Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Homilia de Frei Fábio

22/01/2016

Notícias

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Prezados Irmãos. “O Senhor vos dê a paz”

O Evangelho de hoje nos fala do chamado que Jesus fez dos doze apóstolos a fim de, a partir deles, formar o novo povo de Deus. Este fato, remete-nos também ao chamado dirigido por Jesus a cada um de nós para o seu seguimento na vida consagrada franciscana.

Penso que todos nós alguma vez já nos perguntamos: por que justamente eu fui chamado? Talvez, entre os meus conterrâneos havia gente mais inteligente, mais capaz, mais santa do que eu. Então, por que eu, por que você, por que a mim?

Trata-se, como sabemos, de uma pergunta que não tem uma resposta lógica, racional, pois, sendo o chamado uma iniciativa divina, pertence ao mistério insondável de Deus e, portanto, nunca poderá ser totalmente explicado por nós.

Por isso, o máximo e o melhor que podemos dizer para respondermos a esta pergunta é aquilo que nos foi dito por Marcos no início do Evangelho: “Jesus chamou os que Ele quis”, ou seja, nos chamou simplesmente porque Ele assim o quis, assim o desejou. O chamado é expressão da liberdade divina e, portanto, manifestação máxima do seu amor por cada um de nós. Numa palavra, o Senhor nos chamou por que nos amou, com um amor de predileção.

Desta primeira pergunta, então, surge quase que naturalmente uma outra: para que o Senhor nos chamou?

Novamente é Marcos a nos ajudar: “para que ficassem com Ele e para enviá-los a pregar”

Ou seja, o Senhor não nos chamou para fazermos muitas coisas, para necessariamente realizarmos grandes obras. O Senhor nos chamou simplesmente para vivermos a dinâmica do encontro e do envio, do vinde e do ide. Do vinde para sempre mais pertencermos a Ele, para nos colocarmos na Sua presença, para deixa-Lo viver em nós, para aprendermos d’Ele a sermos mansos e humildes de coração, para sermos seus discípulos. Do ide, para sermos presença d’Ele no mundo de hoje como irmãos e menores, e para anuncia-lo com as palavras e a vida a fim de que, como nos recorda S. Francisco no início da Carta a Toda Ordem,  possamos dar testemunho da Sua voz e fazermos saber que não há Onipotente senão Ele (CTO 9). Em uma palavra, Jesus Cristo nos chamou para sermos seus discípulos/missionários. Eis no que consiste a grandeza e o mistério do chamado que o Senhor nos fez…

Porém, esse mistério insondável, encontra-se com um outro grande mistério: o da nossa liberdade, expressão máxima da nossa singularidade, daquela resposta ao chamado de Deus que somente cada um de nós Lhe pode dar.

Daí porque parece-me não ter sido por acaso que o evangelista citou nominalmente cada um dos doze apóstolos, como para nos dizer que em cada pessoa a correspondência à iniciativa do amor de Deus se dá de um modo único, todo próprio que, no fundo, depende de como cada um de nós usa e dispõe ao Senhor da própria liberdade.

De fato, o mistério da nossa liberdade pode, por exemplo, levar-nos a fazer uma experiência de seguimento parecida com aquela de Pedro, marcada sim por dúvidas e até por repetidas negações do amor do Mestre, mas, cuja última palavra foi a certeza do Seu amor incondicional, a confiança absoluta na Sua misericórdia.

Mas, nossa liberdade pode também levar-nos a fazer a experiência daquele discípulo que, segundo as palavras finais do Evangelho, foi quem “depois o traiu”. Depois o traiu porque antes foi se afastando sempre mais do Mestre, pertencendo sempre menos a Ele, deixando sempre mais de ser um discípulo/missionário até que, não obstante o belo discurso, não se importava mais nem com o mestre nem com o pobres, mas, somente com a bolsa comum da qual ele tinha se apropriado. E por fim, trai ainda mais o mestre, desesperando do Seu perdão.

Irmãos:

Agradeçamos de coração pelo chamado que o Senhor nos fez e nos faz sempre de novo para sermos seus discípulos missionários por pura gratuidade do seu amor por nós, sem nenhum mérito da nossa parte.

Peçamos-lhe a graça de usarmos da nossa liberdade para respondermos do melhor modo possível a esse chamado neste nosso tempo, como irmãos e menores. E que, não obstante nossas negações e talvez até mesmo das nossas traições, jamais desesperemos da sua misericórdia que nos dará sempre a graça de recomeçarmos a amá-Lo, de recomeçarmos a segui-Lo.

Assim seja.