porque somos caminhantes e temos a certeza de que Deus caminha conosco. Descalços porque desejamos estar ao lado dos pequenos, dos mais pobres, numa atitude de despojamento”, explicou.
Ao abordar os desafios e as possíveis respostas, o Secretário para a Evangelização enumerou seis cenários:
1) Religioso – Diante de uma religiosidade marcada pelo individualismo e pela busca de satisfação pessoal, também do drama do fanatismo religioso e de uma religião de comércio, somos chamados a uma pastoral atenta à realidade, comprometida com a profecia, com os jovens, em postura de diálogo e serviço.
2) Franciscano – A debilitação dos projetos missionários, o provincialismo, a carência de irmãos dispostos em abraçar as iniciativas missionária devem ter como resposta a retomada da Alegria do Evangelho, a superação do clericalismo, a missão compartilhada com os leigos, a evangelização em fraternidade.
3) Político, Social e Econômico – Diante da corrupção, do aumento da pobreza e da injustiça social, a busca do cultivo de uma consciência política e de um engajamento social maduro que supere a ingenuidade.
4) Migratório – O desafio do grande número de refugiados por causa da miséria, das guerras internas, dos desastres climáticos, dos governos autoritárias deve ter como resposta um olhar comprometido das fraternidades para com os irmãos e irmãs que vivem esta situação.
5) Ambiental – Frei Luís recordou que a Terra, nossa “Pacha Mamma está ferida e sangra rapidamente”. Este desafio demanda como resposta o promoção de um estilo de vida sóbrio e sustentável a partir de nossas fraternidades.
6) Tecnológico – Dentre os principais desafios em relação ao rápido avanço da tecnologia estão o risco da substituição da mão de obra humana pela máquina e também os novos tipos de relação inaugurados pela internet e pelos novos aparelhos. Testemunhar o Evangelho neste novo ambiente é uma urgência para os frades e fraternidades.
Frei Luís apontou ainda o pontificado do Papa Francisco como fonte de inspiração para a Missão Evangelizadora da Ordem. Entre as tarefas urgentes, o Secretário Geral elencou: recuperar a mística e a espiritualidade de Francisco, partir sempre do Evangelho, cultivar uma profecia que desperte a consciência crítica diante da realidade e apostar numa ampla postura de diálogo com governos, movimentos, tradições religiosas e culturas.
DEFINIDORES TRAZEM SAUDAÇÃO DO MINISTRO GERAL
Santo Oscar Romero e os mártires de QuiriguáO Congresso Franciscano acontece num momento particular da Igreja na América Central e Caribe, com a canonização no último dia 14 de outubro de Santo Oscar Romero e, no próximo sábado, dia 27, quando serão beatificados os mártires Pe. Tullio Maruzzo, sacerdote franciscano, e o leigo Luis Obdulio Arroyo Navarro, assassinados por ódio à fé em 1º de julho de 1981, na Guatemala. Os participantes do Congresso estarão presentes na celebração. Pe. Maruzzo chegou à Guatemala em janeiro de 1960, procedente da Itália. Serviu em diferentes paróquias até que foi enviado à San José, que contava com 50 aldeias. O sacerdote as visitava pelo menos três vezes por ano. Simpático, passava muitas horas ouvindo os camponeses e os conhecia pelo seu nome. Diante do “roubo” das terras dos camponeses na região de Izabal, Pe. Maruzzo começou ajudá-los, a fim de que legalizassem as terras que cultivavam. Mas isso não passou despercebido para os militares e comissários que queriam ficar com as terras que já tinham sido cultivadas; por isso, começaram a ameaçá-lo. Logo depois, caluniaram e acusaram Pe. Tulio de colaborar com a guerrilha. Os seus superiores, temendo pela sua vida, transferiram-no para a Paróquia do Sagrado Coração de Quiriguá. Pe. Tulio não estava de acordo em abandonar seu rebanho; mas obedeceu, em 14 de maio de 1980. As calúnias e ameaças continuaram nesse lugar. Em 1º de julho de 1981, às 22h30, depois de acompanhar alguns dos fiéis até a sua casa na Aldeia Pueblos Nuevos, Pe. Tulio Maruzzo e o leigo Luis Obdulio Arroyo Navarro, que dirigia o carro, caíram em uma emboscada e foram assassinados. |
Os Definidores Gerais para a América Latina, o brasileiro Frei Valmir Ramos e o mexicano Frei Ignácio Cejo, também fizeram uso da palavra. Frei Valmir trouxe as ressonâncias do Conselho Plenário da Ordem, realizado em Nairóbi, no Quênia, no primeiro semestre deste ano. Reforçou um aspecto que foi bastante frisado no CPO, de que a Ordem Franciscana é uma fraternidade contemplativa em missão. “Devemos sempre ter presente a centralidade de Deus em nossa vida e missão. E a vida de oração é que mantém nossa proximidade com Deus”, reforçou. Apontou ainda três indicações do Conselho que devem orientar a vida das fraternidades em toda ordem: O aprofundamento da identidade carismática; a proximidade com os jovens e o Cuidado com a Casa Comum.
Frei Ignácio Cejo trouxe a saudação do Ministro Geral, Frei Michael Perry: “Frei Michael está no Canadá, participando de um Capítulo extraordinário que trata sobre a unificação de duas províncias naquele país. Ele envia saudações”, explicou. Frei Ignácio ressaltou a missão evangelizadora como razão de existir da Ordem e fez um apelo para que as reflexões e encaminhamentos nascidos neste congresso cheguem aos frades e às fraternidades.
O III Congresso Franciscano Missionário da América Latina e do Caribe ocorre na Cidade da Guatemala, sede da Província Franciscana da América Central e do Caribe. O I Congresso ocorreu em 2008, em Córdoba, na Argentina; e o II Congresso, em Canindé, no Brasil, em 2013. O tema deste ano é: “Novos cenários, novos desafios: Cuidado da Criação, Mobilidade Humana, Cultura da Paz.