Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei Diego: “Partilhar com os pobres é olhar para as pessoas e reconhecer nelas a dignidade que têm”

17/10/2022

Notícias

Guaratinguetá (SP) – “Homem da partilha com os pobres” foi o tema deste segundo dia da Novena em louvor a Frei Galvão e deixou o reitor do Santuário Frei Galvão, Frei Diego Atalino de Melo, muito à vontade para fazer a sua reflexão, ele que viveu a experiência de partilhar com os pobres as quentinhas durante os dois terríveis anos da pandemia de Covid-19 no Brasil.

Frei Diego presidiu a Missa das 15h, tendo como concelebrantes os padres Moisés e Édson, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, da Arquidiocese de Aparecida. Neste segundo dia, a partilha como gesto concreto foi a doação de arroz.

Na sua reflexão, Frei Diego partiu do Evangelho em que Jesus conta a parábola de um homem rico, ganancioso e egoísta, cujo ideal de vida é apenas comer, beber e desfrutar. Este homem não pensa nos seus empregados, não pensa nos pobres; é profundamente ganancioso e egoísta. Jesus chama-o de insensato, e fala de sua morte naquela mesma noite. “Mas interessante iniciar esta reflexão fazendo um paralelo, uma ligação com o tema geral da nossa novena e festa deste ano: ‘É morrendo que se vive para a vida eterna’. Nós estamos celebrando o bicentenário de entrada de Frei Galvão na eternidade. E o que tem a ver o Evangelho de hoje com o tema da eternidade? Tem tudo a ver”, animou o frade.

“A partilha, o dom, a graça da sensibilidade, da misericórdia para com os empobrecidos é também um caminho para alcançarmos a eternidade. É também um caminho que nos leva até o céu, que nos garante o paraíso. O Evangelho de hoje apresenta Jesus sendo chamado por alguém que precisava dividir os seus bens. Jesus responde: ‘Olhe, não tenho a obrigação de dividir os vossos bens’. Por que será que Jesus responde assim para este homem que pedia a sua ajuda para dividir a herança? Quem aqui já passou por esse processo de divisão de herança sabe o quanto é delicado, o quanto cria intrigas, brigas e divisões na família. Será que Jesus era insensível a isso? Não. Jesus sempre procurou apaziguar as coisas, Jesus sempre procurou resolver os conflitos e ele não seria indiferente a este conflito familiar na hora de divisão de heranças. Jesus tinha também uma palavra, certamente, para um conflito na hora da divisão de heranças. Mas Jesus não quis ficar na superficialidade dessa discussão. Ele quis aprofundar a questão e, por isso, ele diz em outras palavras: ‘Eu não vou me envolver nessa briga de família’, mas eu quero apresentar para vocês algo muito mais nobre, algo muito maior, algo muito mais profético. E o que Jesus apresenta?”, pergunta Frei Diego.

“O dom, a graça da partilha, que se opõe ao egoísmo, ao acúmulo, à insensibilidade. Foi isso que Jesus fez”, respondeu o celebrante, explicando que o homem rico fez uma grande colheita e faltavam celeiros para tantos grãos. “E aí diz Jesus: tudo isso é ilusão, amanhã mesmo a vida pode se acabar e quem é que fica com essa fortuna, com todo esse dinheiro e toda essa riqueza?”, acrescentou.

Frei Diego, então, frisou que Jesus não se opunha a uma vida digna. “Não é que Jesus não fique feliz com um pai e uma mãe que têm condições de dar uma boa educação para seus filhos, de colocar alimento na mesa, de ter uma moradia digna. Jesus fica feliz com isso. Agora, o problema é quando esse desejo de ter as condições dignas vai sendo, muitas vezes, tomado por um desejo de acúmulo cada vez maior. Insaciável. Quando esse desejo de ter, quem sabe, uma condição digna se torna um pretexto para deixar a gente também cega, insensível para com o outro, aí sim, o bem, o dinheiro, a riqueza, não estão servindo para adquirir as riquezas lá no céu”, ressaltou o frade.

Retomando o tema da Festa deste ano, ‘é morrendo que se vive para a vida eterna’, disse que a partilha e a sensibilidade para com as pessoas que mais precisam é também um caminho para entrarmos na vida eterna. “E aqui é bem importante a gente tomar isso como verdade porque muitas vezes a gente que, todos os dias está atendendo a confissão, raramente se percebe que a partilha, ou a falta dela, pesa na consciência. Vamos fazer uma retrospectiva das nossas confissões. Será que quando vou me confessar também peço perdão a Jesus pelo meu egoísmo, pela minha insensibilidade, pelo meu preconceito, pela minha aversão aos pobres? Ou será que isso nem passa pela minha cabeça, como se isso não fosse pecado? Será que quando vou me confessar eu me acuso também da minha incapacidade de pensar no outro? Agora, é tempo de eleições. Daqui a dois anos teremos eleições municipais. E será quando penso no meu voto, penso somente em mim ou penso no coletivo?  Ah, para mim, está tudo bem então voto nesse. Tudo bem, tem muitas questões que para mim estão tudo ok. Mas eu não penso somente em mim, penso no outro também. O Evangelho nos ensina isso e exige essa minha postura”, questionou o frade.

“Então, a nossa dificuldade de partilhar, de dividir deve pesar na nossa consciência e deve nos fazer também pedir perdão a Deus. Por que tudo isso? Porque Frei Galvão é modelo nessa partilha, é modelo desse desprendimento para colocar em comum, pelo próprio espírito franciscano, pelo próprio voto de não ter nada de próprio, Frei Galvão fazia da sua vida uma doação. E quando a gente fala doação, não significa dar um dinheiro, dar uma moedinha a quem está lá na calçada no centro da cidade. Não é só dar uma esmola e aí minha consciência está livre, mas é pensar na transformação da sociedade, de tal modo que o ideal seria eu não precisar dar esmolas, de tal modo que eu não precisasse encontrar sempre um morador em situação de rua, de tal modo que eu pudesse devolver a dignidade para todas as pessoas”, ensinou Frei Diego.

Segundo ele, Frei Galvão, durante a sua vida, foi o homem da partilha com os pobres. “E ele partilhou não só os seus bens como conta a biografia dele. Muitas vezes ele ia nas vendinhas de antigamente, onde se comprava comida, e pagava as contas dos endividados, porque Frei Galvão sabia que o alimento, o necessário básico, não podia faltar. Partilhava o que tinha para ajudar os mais pobres. Mas conta também a biografia de Frei Galvão que ele era capaz de enfrentar até as autoridades civis da época para defender os mais pobres. Vejam só, Frei Galvão partilhava o que tinha, os seus bens, partilhava a sua autoridade, ia como frei, como padre, enfrentava tudo para defender os mais pobres, partilhava a sua espiritualidade. As pílulas são grande expressão disso. O desejo de, a qualquer custo, atender as pessoas. Como não podia ir atender aquele rapaz que estava com crise renal, o que ele faz? Escreve uma oração num papel, enrola como pílula e envia. Vejam como Deus abençoou isso porque Frei Galvão tinha o desejo de partilhar tudo com os mais necessitados. E aí a gente amplia o conceito de pobreza e percebe que não é somente material. Pobreza pode ser espiritual, de atenção, pode ser emocional. Frei Galvão partilhava tudo o que tinha em todos os sentidos”, disse o frade.

“O quanto esta partilha tem que ser ampliada, o quanto nós precisamos ainda expandir o nosso conceito e perceber que aquilo que a Oração de São Francisco nos diz – ‘é dando que se recebe’ – pode nos encher”, frisou.

Frei Diego, então, contou um fato para encerrar a sua reflexão sobre a partilha. “Há dois anos, no começo da pandemia em São Paulo, nós, os franciscanos, montamos uma tenda de distribuição de alimentos para pessoas em situação de rua, aquelas que muitas vezes são julgadas e desprezadas. Lá montamos e literalmente nós enganávamos a fome do povo com pão e água. A gente podia sentir a fome das pessoas. De cinquenta moradores em situação de rua, de repente estávamos com 200, 400, em quinze dias eram 1.500 pessoas para alimentar. Gente que não tinha de onde tirar o seu sustento. Pois bem, o tempo passou, nós conseguimos organizar a tenda, as doações, as quentinhas, e aí resolvemos atender o Rio de Janeiro. Montamos a mesma tenda, distribuindo o almoço e janta para a população em situação de rua do Rio de Janeiro”, recordou o frade.

“No dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, estava organizando o espaço para começar a distribuir o alimento e alguém gritou meu nome no meio da praça: ‘Frei Diego, Frei Diego…’. Eu olhei aquele rapaz lá ao longe, com a mochila nas costas, e disse: ‘Oi, irmão, diga’. Ele respondeu: ‘Frei, você lembra de mim?’ Respondi: ‘Eu estou lembrando de você, mas me ajude a lembrar o teu nome’. Aí, ele falou: ‘Frei, você quer saber o meu nome para você e para Deus, ou quer saber o meu nome para a sociedade?’ Eu disse: ‘Como assim?’ Ele respondeu: ‘Não, frei, o meu nome para vocês é Marcos, mas o meu nome para a sociedade é lixo’. Aquilo me tocou profundamente e aí eu disse: ‘É Marcos, mas de onde você vem?’ Ele disse: ‘Frei, estou vindo lá de São Paulo. Quando você e os outros freis estavam lá na tenda de São Paulo, vocês paravam na fila na hora da senha e perguntavam o nosso nome. E um dia vocês pararam e conversaram comigo. Perguntaram de onde vinha, quem eu era’. E ele disse assim: ‘Frei, faz onze dias que estou caminhando. Quando eu soube que vocês tinham vindo aqui para o Rio de Janeiro, eu peguei a minha mochila, e como não tinha dinheiro para pagar um ônibus, eu caminhei onze dias para dizer assim: ‘Freis, obrigado, muito obrigado, porque vocês mataram a minha fome’. E aí, eu disse: ‘Nossa, irmão, não acredito que você veio de São Paulo para o Rio a pé!’. Ele respondeu: ‘Frei, eu precisava dizer isso: ‘Muito, muito obrigado porque vocês mataram não só a fome do meu corpo, mas a fome que eu estava de atenção. Vocês olharam para mim com dignidade’. Aquilo me desmontou por inteiro. Eu pensei assim: ‘Pobre não é ele, pobre sou eu, pobre sou eu que não tenho essa nobreza de espírito de fazer um esforço tão grande, de caminhar onze dias, pedindo comida nos postos, só para dizer muito obrigado’. Então, ele me deu um abraço e tirou da mochilinha dele um presente: Uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida, feita de plástico. Está comigo no meu quarto. E aí me abraçou e disse: ‘Estou indo embora’. Eu disse: ‘Calma, irmão, está quase na hora do almoço’. Ele respondeu: ‘Não, frei, não quero. Agora, não tenho fome. Eu posso ir embora feliz porque agradeci’. E voltou para São Paulo”, contou o frade.

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“Vejam só: partilhar com os pobres é mais do que dar comida; partilhar com os pobres é mais do que jogar uma moeda, partilhar com os pobres é olhar para as pessoas e reconhecer nelas a dignidade que têm. E elas são capazes de nos alimentar. Aí eu me mudei do Rio e vim para Guaratinguetá antes de assumir o Santuário. Estava lá no Seminário, toca a campainha, e quem vem? O Marcos de novo. ‘Frei, você acha que vai ficar livre de mim? Onde você estiver, os freis estiverem, eu quero passar só para dizer que não esqueço de vocês’. Ano passado já tínhamos assumido o Santuário e, pelas 10 hs da manhã, quem chega aqui? O Marcos. ‘Frei, ao menos uma vez por ano você vai me encontrar de novo’. Perguntei: ‘Mas Marcos, como você veio? Ué, frei, não tenho dinheiro, venho a pé, não tenho nada, sou morador em situação de rua, minha família me abandonou. O que tenho eu preciso valorizar. A minha riqueza são vocês que me deram atenção”, confessou.

“Irmãos e irmãs, seguir a Frei Galvão, homem da partilha com os pobres, significa isso. Dar tudo, dar sem medidas, dar atenção, dar afeto, dar solidariedade. Quanto mais a gente dá, mais a gente recebe, mais rico a gente fica”, concluiu o frade.

 

MISSA DAS 19 HORAS

Pe. Leo: “Frei Galvão nos mostra o verdadeiro caminho”

O Pe. Antônio Leonel de Oliveira, da Paróquia Senhor Bom Jesus de Potim (SP) presidiu a segunda Missa da Novena em louvor a Frei Galvão nesta terça-feira (17/10), às 19h30. Com ele, vieram de Potim os paroquianos, que trouxeram a imagem peregrina de Frei Galvão e o estandarte do bicentenário.

“Estamos aqui na casa de Frei Galvão, cidade onde Frei Galvão nasceu, onde a família o educou, local onde ele foi batizado, uma terra onde temos o privilégio de sermos agraciados com o primeiro santo brasileiro”, saudou, lembrando o tema deste dia voltado para a caridade.

“Quanto nos tem faltado nesse tempo atual uma das três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. Frei Galvão, um menino que foi educado no berço católico, no berço cristão, entre o século 17 e 18, se hoje nós vemos no país um grande número de pobres, especialmente após a pandemia, imagine na época de Frei Galvão, época do Brasil Colônia, da escravidão de tanta pobreza. Um menino que nasceu de uma família rica, mas que tinha na essência de sua vida o cristianismo. Um menino que desde o seu nascimento já havia sido preparado por Deus para buscar, almejar a santidade”, recordou.

“E uma das grandes virtudes de Frei Galvão, com certeza, é a virtude do Sagrado Coração de Jesus, a compaixão. Um santo que sentia a dor do outro, a dor do próximo, aquele não media esforços para ajudar”, acrescentou o celebrante. Pe. Leo, como é chamado, contou que foi agraciado ao participar da beatificação e canonização de Frei Galvão.

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Segundo o Pel Leo, desde cedo as pessoas procuravam Frei Galvão pela fé, pela mística que tinha. “Por isso, precisamos entender que o nosso caminho na comunidade cristã não é um caminho que a gente escolhe, mas um caminho que somos convidados a viver quando damos o nosso ‘sim’ a Deus. Precisamos aprender de Frei Galvão a entrega, a fé, acreditar plenamente que Deus opera todas as coisas por nós. Um homem que nos ajuda a viver a essência do cristianismo hoje. E dentro dessa realidade quantos testemunhos nós temos de Frei Galvão!”, disse.

“Mesmo depois da morte de Frei Galvão, ele ainda ajuda os pobres, os desvalidos, os desesperados. Uma salva de palmas a Frei Galvão, que nos ajuda a ver que a nossa Igreja é viva, mas precisamos ter fé para caminharmos, precisamos acreditar”, pediu.

Segundo ele, é preciso entender que nosso caminho é místico. “Muitas vezes, nós só queremos caminhar pela razão, por aquilo que vê, por aquilo que a gente toca, mas o mundo de Deus não é assim. Frei Galvão nos mostra esse verdadeiro caminho”, ensinou.

“Nos edifica ver quantas graças Frei Galvão nos mostra hoje e que ele intercede junto de Deus por nós. Mas por quê? Porque seu olhar é voltado para os pobres, para as pessoas que não têm auxílio nenhum, que estão muitas vezes sombrias e na escória da vida, condenadas a qualquer tipo de morte. Esse santo nos mostra que nosso Deus é vivo e verdadeiro.  Esse ano, em dezembro, vamos comemorar o bicentenário da morte de Frei Galvão. Duzentos anos de sua partida ao céu. Mas ele está mais vivo do que nunca, trazendo tantos milagres para nós”, completou.

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MISSÃO NO LAR SÃO JOSÉ

Frei Galvão vai às periferias existenciais

“A graça de viver e progredir é dom de Deus”. Na manhã do segundo dia das comemorações de São Frei Galvão, teve início a Semana Missionária. Hoje, os missionários, Freis e leigos, visitaram o Lar São José. Houve celebração da Eucaristia presidida por Frei Roberto Ishara. Na sua reflexão, destacou que “o milagre acontece na partilha, que combate toda ganância”.

“Frei Galvão colocou toda sua vida na partilha com os irmãos. A fraternidade é um dom. Rendendo graças a vida de cada irmão morador deste lar de idosos, principalmente à gratuidade de Deus, de unir na diversidade de suas histórias a sabedoria que só a idade avançada concede”, disse Frei Roberto.


PROGRAMAÇÃO – 3º DIA DA NOVENA

18 de outubro – Terça-feira (Gesto concreto: Macarrão)
07h00 – Missa
09h00 – Missão: Visita ao Asilo Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis
15h00 – Missa do 3° dia da Novena – Tema: “Frei Galvão, Construtor do Reino de Deus”.
19h30 – Missa do 3° dia da Novena – Tema: “Frei Galvão, Construtor do Reino de Deus”.
19h00 – Barraquinhas de Doces e Salgados


Equipe de Comunicação do Santuário Frei Galvão