“Ser Frade Franciscano é uma grande alegria!”
15/11/2015
Diz um ditado popular que “mineiro não fala, proseia”. Frei Carlos Ajluni Oliveira deu-nos a honra de uma “prosa”, onde falou um pouco de sua vida, de sua caminhada vocacional e de suas expectativas como sacerdote de Cristo. Isso porque Frei Jean será ordenado presbítero pela imposição das mãos do bispo diocesano de Bauru, Dom Caetano Ferrari, no dia 21 de novembro, às 17 horas, no Ginásio Poliesportivo de São José da Barra (MG).
Nesta cidade, mora a família de Frei Jean, mas ele nasceu em Passos (MG), no dia 8 de julho de 1979. Vestiu o hábito de São Francisco de Assis no dia 15 de novembro de 2009 e professou solenemente Ordem dos Frades Menores no dia 6 de dezembro de 2014.
Frei Jean vai celebrar a sua Primeira Missa no dia 22 de novembro, às 9 horas, na Igreja Matriz de São José.
Site Franciscanos – Como se deu seu discernimento vocacional?
Frei Jean – Desde muito cedo me interessei pela vida na Igreja, participando de diversas atividades em minha Paróquia no interior de Minas Gerais. Aos poucos fui me sentindo chamado à vida religiosa e, conhecendo a história de São Francisco de Assis, pensava em ser Franciscano, apesar de não conhecer nenhum franciscano pessoalmente. No entanto, o processo de discernimento foi mais longo e complexo do que parecia no início. Comecei a caminhada na Província, a qual foi interrompida por alguns anos, até que num certo momento o chamado à vida religiosa franciscana falou mais forte, quando retomei a caminhada e estou muito feliz.
Site Franciscanos– Quando resolveu ingressar no seminário?
Frei Jean – Eu tenho alguns amigos em Santos (SP) que sabiam do meu desejo de ser franciscano. Num primeiro momento me levaram à Igreja dos Capuchinhos do Embaré, mas lá não me senti acolhido, então me levaram ao Convento Santo Antônio do Valongo. Quem estava lá naquele ano era Frei Rozântimo, que nos acolheu muito bem, eu, minha mãe e meus amigos, nos convidou para tomar café, nos deu atenção. Foi então que percebi que era “daqueles franciscanos” que eu queria ser. Por indicação dos frades, escrevi a Frei Severino Clasen, então procurador vocacional, que me mandou um cartão postal, que guardo até hoje, com a data do estágio em Agudos. Lembro que fui ver no mapa da escola onde ficava Agudos… Meu padrinho pagou a passagem e fiz minha primeira viagem sozinho. No ano seguinte entrei no Seminário Santo Antônio e iniciei a caminhada na Província.
Site Franciscanos – Como foi sua caminhada formativa?
Frei Jean – Como já acenei antes, não foi muito linear. Entrei em Agudos em 1995 e fui até o último ano de Filosofia em 2002, quando em conversa com o Mestre achou-se por bem que eu interrompesse o processo formativo para melhor discernimento vocacional. Fui pra Minas Gerais, e ainda no final daquele ano consegui emprego em São Paulo, primeiro numa loja de um sírio no Brás, e em dezembro de 2002 entrei na Volkswagen do Brasil. Trabalhei lá por alguns anos, como também na Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Neste tempo “fora” pude amadurecer como pessoa e também como cristão. Me lembro que frequentava sempre as Missas, principalmente aos domingos, nas igrejas próximas de onde morava. Durante este tempo, o desejo de ser frade continuou até que, após algumas viagens ao Exterior, quis fazer uma experiência vocacional na Custódia da Terra Santa, experiência esta que foi decisiva para que eu retomasse o contato com a Província da Imaculada, com a qual me identificava mais e onde já havia passado alguns anos na formação. Desde o primeiro momento, a Província foi muito acolhedora na pessoa de seus frades e eu retomei o processo formativo em 2009, fazendo a profissão solene 2014.
Site Franciscanos – Como você se define como pessoa?
Frei Jean – Uma pergunta difícil de responder, não é fácil se definir. Digamos que sou bem mineiro, num primeiro momento tímido e mais reservado, mas após um tempo de convivência, ou como dizemos em Minas, ‘depois de pegar confiança’ a timidez dá lugar à conversa e ao riso, gosto muito de contar histórias, uma herança de família?! É comum as pessoas me acharem um tanto quanto sisudo, mas também atribuo isso à timidez e à herança da família materna, mas a convivência faz mudar esta primeira impressão. De modo geral tento ser muito prático no trato diário, uma das marcas que os anos de trabalho me deixaram. Discursos prolixos me incomodam, apesar de, por vezes, serem necessários. No dia a dia procuro ser discreto e comedido e acredito possuir uma autocrítica bastante acentuada.
Site Franciscanos – Fale um pouco de sua vida e sua família.
Frei Jean – Sou filho do Sr. João e de D. Catarina. Meu pai faleceu no final de 2008 após lutar alguns anos contra o câncer. Tenho um irmão mais velho que se chama Jairo e uma irmã gêmea chamada Jeane. Tenho dois lindos sobrinhos, João e Davi, um de cada irmão. Fui criado numa família muito unida, não somente pais e irmãos, mas também tios, tias e primos. A família de um modo geral sempre foi e ainda é uma forte referência para todos nós. O que atinge positivamente ou negativamente um primo, por exemplo, repercute fortemente em toda família. A família de minha mãe tem um jeito mais quieto e muito amoroso, já a do meu pai é igualmente amorosa, mas ao mesmo tempo festeira e falante. Sou muito grato a Deus pela minha família.
Site Franciscanos – Como você define o ministério sacerdotal?
Frei Jean – Não pretendo desenvolver aqui uma teologia do sacramento da Ordem. De forma breve, acredito que a própria expressão “ministério sacerdotal” já define a sua natureza. O presbítero, o qual recebeu pela prece da Igreja e a imposição das mãos do seu pastor o segundo grau do sacramento da Ordem, é aquele que a comunidade de fé elegeu e ordenou para servir, em todas as dimensões que são exigidas por este serviço. Será um bom sacerdote quem for um servo bom e fiel, a exemplo de Cristo.
Site Franciscanos – Quais as suas expectativas como presbítero na Igreja do Papa Francisco?
Frei Jean – Particularmente não gosto da expressão “Igreja do Papa”, a Igreja é de Cristo e dos fiéis cristãos, sejam eles leigos ou clérigos. Tive a graça de nascer no início do Pontificado de João Paulo II, passar por Bento XVI e agora o Papa Francisco. Tenho uma admiração especial por cada um deles por diversos motivos. O Papa é chamado a presidir a Igreja Universal na caridade, a ser o mais Servo entre os servos, a construir pontes (pontífice), a ser vigário de Cristo, ou seja, ser sinal de Cristo no mundo, vocação de todo batizado. Será um bom Papa quem conseguir em sua vida testemunhar tudo isso. Nesta ótica, acredito que o Papa Francisco certamente será marcante na história da Igreja e contribuirá ainda mais para com a Igreja de Cristo do que já contribuiu nestes poucos anos. O importante é não definir a Igreja ou o ser cristão a partir do Papa, mas juntamente com ele, que está num serviço de grande responsabilidade, procurarmos todos nós viver em plenitude o nosso batismo, sempre a partir do Evangelho. Como presbítero, minha expectativa é essa: ser acima de tudo um cristão autêntico e evangélico.
Site Franciscanos – O que diria para um jovem que procura a vida religiosa franciscana?
Frei Jean – Se um jovem procura a vida franciscana é porque recebeu de Deus um dom muito precioso. Eu diria a este jovem que, em espírito de gratidão a Deus por um dom tão bonito, o faça multiplicar e restitua estes dons para tudo e todos. No esforço, constância, determinação, perseverança, fidelidade ao chamado e na disposição ao serviço. Ser frade franciscano é uma grande alegria!