Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Grafite em São Paulo homenageia vítimas de Brumadinho

01/02/2020

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Um prédio da região da Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, homenageia as vítimas de Brumadinho, usando como matéria-prima restos do rompimento da barragem da Vale, em Minas Gerais. Com o título “Operários de Brumadinho”, esse grafite realizado pelo paulistano Mundano com lama que vazou do local da tragédia e com uma releitura da obra de Tarsila do Amaral. A obra final tem mais de 800 m2 e é uma releitura de “Operários” (1922) da artista plástica paulista. A obra de Mundano pode ser vista na lateral do Edifício Minerasil, em frente ao Mercado Municipal de São Paulo.


Confira o depoimento de Mundano no seu Instagram.

“Ontem falei dos desafios de pintar em altura, com lama tóxica e com um tema complexo, mas meu maior desafio como artista foi a responsabilidade de fazer uma releitura de uma das obras mais icônicas da arte brasileira : “Operários” da Tarsila do Amaral, 1933. Ela é a primeira obra a trazer à tona a diversidade do povo brasileiro com 51 rostos. É um símbolo do modernismo e da fase social da Tarsila, que começa depois da sua exposição em Moscou em 1931, sua prisão durante o contexto do governo Getúlio Vargas. Tarsila representou operários e operárias vindo de diversas partes do país e de diferentes origens que vieram pra São Paulo após a crise de 1929. A obra da destaque paras faces cansadas e desesperançadas dos trabalhadores e trabalhadoras com o olhar fixo frontal e olheiras expressivas. Ao fundo, nitidamente tem uma fábrica poluindo o ar que fica acima de todos operários. Pra representar essa obra era necessário atualizá-la para 2020, e o louco é que 87 anos depois, tirando o aumento da poluição e sendo bem realista: pouco mudou. A cidade de São Paulo continua atraindo cada vez mais pessoas das origens mais diversas e a classe operária continua explorada. Mesmo com tanta pertinência da obra atualmente eu ainda tinha minhas dúvidas se conseguiria fazê-la nessa escala e com lama. Foi quando estive no protesto da Câmara Municipal de Brumadinho em dezembro e olhei as fotos dos rostos das vítimas sendo colocadas por familiares lado lado e com o escrito “vale assassina” na parte superior. Foi ali que enxerguei e senti a obra “Operários” e me senti pronto para o desafio. Não usei fielmente os rostos das 272 vítimas, nem dos 11 desaparecidos e dos atingidos que estavam ali pedindo Justiça, por ser delicado e o meu recorte da obra só ter 22 rostos . Mas suas expressões eu nunca mais esqueci e fizeram parte da base das faces mescladas com as da obra original e com os traços de trabalhadores que encontrei durante a produção indo de metro, andando na rua e com o público do mercadão e todos e todas dos bastidores das incontáveis frutas que chegam ali 24 hs por dia e alimentam essa cidade . Os operários se identificaram com a obra e os atingidos agradeceram”.