Por mais carisma franciscano na Frente das Paróquias
13/09/2017
Agudos (SP) – O Encontro Provincial da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento terminou nesta quarta-feira (13/9), ao meio-dia, no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP) com a certeza de que agradou em cheio aos 110 participantes, entre eles 36 frades e 74 leigos. Este foi o primeiro encontro desta Frente que reuniu mais leigos, que neste último dia tiveram oportunidade de conhecer melhor as linhas de ação do Plano de Evangelização da Província da Imaculada Conceição.
O Vigário Provincial Frei César Külkamp presidiu a Celebração Eucarística na manhã desta quarta-feira e, depois na sala, fez uma apresentação didática e pormenorizada do trabalho evangelizador desta Província. “A Ordem reconhece que a Paróquia é um campo muito importante da nossa missão, mas com duas características bem importantes: em fraternidade e em minoridade”, explicou o frade.
Segundo o Vigário, essa Frente é a que mais ocupa os frades da Província no universo de mais de 50 presenças, no Brasil e em Angola, envolvendo o maior número dos 380 frades da entidade. Como fraternidades evangelizadoras, elas são constituídas também por aqueles em formação, por irmãos leigos, idosos e doentes. Mas o grande volume desse trabalho evangelizador de uma fraternidade franciscana também tem seus desafios. “A gente vai a algumas Paróquias e as pessoas nem sabem quem são os franciscanos, apesar de ter lá uma presença, às vezes, de 60, 70 ou 80 anos e até mais. Também não há ali elementos do nosso carisma, como devoções próprias ou essa apresentação do próprio carisma para que possa ser assumido também pelos leigos. Então, é importante que em um projeto da Paróquia – em comunhão com o projeto da Igreja local, da Diocese onde se está – haja esse colorido do carisma franciscano”, pediu.
“Nós queremos ser sempre uma fraternidade nos lugares. A alguém é confiada a missão de pároco ou de vigários paroquiais, com as devidas competências. Mas, a toda a nossa ação evangelizadora emana da fraternidade”, reforçou Frei César.
Frei César destacou o testemunho de uma fraternidade. “Em alguns lugares há pastorais muito bem organizadas, belíssimos sermões, mas, de repente, o testemunho de um irmão idoso, que só pode caminhar no meio das pessoas, é mais eloquente e cala mais fundo na nossa alma”, lembrou o Vigário Provincial.
O frade lembrou que quando o Papa faz provocações para os párocos é importante que, no nosso caso, leia-se no lugar da palavra pároco a palavra fraternidade. “A gente pode perguntar assim: ‘Essa provocação é para os párocos? Não. É para todos! E nós queremos ampliar isso para os leigos, na proposta da evangelização compartilhada”, acrescentou.
Tendo como base o Plano de Evangelização, Frei César destacou os riscos para a evangelização, como o clericalismo, muito abordado por Orofino no dia anterior, mas ressalvou que há também leigos muito clericais.
Frei Alexandre Magno, pároco em Curitiba, lembrou que a tomada de posse do pároco poderia, com a ajuda do Governo Provincial junto aos Bispos, ter uma mudança no rito e que a posse fosse da Fraternidade. Para Frei César poderia, pelo menos, haver menos acento na pessoa do pároco e mais na fraternidade evangelizadora. Esta seria também uma oportunidade para uma catequese sobre o carisma franciscano.
O PROTAGONISMO DOS LEIGOS
Frei César citou que os leigos eram o dobro dos frades no encontro. “Isso é motivo de grande alegria porque nós queremos que esses encontros tenham sempre a presença de leigos. Na ação onde estamos, possamos nos sentir parte de uma coisa maior: a Província e a Ordem. A Província não é só formada por frades. E sua ação não pode ser contada apenas no que eles fazem. Só isso seria muito pequeno. A gente se sente forte quando olha para esse exército de colaboradores! Naquilo que ouvimos desde o primeiro dia e que foi acentuada pelo Orofino, queremos uma Igreja com o protagonismo dos leigos. E na vida franciscana queremos essa evangelização compartilhada também como sinal evidente do valor da fraternidade, não apenas para dentro, mas como um sinal para o mundo. Essa é a nossa razão de ser”, explicou o frade.
“Na apresentação da estrutura da Igreja, feita pelo Orofino – a comunidade, a Palavra, o Papa, bispos e padres -, pela nossa vocação não participamos desta hierarquia, mas colaboramos com ela. Nós queremos ser uma fraternidade de irmãos e a nossa opção vocacional é essencialmente leiga. A fraternidade acolhe irmãos ordenados, mas sem perder essa dimensão da nossa opção fundamental de sermos sempre irmãos. Esse é o ideal a ser buscado. E isso com todas as pessoas que partilham a nossa missão”, enfatizou Frei César.
AS FRENTES DE EVANGELIZAÇÃO
Como apenas cinco pessoas, dos presentes, estiveram no último encontro provincial desta Frente, Frei César fez uma explicação detalhada da presença evangelizadora dos franciscanos no Brasil e na Província. “Nós somos franciscanos e aqui, no Brasil, estamos divididos em nove entidades, chamadas Províncias e Custódias. A nossa Província Franciscana da Imaculada Conceição está presente com sua vida e sua ação desde Santa Catarina até o Espírito Santo, aqui nesta parte mais Sul e Sudeste do Brasil. E está presente nos mais diferentes campos de evangelização que nós assumimos desde 2012 em uma linha preferencial por cinco Frentes de Evangelização: Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento; Educação; Comunicação; Solidariedade com os Empobrecidos e Missões”, especificou, mostrando um vídeo dessas Frentes que foi apresentado no último Capítulo das Esteiras.
“A nossa missão foi chegando a estes campos pela atenção aos sinais dos tempos, conforme as demandas e necessidades em cada lugar, como a carência de instrução em diferentes períodos, de atendimento religioso, tanto dentro como fora do Brasil, comunidades onde a Igreja não estava constituída e assim por diante”, disse o frade.
“Por exemplo, em Santa Catarina, muitas paróquias criadas pelos frades, hoje são sedes de Dioceses. Isso faz parte da missão de ajudar a constituir a Igreja ali e poder ir adiante para atender outras demandas. Então, o desafio nosso é estar atentos aos sinais do nosso tempo, às necessidades da nossa presença. Por isso não estamos presos a um lugar, a uma diocese. A nossa ação vai aos mais diferentes campos, principalmente quando naquele lugar se vê a possibilidade de viver o carisma franciscano”, acrescentou.
Foi pensando no planejamento dessas atividades dos frades que nasceu o Plano de Evangelização da Província há 20 anos. “Nós tivemos um pré-plano, trabalhado de 1997 a 2003. Depois vieram quatro edições, revendo e atualizando sua elaboração e a nossa missão”, observou.
Frei César explicou que o Capítulo Provincial é a grande assembleia dos frades e as decisões maiores são tomadas conjuntamente. “O Capítulo Provincial é essa instância máxima da nossa animação. O Capítulo provincial de 2012 escolheu essas cinco Frentes que vimos aí e, até o início de 2016, tivemos o trabalho de elaboração do plano de cada uma. Também o processo de formação de nossos frades e sua formação continuada, contempla as cinco Frentes de Evangelização”, lembrou.
Neste Capítulo de 2016 foi aprovado o Plano de Evangelização até 2021. “A dinâmica desse documento tem cinco partes: os nossos princípios, quem nós somos e quais os nossos valores. Queremos ser uma fraternidade, queremos viver na condição de Menores, pois somos Frades Menores. Então, a nossa ação também deve ter essa condição dos menores. Jamais com arrogância ou com ‘as fórmulas de sucesso’ e sim com os princípios próprios do Evangelho. Depois apresenta as instâncias de animação, coordenação e comunhão. O terceiro ponto traz as interpelações do mundo, da Igreja e da Ordem no nosso tempo. O quarto ponto é o das prioridades assumidas a partir disso, e o quinto ponto trata especificamente das diretrizes para cada uma das Frentes e também da nossa formação”, detalhou.
Frei César fez questão de ressaltar que os frades estão em diferentes Dioceses e “jamais queremos trabalhar lá como uma seita. Nós somos Igreja e queremos trabalhar em comunhão, ser interpelados como igreja e ajudar também nesse caminho de construção da Igreja como refletimos bastante ontem”, disse o frade, lembrando que nas paróquias não estão presentes somente os frades, mas a Ordem Franciscana Secular, a Jufra, as Irmãs Franciscanas e pessoas que abraçam esse carisma para a sua vida.” Tudo isso em comunhão. A comunhão com os leigos também se dá no polêmico tema do redimensionamento. A nossa Ordem não é estática, não está presa a um lugar. Em atenção aos sinais do tempo, o nosso desafio é ir aos lugares onde ninguém quer estar”, completou..
PARTICIPAÇÃO QUE LEVA À COMUNHÃO
Frei Ladi Antoniazzi, pároco em Balneário Camboriú, fez uma síntese do dia de formação dado por Francisco Orofino “dentro de uma ótica franciscana”, segundo o frade.
“Os cinco pontos que nós temos, poderíamos colocar assim numa frase: participação que leva à comunhão. E talvez a comunhão seja o ponto mais difícil entre nós. Entre os movimentos, pastorais, equipes, serviços, como é difícil! Eu sempre falo assim: antes de você ser Legião de Maria, você é cristão; antes de ser frade, você é cristão. É isso que nos une. O resto é opção. Nós queremos colocar essa participação que leva a comunhão nesses cinco pontos (leia aqui no texto de ontem). O Orofino falou muito bem isso, mas eu colocaria, dentro dessa ótica franciscana o cuidado com a criação. Para nós, ele dá uma tonalidade franciscana. Seis pontos de uma proposta eclesial dentro de um colorido franciscano”, disse Frei Ladi.
“E os três pontos refletidos por Orofino exercem um apelo muito importante para os franciscanos: a Sinodalidade, decidir juntos, não estamos separados. Esse ponto é muito franciscano. Francisco dizia: vão dois a dois. Outro ponto é a Igreja em saída. Essa Igreja em saída é o tal do espírito missionário. Manter esse espírito vivo e não ser uma Igreja de manutenção, de conservação, mas uma Igreja que se abre para os desafios. Isso nem sempre é fácil porque sempre temos a agenda cheia. Mas temos que abandonar umas coisas e pegar outras. E o terceiro ponto é a Misericórdia. Estar atento às diferenças e às necessidades das pessoas, como diz o Papa Francisco e São Francisco: ‘Eu fiz misericórdia para com eles’. Eu fiz, eu não fui. Essa expressão de São Francisco é uma tônica muito forte para nossa atividade pastoral”, indicou.
“Eu creio que é nessa dinâmica que queremos voltar cheios de ânimo e entusiasmo. Não dá para mudar tudo, mas um pouquinho dá para mudar. E tenho que chegar com esse gás. Esse encontro tem também essa finalidade de estabelecer esse novo dinamismo, essa nova vontade de, a cada dia e sempre de novo, recomeçar. Não do zero. Recomeçar de onde estamos. Porque já fizemos muito e podemos fazer mais e melhor”, desejou Frei Ladi.
SUGESTÕES E ELOGIOS
Por fim, enquanto Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento, na busca por um trabalho mais articulado entre todos os lugares de presença, também com os leigos, Frei César pediu aos participantes que discutissem durante dez minutos e sugerissem ações para a animação da Frente. Muitos pontos foram destacados para serem implementados e melhorados em cada lugar e também na animação conjunta.
Na mesma partilha, várias pessoas deram suas impressões sobre o encontro e fizeram sugestões para futuros encontros. Todas as impressões foram elogiosas e destacaram a formação dada pelo biblista Orofino, a explanação de Frei César e a importância da participação dos leigos neste Encontro. Entre as sugestões, foi unânime que no próximo evento haja um tempo de partilha entre os grupos das Paróquias. A historiadora Iraci Lopes, da Paróquia São Luiz Gonzaga de Xaxim (SC), resumiu bem essas impressões: “Nós achamos, em primeiro lugar, que esse encontro foi muito bom. Foi de esclarecimentos e vai nos animar muito para darmos continuidade nas nossas Paróquias do carisma franciscano. Nós estamos chegando ao final do ano e temos, em certo momento, o planejamento paroquial. Então, isso aqui também vai nos ajudar a estudar esses documentos para depois organizarmos os nossos planos de evangelização, ligando o que é da Diocese com o carisma franciscano e essas propostas de evangelização da Província. Outro ponto que poderia enriquecer ainda mais nosso encontro – e temos certeza que há muitas riquezas em nossas Paróquias – é um momento de partilha das coisas positivas, tanto para dentro (diaconia) como no testemunho (martyria), para sairmos daqui conhecendo mais as Paróquias; não para termos uma uniformidade, mas uma unidade dentro dessa pluralidade e que a gente possa levar um incentivo para continuarmos melhores em nossos Santuários e Paróquias”, pediu.
Frei Germano, coordenador da Frente das Paróquias, destacou a boa participação dos leigos e acredita que a Frente terá um novo impulso a partir deste encontro. “Gostaria de agradecer à participação de todos, leigos e frades, e desejo de coração que esse encontro revigore a esperança de vivermos de fato a participação que leva à comunhão”, finalizou.
O próximo Encontro Provincial, em 2018, ficou marcado para a data de 27 a 29 de agosto.
Comunicação da Província da Imaculada Conceição