Gesto marca a histórica Celebração de Posse dos franciscanos no Santuário Frei Galvão
11/04/2021
Guaratinguetá (SP) – “Eu gostaria de pedir licença a vocês para quebrar os protocolos, mas nós vamos tirar as nossas sandálias. Fazemos isso, assim como Moisés tirou as sandálias dos seus pés porque tocavam o solo sagrado. Nós também, ao iniciarmos essa missão, chegamos de pés descalços, de corações abertos e olhos elevados para contemplar o mistério que se manifesta no solo sagrado de tantos devotos de Frei Galvão”. Foi com este gesto simbólico que a nova Fraternidade Franciscana da Província da Imaculada Conceição – Frei Diego Melo, Frei Roberto Ishara e Frei Leandro Costa -, assumiu o Santuário Frei Galvão neste domingo (11/4), às 18 horas, em Celebração Eucarística presidida pelo Arcebispo Dom Orlando Brandes, tendo ao seu lado o Ministro Provincial da Província da Imaculada, Frei César Külkamp.
Este momento histórico foi visto no Brasil inteiro através das transmissões da TV Frei Galvão do Santuário e TV Aparecida. Devido às restrições sanitárias, a celebração teve a presença de sacerdotes da Arquidiocese, frades de toda a Província, religiosos e religiosas, seminaristas e lideranças do Santuário.
O rito de posse aconteceu após o Ato Penitencial, quando Frei Roberto fez a leitura da provisão que nomeou Frei Diego como Reitor do Santuário Frei Galvão. Em seguida, o novo reitor fez o juramento de fidelidade com as mãos postas na Bíblia. O Pe. José Carlos de Melo, último Reitor do Santuário, confiou as chaves do Santuário e do Sacrário à primeira Fraternidade Franciscana deste Santuário. Depois da profissão de fé, o povo cantou a Ladainha de Frei Galvão e Frei Diego fez a renovação das promessas sacerdotais.
COMUNIDADE MISERICORDIOSA
No Domingo da Misericórdia, Dom Orlando destacou com muita ênfase o frade misericordioso que era Frei Galvão. “A primeira leitura falou de uma comunidade misericordiosa. Nós falamos tanto da Igreja misericordiosa e eu quero pedir a Santo Frei Galvão que esta comunidade aqui, com Frei Diego, Frei Leandro e Frei Roberto, seja uma miniatura da comunidade misericordiosa com este povo aqui do Santuário e na nossa Arquidiocese”, pediu o Arcebispo, que no último dia 5 de março aceitou a proposta de assunção do Santuário de Frei Galvão pela Província pelos próximos 30 anos.
Segundo D. Orlando, Santo Frei Galvão foi muito misericordioso: com os doentes, com as parturientes, com aqueles que estavam morrendo. “Por isso creio que Frei Galvão deve estar abençoando muito os que estão morrendo na nossa pátria por essa pandemia”, observou. Segundo ele, Frei Galvão foi misericordioso com aquele soldado condenado à forca injustamente. “E o defendeu misericordiosamente e foi expulso de São Paulo por ser misericordioso. Quanta misericórdia de Frei Galvão com os pobres. Ele mesmo pedia esmolas e essas mesmas esmolas ele repartia com os mais pobres”, recordou.
Dom Orlando lembrou de momentos marcantes da vida de Frei Galvão sempre ligados à misericórdia. “Como não perceber Santo Frei Galvão misericordioso com os operários e ele mesmo ajudando a construir o mosteiro e por isso é Padroeiro da construção civil. Que ele abençoe a construção deste novo Santuário a ele dedicado e que já está há tantos anos em andamento”, pediu. Ele também agradeceu ao sr. Cardeal Dom Raimundo Damasceno de Assis, que “foi inspirado e tudo fez” para iniciar este Santuário. “Uma das partes mais difíceis coube a ele, o terreno, toda a parte jurídica e todo o planejamento do Santuário, que já está pronto. Que ele se sinta, então, alegre e por nós agradecido”, recordou.
Dom Orlando também agradeceu aos padres diocesanos que trabalharam no Santuário e que levaram, “com as suas forças até aqui, a fé e o acolhimento do povo de Deus, com muita misericórdia”. Ele também agradeceu aos benfeitores, os doadores dos terrenos, os apoiadores, leigos e leigas.
“Quero agradecer aos peregrinos que do Brasil inteiro vêm aqui e daqui saem cheios da graça de Deus, alegres e felizes com a alegria franciscana. E claro, por fim, agradecer os freis franciscanos que hoje assumem a nova etapa histórica deste Santuário. Pela intercessão de São Francisco e São Frei Galvão, querido Pe. Provincial, agradeço a vocês terem solicitado este santuário. E certamente é coisa da Divina Providência. E agradecer o Santuário Nacional, que, com bom diálogo entre os franciscanos e os redentoristas, tudo está sendo demonstrado que a misericórdia é que vai guiando os nossos passos”, disse, lembrando também de Frei Hans Stappel, que foi um grande incentivador da criação deste Santuário.
ASSINATURA E PLACA COMEMORATIVA
Após a comunhão foi assinado e formalizado o convênio entre a Província da Imaculada Conceição do Brasil e a Arquidiocese de Aparecida, que confia aos frades franciscanos os cuidados pastorais e administrativos deste Santuário de São Frei Galvão. Em seguida, D. Orlando e Frei César fizeram juntos o descerramento da placa comemorativa fixada ao lado da imagem principal de Frei Galvão, marcando mais uma etapa importante na história deste Santuário. Dom Orlando chamou o Pe. Eduardo Catalfo, reitor do Santuário de Aparecida, e Frei Hans, fundador da Fazenda Esperança, para serem testemunhas na assinatura do documento.
Ana Paula, falando em nome da comunidade, disse que há mais de 30 anos dava para contar nos dedos as pessoas que rezavam na Capelinha São José. Hoje, tudo mudou: “Nossa gratidão a todos os pastores que passaram por este Santuário”. E desejou as boas-vindas à nova Fraternidade pela intercessão de Frei Galvão.
O Cardeal Arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, constituiu canonicamente em dezembro de 2010 o Santuário de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão. O decreto foi assinado no dia 8, data da solenidade da Imaculada Conceição.
“VOCÊS NÃO ESTÃO SOZINHOS AQUI”
Frei César fez as saudações e agradecimentos e desejou a todos a Paz e o Bem. “Eu venho aqui nesta noite depois de todos esses momentos celebrativos partilhar com vocês a grande alegria e profunda gratidão que enche todo o coração por todo o bem que o Senhor Deus realizou e por tanto bem que tem realizado na vida de tantas pessoas”, disse.
“E entre essas pessoas, quero com todo coração agradecer ao nosso Arcebispo Dom Orlando pela confiança que teve na nossa Província, nos nossos frades, para que pudéssemos vir e assumir, juntamente com toda a Arquidiocese, este trabalho evangelizador deste Santuário. Quero agradecer também aos confrades desta primeira Fraternidade, Frei Diego, Frei Roberto e Frei Leandro, que aceitaram logo no primeiro convite o chamado para vir aqui para este Santuário e servir. E vieram com esta disposição”, destacou.
“Quero dizer para vocês que não estão sozinhos aqui. Vocês três. Vocês lembram que esta decisão, esta disposição de servir neste Santuário foi assumida por toda a Província e por unanimidade pelos frades em Assembleia. Então, todos nós estamos com vocês, neste trabalho, neste serviço, no apoio e em tudo aquilo que a gente puder colaborar. E um último agradecimento às pessoas que já se manifestaram aqui, que são lideranças desta comunidade, os mais diversos que estavam aqui – e todo o povo, os devotos de Frei Galvão, que vêm aqui celebrar a sua fé. Quero dizer que nós frades nos comprometemos com cada um de vocês e numa atitude de verdadeiro serviço, de entrega para a promover a devoção de nosso querido Frei Galvão e de semear a Palavra e a Paz e Bem, como ele mesmo fez e como o próprio Cristo espera de cada um de nós. O Santuário Frei Galvão é casa de vocês. Nós aqui viemos como que pisando numa terra sagrada, para aqui servir. Somos acolhidos e queremos fazer acolhida. Queremos confiar à prece de todos vocês e daqui também nos comprometemos em rezar para que essa missão seja sempre bem cumprida. Muito obrigado, Paz e bem!”, agradeceu o Ministro Provincial.
NOVA FRATERNIDADE SE INSPIRA EM FREI GALVÃO
Frei Diego fez as saudações e os agradecimentos e disse que a fala não era só dele, chamando ao seu lado Frei Leandro e Frei Roberto.
“Afinal é essa fraternidade local que em nome de toda Província assume agora essa missão e com um gesto de profundo respeito a esta cidade, desse Santuário e desse povo de Deus, eu gostaria de pedir licença a vocês para quebrar os protocolos, mas nós vamos tirar as nossas sandálias. Fazemos isso, assim como Moisés tirou as sandálias dos seus pés porque tocavam o solo sagrado. Nós também, ao iniciarmos essa missão, chegamos de pés descalços, de corações abertos e olhos elevados para contemplar o mistério que se manifesta no solo sagrado de tantos devotos de Frei Galvão”, surpreendeu Frei Diego.
Ele contou que por muito tempo a nova Fraternidade ficou se perguntando qual seria a missão nesse Santuário e a resposta eles encontraram na própria vida de Frei Galvão. “Olhando a sua biografia, percebemos que ele assumiu três grandes funções, que Dom Orlando destacou na sua homilia. Frei Galvão, lá em São Paulo, no Convento São Francisco, desempenhou por vários anos os ofícios de porteiro, confessor e pregador. E nós, frades, aqui chegamos porque também queremos ser expressão de acolhida irrestrita neste Santuário. Acolher com amor, sem reservas, despretensiosamente com o coração aberto. Por isso, eu digo a todos vocês e a todo o povo do Brasil: Venham aqui em nossa casa! Visitando a Mãe Aparecida, venham visitar o filho Frei Galvão! Há sempre um lugar reservado para vocês aqui. Um lugar para vocês fazerem um encontro com Deus e com os irmãos”, convidou.
“Afinal, como nós aprendemos com São Francisco, assim ele nos diz: ( Frei Roberto e Frei Leandro tocam e cantam: ‘procurai inspiração divina nos nossos irmãos’)”.
Lembrando que Frei Galvão foi confessor, Frei Diego diz que a Fraternidade quer ser expressão da misericórdia de Deus. “Mais do que sermos confessores, queremos colocar em prática o pedido de São Francisco de que não haja no mundo irmão que pecar, o quanto puder pecar, que após ter visto os nossos olhos se sinta obrigado sair de nossa presença sem obter misericórdia se misericórdia buscou”, sublinhou.
“Além disso, como franciscanos, queremos deixar nos conduzir por Deus, para fazermos misericórdia com os leprosos de hoje, os excluídos, os rejeitados, os que se encontram nas diferentes periferias existenciais, sociais, geográficas e até mesmo religiosas. Em uma frase, colocar em prática o que São Francisco nos admoesta (Frei Roberto e Frei Leandro tocam e cantam: ‘onde existe a misericórdia, onde existe o discernimento, não existe dureza nem a rigidez’)”.
Depois, lembra que Frei Galvão foi pregador. “Temos consciência que nossa consagração deve ser um constante anúncio da boa nova de Jesus. Em temos de instrumentalização da própria Palavra de Deus hoje, nós nos comprometemos em anunciar o verdadeiro Evangelho de Jesus, procurando levar as pessoas ao encontro com Deus encarnado, através de uma fé madura e comprometida. Mais do que Palavras queremos como fraternidade pregar pelo testemunho de minoridade, de obras, atitudes e gestos concretos. Afinal, já nos lembrava nosso querido Santo Antônio (Frei Roberto e Frei Leandro tocam e cantam: ‘a linguagem é viva e eficaz quando são para as obras que falam. Cessem os discursos e falem as obras’)”.
Por fim, segundo o frade, Frei Galvão também nos deixou um legado de ousadia, dinamismo e confiança absoluta em Deus. “Mesmo vivendo em tempos tão difíceis e desafiadores, Frei Galvão não deixou de seguir seus sonhos e utopias. E se hoje ele é patrono da construção civil e arquitetura, é porque no seu tempo ele soube unir toda uma comunidade para construção do Recolhimento das Irmãs do Mosteiro da Luz em São Paulo. As mesmas mãos que incansavelmente se levantavam para abençoar, consagrar e perdoar, também se calejaram para levantar as paredes daquela construção material que na verdade abrigaria uma sólida morada espiritual”, enfatizou.
COMEÇA A CONSTRUÇÃO DO SANTUÁRIO
“Hoje, aqui chegamos. Não trazemos dinheiro, não trazemos recursos. Nosso tesouro é Jesus Cristo e e a nossa riqueza é a fé partilhada no meio do povo, povo esse que certamente vai nos ajudar a realizar um sonho de dar a Frei Galvão um Santuário digno da grandeza de sua santidade. Assim, inspirados pela mesma coragem de Frei Galvão, confiando na divina providência e na solidariedade de tantas pessoas, e desejosos de realizar o sonho de toda esta comunidade gostaríamos de comunicar, agora, oficialmente para todos os devotos e devotas que ainda, neste semestre, estaremos dando início à primeira etapa de construção do novo Santuário do primeiro santo brasileiro. E, por fim, a palavra que transborda é gratidão. Gratidão a todos que fazem parte deste momento e desta história. A todos indistintamente o nosso muito obrigado de coração. Que Deus o retribua por tudo”, completou o Reitor do Santuário.
Antes de encerrar a Santa Missa, D. Orlando fez um lembrete à nova Fraternidade. “Como disse São Francisco: Lavai-vos os pés uns dos outros”.
Moacir Beggo