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Frei Paulo: “Cantar é o meu jeito de me expressar e de evangelizar”

06/01/2021

Entrevistas

Frei Paulo Cesar Ferreira da Silva é assim mesmo: fica muito à vontade para se expressar e evangelizar quando canta. Tímido, de poucas palavras, o mineiro de Caxambu, no Sul de Minas Gerais, é dono de uma das vozes mais belas da Província. A beleza de sua voz já se destacava quando ingressou no Postulantado de Guaratinguetá. “Nas idas à igreja, às procissões, nas etapas da formação fui tendo incentivo dos formadores, acompanhei os Canarinhos de Petrópolis por 3 anos, os cursos de canto pastoral, a participação nas gravações, nos eventos da Província e nas festas da Penha. Penso que é também uma questão vocacional”, diz o frade.

Frei Paulo herdou da mãe o dom de cantar. Teve bons mestres de canto, como Frei Leto Bienias e Frei José Luiz Prim, do Coral Meninos Cantores de Petrópolis (Canarinhos). Participou da gravação de CDs de canto litúrgico, entre eles, do CD Um Canto Novo – Volume I, com Frei Fabreti; do CD da Missa de Frei Galvão, junto com um grupo de frades; e do CD Hinos e Cantos a Nossa Senhora da Penha, gravado pelo Coral Palestrina, da regente Irmã Custódia Cardoso.

Ele vestiu o hábito franciscano no dia 20 de janeiro de 1977 e professou na Ordem dos Frades Menores no dia 1º de agosto de 1981. Foi ordenado presbítero no dia 6 de agosto de 1983.

Para ele, morar no alto do Morro da Penha, onde está o Santuário à Padroeira do Espírito Santo, é fascinante.

Conheça mais Frei Paulo nesta entrevista a Moacir Beggo. As fotos foram feitas por Cristian Oliveira, assessor de imprensa do Convento da Penha.


Site FranciscanosFale um pouco sobre sua família.

Frei Paulo – O meu avô materno, João Diório, era filho de italiano. A minha avó materna, Sabina, era filha de escrava. Os meus avós paternos, Rita e Antônio Ferreira, eram descendentes de portugueses.

O meu pai, Salvador Ferreira da Silva (já falecido) e minha mãe, Maria Diório, eram muito religiosos e trabalhadores. Minha mãe foi cozinheira em cozinha industrial e meu pai fazia de tudo: carpinteiro, comerciante e até motorista do 1º Bispo de São José dos Campos (SP), Dom Eusébio Oscar Scheid. Tinha quatro irmãs e dois irmãos, estes já falecidos. Eu sou o filho mais velho.

A nossa cidade natal é Caxambu, Sul de Minas Gerais. Eu tinha 8 anos de idade quando nos mudamos para São José dos Campos. Em casa rezávamos o terço diariamente ao anoitecer.

Meus pais foram fundadores e zeladores da capela do bairro dedicada a São Francisco de Assis. Cuidavam de tudo, inclusive das refeições dos Padres que vinham celebrar. Meus irmãos e irmãs foram catequistas, atores nas encenações de natal e Semana Santa, secretária da paróquia.

Bons tempos aqueles que no carnaval, no Natal e na passagem de ano ficávamos na pracinha batucando e cantando noite adentro!

Site Franciscanos – Como você define o Paulo Ferreira e o Frei Paulo Ferreira?

Frei Paulo – Acho que nasci para obedecer. Em casa eu ‘’obedecia’’ a vara. Não tinha conversa. Assim, aprendi a escutar mais e falar menos.

Na vida religiosa pude conhecer a obediência de Cristo, com São Francisco.

Site Franciscanos – Como se deu o seu despertar vocacional?

Frei Paulo – Com a vivência religiosa e o testemunho de vida dos meus pais. Eram muito devotos, honestos e caridosos. Apesar das dificuldades financeiras, sempre os via confiantes, corajosos e engajados. Eu gostava muito de ir à igreja com eles, olhar o padre, as imagens, ouvir os cantos e participar das procissões. Como coroinha, tive certeza da minha vocação. Até esquecia de ir pra casa, minha mãe mandava meu irmão ir me buscar.

Estávamos morando novamente em Caxambu. Em 1972, o pároco Pe. José de Castilho levou-me para o Seminário Diocesano Nossa Senhora das Dores, na cidade de Campanha, sede da Diocese. Lá permaneci por quatro anos.

Site Franciscanos – Quando São Francisco de Assis entrou em sua vida?

Frei Paulo – Foi no Seminário Diocesano que eu discerni a minha vocação à vida religiosa. Eu pensava que no seminário eu fosse encontrar aquele ambiente ‘’monástico’’ que eu tinha visto em um filme na TV. Os religiosos do filme trajavam o hábito Franciscano, eu não conhecia os Franciscanos pessoalmente.

Ansioso por conhecê-los perguntei à irmã Maria Xaverina, religiosa das irmãs de Nossa Senhora de Sion e nossa professora no seminário, quem tinha sido o fundador dos Franciscanos. Ela trouxe para eu ler o livro ‘’ Um homem chamado Francisco de Assis’’, de Léon Poirier, se eu não me engano. Lendo o livro, não tive dúvida: seria um Franciscano.

Isso foi ao final do 1º ano (8ª série), permaneci ainda no seminário por três anos (colegial) em consideração ao Bispo Dom Othon Motta, que me aconselhou esperar mais, que não me precipitasse.

Os padres sabiam da minha decisão, fiz contato com a Província da Imaculada e logo apareceram lá no seminário o Frei Claudius Guski e o Frei Ricardo Backes para me conhecerem e conversar com o reitor do seminário.

Concluído o colegial, deixei o seminário Diocesano e ingressei no SEVOA (Postulantado), Guaratinguetá, em 1976.

Site Franciscanos – Como foi a sua caminhada formativa na Província? Em que frentes da Província você esteve a serviço?

Frei Paulo – No Postulantado eu me sentia em casa, bebendo das aulas de formação Franciscana. Para mim, era o que interessava: ser um cristão como São Francisco, ser um bom Frade Menor. Não tive maiores dificuldades, não. Sou da turma dos ‘’gafanhotos’’, acho que o mais retraído do grupo e o menos inteligente. Não sou muito dos ‘’tratados’’, sou mais da estrada!

A minha ordenação Sacerdotal foi em agosto de 1983 e primeira transferência para a Porciúncula de Sant’Ana, Niterói, como vigário paroquial. Em 1986, fui transferido para o seminário Santo Antônio de Agudos, como orientador. Permaneci neste trabalho por duas décadas. Fui guardião do Postulantado São Frei Galvão, por dois triênios e, atualmente, resido no Convento Santuário de Nossa Senhora da Penha, pela segunda vez.

Site Franciscanos – Durante muitos anos você trabalhou na formação. Como foi este serviço para você?

Frei Paulo – Foi bem estimulante e gratificante ao mesmo tempo. Cada turma era um desafio novo, um recomeçar sempre. Como era bom caminhar com os aspirantes, conhecê-los, crescer com eles, vê-los comprometidos no processo formativo. É um bom trabalho que exigia muita paciência, firmeza e consideração. O lado ruim era saber lidar com as ‘’patologias’’ que geravam divisão, desconfiança e medo entre eles e na convivência conosco.

Site Franciscanos – Existe hoje uma crise de vocações na vida religiosa?

Frei Paulo – Vivemos tempos de crises generalizadas. Somos bombardeados de informações e de anúncios sedutores e enganosos. Vivemos um frenesi, não se reza mais como antigamente, “parar para descansar e refletir é perda de tempo”. A família virou pensionato, cada um pra si, ou educam seus filhos para seguir carreira profissional.

Nos grupos ‘’religiosos’’, valoriza-se uma piedade intimista (individualista). É preciso mostrar serviço e mais ousadia!

Como consagrados, será que não temos sido coerentes, convincentes?

Site Franciscanos – Como você vê o Pontificado do Papa Francisco?

Frei Paulo – Assisti uma entrevista com Dom Pedro Casaldáliga, Santo Súbito, onde ele dizia: ‘’A igreja deveria conjugar Pedro e Francisco, a firmeza na fé e o testemunho dos Mártires’’. Penso que o Papa Francisco tem feito isso. Ele se faz notar pelas suas convicções, por sua simplicidade, pelos seus pronunciamentos, pela sua coragem, por suas atitudes de pastor compassivo, de um coração aberto a todos, inclusive às religiões. O Francisco de Roma tem sido fiel e dedicado como o Francisco de Assis no restauro da Igreja.

Site Franciscanos – Como nasceu a paixão pela música? Pelo canto?

Frei Paulo – Como se diz, tá no meu sangue Africano e Italiano. Quando criança eu ficava imitando a cantora lírica, nossa vizinha de muro. Acordava de manhã ouvindo a minha mãe cantando as canções do rádio.

Nas idas à igreja, às procissões, nas etapas da formação fui tendo incentivo dos formadores, acompanhei os Canarinhos de Petrópolis por 3 anos, os cursos de canto pastoral, a participação nas gravações, nos eventos da Província e nas festas da Penha. Penso que é também uma questão vocacional. Cantar é o meu jeito de me expressar e de evangelizar.

Site Franciscanos – Quais os estilos de música que gosta?

Frei Paulo – Praticamente de todos, menos Metal (Heavy Metal). Sendo uma bela música, com uma boa letra, não dá para resistir. Só cantando mesmo!

Site Franciscanos – Como está a música sacra hoje?

Frei Paulo – Consultando amigos da área, constatamos que a ‘’música sacra’’ está muito diversificada (RCC, Rock, Sertanejo, Pagode…). E muitos confundem música sacra e música litúrgica, pois toda música litúrgica é sacra, mas nem toda música sacra é litúrgica.

Site Franciscanos – O Concílio pediu aos compositores que façam músicas de acordo com o Espírito Cristão e Litúrgico e que primam pela participação ativa de toda a assembléia dos fiéis. Como está essa atividade na liturgia?

Frei Paulo – ‘’Temos músicas bem elaboradas como as do Hinário da CNBB, com letras muito boas, mas nem sempre acessíveis ao povo, ou seja, letras e melodias difíceis. Também o contrário, músicas bem acessíveis ao povo, que emocionam e são um show de participação, mas não são litúrgicas. E temos músicas que unem conteúdo e melodia, acessíveis ao povo, dos compositores: Frei Fabreti; Valdeci Farias; Cristiane e Marcos da Matta; Frei Luiz Turra e outros’’.

Site Franciscanos – Há quanto tempo está no Convento da Penha? Como é viver no alto desta montanha Sagrada?

Frei Paulo – A primeira vez que morei no Convento da Penha, fiquei três anos. Depois de onze anos fora, retornei. Está segunda vez já passa de dois triênios.

Viver na Penha é fascinante, precisa ser afável, gostar do recolhimento e também de gente, ter criatividade e muita paciência. Temos horários de cultivo pessoal, de convívio fraterno, de atendimento ao povo e as celebrações das missas. Em dias normais são quatro missas, aos sábados cinco e, aos domingos, seis.

A casa é muito simples, com vista panorâmica privilegiada. O povo vem a nós sedento da palavra, do conforto espiritual, da bênção, do conselho, dos sacramentos da Eucaristia e do perdão.

Temos a associação dos Amigos do Convento da Penha e contamos com um bom grupo de voluntários para as diversas atividades ligadas aos eventos e às celebrações: temos também as transmissões on-line, através das plataformas digitais do Convento da Penha, Santuário do Perdão e da Graça.

Site Franciscanos – O que Francisco de Assis e Clara têm a dizer a este mundo?

Frei Paulo – O que o Papa Francisco tem dito. Escutem o Papa, ajudem a Igreja em saída às praças, às ruas e encruzilhadas. Juntem-se aos mais necessitados e sejam humanos, fraternos e simples, como convém aos enviados de Jesus Cristo.