Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frente das Paróquias e Santuários se reúne em Rondinha

25/05/2018

Notícias

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Frei Clauzemir Makximovitz

Os frades que atuam na maior Frente de Evangelização da Província da Imaculada Conceição, a das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento, reuniram-se na Fraternidade São Boaventura, em Rondinha (PR), no começo da tarde de quarta-feira (23/5) até ontem (24/5), para uma partilha dos trabalhos neste início de ano. Motivados por Frei Germano Guesser, animador desta Frente de Evangelização, e por Frei César Külkamp, secretário de Evangelização e Vigário Provincial, a troca de experiências teve como objetivos as prioridades assumidas no triênio, além dos critérios de uma Igreja em saída, a participação ativa dos leigos em nossos trabalhos e o testemunho franciscano. Um número expressivo de 38 frades participou deste encontro.

A partilha foi bastante rica. Muitas são as iniciativas a partir dos lugares de nossas presenças em resposta às indagações do nosso tempo, com carinho e acolhida à diversidade cada vez maior do povo de Deus. Como Igreja e enquanto franciscanos, esteve também presente a preocupação em procurar resposta à formação de consciência atual, por vezes míope e até com toques de fundamentalismo, veiculada pelas mídias e pelos meios de comunicação de massa. As realidades em saída se mostraram bem concretas, com ações visando acolher e ajudar os menos favorecidos, com enfoque especial aos trabalhos de acolhida de várias minorias, entre elas moradores de rua e imigrantes – cada vez mais uma realidade, mesmo nas cidades pequenas. De um modo geral, nessas atividades, tornamo-nos referência da Igreja dos pobres. Nossos trabalhos têm bastante enfoque no acolhimento e na escuta. O trabalho com as juventudes é sempre uma preocupação. Nesse campo enfrentamos desafios, mas os avanços são sinais concretos de esperança. Há uma clareza de que é necessário criar consciência entre os leigos para que eles assumam um papel de liderança, principalmente nas paróquias, onde os Conselhos e Assembleias devem ser valorizados como autoridade colegiada. Além disso, foram partilhados também vários desafios enfrentados de caráter prático, administrativo e organizacional. Ao final, foram discutidos os pontos mais comuns de nossas presenças, especialmente a acolhida, também nos sacramentos de forma misericordiosa, que tem sido nosso diferencial na missão evangelizadora.

Ressaltou-se algumas iniciativas e preocupações, como as atividades com as juventudes, a possibilidade de se ter leigos liberados para o serviço pastoral, estabelecer um mês missionário nas paróquias, a importância de se trabalhar com um fundo comum entre as comunidades, assumir o catecumenato como modelo de formação para os sacramentos da iniciação cristã etc., e a possibilidade de se dedicar a um espaço, mesmo nas “Comunicações” da Província, para essa troca de experiências e de ideias de atividades.

Num segundo momento, continuando numa metodologia “Ver-Julgar-Agir” para o encontro, seguiu-se à leitura de alguns pontos extraídos da Exortação Apostólica Evangelli Gaudium do Papa Francisco. A reflexão reconheceu as provocações bem diretas do texto à nossa caminhada e ao nosso modo de proceder. Lembrou-se que o Papa, no documento completo, apresenta, após cada análise crítica, um parágrafo mais propositivo, com ações concretas a partir do Evangelho. Causa admiração também a linguagem clara e direta que Francisco usa num documento oficial, que nos toca de forma direta. Por vezes, a preocupação com exigências legalistas de pastoral não atinge as  realidades mais empobrecidas. “Quem pode participar de onze ou doze encontros de formação de noivos se eles têm que trabalhar?”.

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Lembrou-se que, muitas vezes, nos voltamos a uma elite preconceituosa, que vê no discurso pelos pobres uma ameaça. Falar de pobre hoje é ser tachado de comunista! Até o Papa é acusado de comunismo! E os pobres são o nosso maior patrimônio. O desafio nosso é, enquanto frades, superar as burocracias e tudo aquilo que cria barreiras ao invés de agregar. Ao mesmo tempo em que as exigências pastorais e canônicas continuam as mesmas, somos chamados ao discernimento do que o Senhor verdadeiramente nos pede.

Frei César fez um repasse do encontro do “Conselho Internacional de Missões e Evangelização” da Ordem, do qual ele participou como delegado de evangelização pela Conferência Brasileira. Foi uma grande troca de experiências, segundo Frei César, pois as realidades bem diversas da Terra Santa, no tocante à acolhida e mesmo nos esforços de comunicação, têm muito a iluminar nossas realidades e caminhada local. Nesse Conselho ocorreu ainda uma reflexão central sobre a identidade original da Ordem Franciscana  e sua mística laical diante do processo histórico de clericalização dos religiosos, como ocorreu, mais tarde, na tarefa missionária  de implantação da Igreja em campos onde ela não chegava.  Esse apelo da Igreja e vários outros fatores (Concílio de Trento e a Contra-Reforma, Concílio Vaticano I e a importância dada ao sacerdócio ministerial, etc.), colaboraram para a clericalização também da nossa Ordem. E, contra isso, desde o Concílio Vaticano II, há um apelo pelo retorno à origem de nosso carisma. Além disso, a Igreja, na voz profética do Papa Francisco, pede a superaração do “comportamento clerical”, tanto por parte do clero em geral como até  dos leigos. Como rever nossa postura nessas realidades sem necessariamente abrir mão das atividades que temos, pois a paróquia não é uma estrutura caduca em si. Trata-se de fazer do nosso lugar uma nova forma de vida e evangelização. São Francisco não assumiu um trabalho ou uma ação específica, mas sim uma forma de vida. Tal forma funda-se na integração entre contemplação e ação. Daí, um modo próprio de evangelizar é o testemunho e a vocação do franciscano. Devemos apresentar nossos valores, entre eles a Fraternidade, como uma proposta para o nosso tempo, em reação ao individualismo, personalismo e a uma possível “clericalização até de nossa vida”. Foram abordados temas neste Conselho de diversas atividades e possibilidades de ação, que foram partilhadas e postas à reflexão, sempre a partir da preocupação em retomar nosso modo próprio de ser franciscano.

O terceiro momento dedicou um tempo para a reelaboração do Plano de Ação da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento, que se constitui a partir de cinco pontos ou objetivos:

1) Garantir que a Evangelização nesta Frente expresse a eclesialidade (comunhão com a Igreja) e o carisma franciscano;

>> Um pedido, já presente em nosso Plano de Evangelização, é o de valorizar, na posse canônica das paróquias, a fraternidade toda, não apenas o pároco, mas todos os frades e também os leigos enquanto lideranças que assumem a paróquia juntos.

>> Estar em comunhão com a Igreja universal e local e, ao mesmo tempo, valorizar o nosso próprio, como celebrações franciscanas, Fraternidades com frades leigos, formandos e idosos.
Na opção como “Igreja em saída” e com nossa itinerância e missionariedade, estar desapegados dos lugares em que estamos.

>> Conversar com os bispos sobre nossa forma de vida e de missão e estabelecer “convênios” com as Dioceses para garantir este próprio e também nos aspectos de patrimônio e economia.

2) Garantir que a Evangelização nesta frente seja expressão da comunhão fraterna;

>> Valorizar o Projeto Fraterno a fim de contemplar a missão evangelizadora de toda a Fraternidade. Estender esse nível de comunhão aos leigos, à OFS e Jufra em especial.

>> A missão evangelizadora é um “envio” de toda a Fraternidade no apostolado paroquial ou de santuário. Que este espaço não se torne palco de projetos particulares e personalistas, mas do projeto comum da fraternidade.

3) Garantir que a evangelização nesta Frente promova o protagonismo dos leigos (evangelização compartilhada);

>> Os encontros que temos com os leigos devem ser valorizados como espaço privilegiado de formação pastoral e sobre a nossa forma de vida e seus valores, a estarem presentes também nos meios e modalidades evangelizadoras.

>> Assumir a colaboração dos leigos em seu protagonismo para, entre outras questões, garantir a continuidade dos projetos pastorais e da caminhada de Igreja naquela presença. Para tanto, novamente, investir na formação deles e nossa.

4) Garantir que a Evangelização nesta frente se constitua em rede;

>> Partilhar materiais e subsídios já produzidos pelas fraternidades.

>> Comunicar pelos meios que temos – site, mídias sociais – os eventos e atividades que desenvolvemos.

>> Criar algo como uma ‘intranet’ para partilha de materiais próprios dos frades (não acessível ao público em geral), para conteúdos mais voltados aos nossos assuntos de discussão também. Valorizar os Regionais como espaço de mútua ajuda e troca de experiências.

5) Garantir que esta Frente avalie e redimensione suas presenças em vista de qualificá-las (onde fortalecer nossa presença?);

>> Possibilitar uma equipe itinerante a serviço das Dioceses para prestar serviços por um tempo determinado e não ficar fixados numa paróquia determinada.

>> Na dimensão da acolhida, qualificar frades e colaboradores em geral.

>> Levar a cabo as entregas já discutidas e encaminhadas, mesmo que haja resistências. Todos os lugares são bons, mas não temos condições de cuidar de todos os lugares.

Na parte final, o encontro fez indicações para a Comissão Preparatória do Capítulo, especialmente sobre o redimensionamento. Um enfoque foi quanto à nossa postura pessoal enquanto frades: muitas vezes, os projetos pessoais ofuscam a missão da fraternidade. Isso deve ser enfrentado.

O Regional do Vale do Paraíba propôs que a Província assuma o santuário de Frei Galvão, em Guaratinguetá, hoje aos cuidados da Arquidiocese de Aparecida. Foi feito um resumo histórico da situação e um relatório maior será enviado para cada frade desta Frente, a fim de se encaminhar a discussão para o Capítulo Provincial. Ao mesmo tempo em que temos dificuldades quanto ao número de frades, este apelo, por se tratar de um santo franciscano e de nossa Província, e por estar num centro de peregrinação, etc., deve ser considerado.

Outro ponto de discussão foi o da Animação Vocacional, uma de nossas prioridades e, portanto, a ser mais contemplada na ação desta Frente. Esta prioridade pode contribuir em grande parte para um colorido mais franciscano em nossa evangelização nas paróquias e santuários. Não se trata apenas de um proselitismo vocacional, mas não podemos nos furtar a convidar os jovens para assumirem nossa forma de vida. Este convite, hoje, deve ser mais personalizado. Passamos por um momento de grande diminuição no número de nossos formandos e se constata, ainda, que nossos candidatos não provém dos lugares onde estamos presentes.

Quanto à assembleia da Frente, ampliada com a presença dos leigos, decidiu-se realizá-la em dois centros: em Rondinha e São Paulo (São Francisco), acontecendo na mesma data, 27 e 28 de agosto, com início ao meio-dia do dia 27 até o fim da tarde de 28. O estudo proposto foi o do Documento da Ordem “Chamados a Evangelizar nas Paróquias”. Frei Alex Ciarnoscki e Frei José Idair Ferreira, em Rondinha; e Frei Antônio Michels e Frei João Reinert, em São Paulo, serão os animadores deste estudo.

Ao final, fez-se uma avaliação que elogiou a metodologia deste encontro, o espaço para as partilhas dos lugares, a positividade dos relatos, com experiências significativas, a acolhida fraterna dos confrades de Rondinha e a busca sincera e empenhada por responder cada vez mais de acordo com a vocação franciscana em nossa missão evangelizadora.