Fr. Nestor: ‘Laudato Si” é alegria e responsabilidade
17/06/2015
Cidade do Vaticano – Francisco de Assis, o Padroeiro da Ecologia, que serviu de inspiração para Jorge Mario Bergoglio na escolha de seu nome de Pontífice, volta a protagonizar na história da Igreja com a nova Encíclica do Papa. O título do documento, “Laudato Si”, significa “Louvado Sejas”, e é a frase inicial do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, escrito em 1225 e tido como o texto mais antigo da literatura italiana.
Na iminência da publicação oficial, marcada para esta quinta-feira (18/06), no Vaticano, Nestor Inácio Schwerz, OFM, comenta o que este evento representa para a Ordem e a família franciscana em geral.
“Para nós é uma grande alegria poder ver que o Papa Francisco bebe da espiritualidade de São Francisco de Assis. Então, esta ligação que sempre se faz: ‘o Papa Francisco e Francisco de Assis’ é para nós um motivo de particular alegria, mas mais do que isto, representa uma grande responsabilidade, quer dizer, nós mesmos temos que aprofundar a nossa própria espiritualidade, sobretudo em diálogo com o mundo de hoje. Sabemos que Francisco tinha toda essa relação fraterna, de ternura, de cuidado para com todas as criaturas, a começar pela criatura humana, principalmente as mais feridas, machucadas e excluídas, como no caso dos leprosos… mas também com todas as criaturas, mesmo o vermezinho que ele recolhe na estrada, a pomba que ele quer deixar voar e não deixar ir até o mercado… todos os episódios que temos em nossas biografias de São Francisco e que nos encantam na relação dele com todas as criaturas! Sabemos, porém, que não podemos ficar numa linguagem muito espiritualista, muito romântica, porque a questão da ecologia é uma realidade muito séria e desafiadora. Esta inspiração franciscana tem muita luz para oferecer neste sentido”.
Frei Nestor foi, até o Capítulo Geral da Ordem dos Frades Menores, encerrado no dia 7 de junho, Definidor Geral para a América Latina. A partir de julho, ele será o Visitador Geral desta Província Franciscana da Imaculada Conceição.
“Esta nossa ‘casa’ está sendo arruinada”
No final da Audiência Geral desta quarta-feira, falando diante de 25 mil pessoas na Praça São Pedro, o Papa recordou que nesta quinta-feira (18/06), será publicada a Encíclica “Laudato si, sobre o cuidado da casa comum”.
“Esta nossa ‘casa’ está sendo arruinada e isso prejudica a todos, especialmente os mais pobres. Portanto, o meu apelo é à responsabilidade, com base na tarefa que Deus deu ao ser humano na criação: ‘cultivar e preservar’ o ‘jardim’ em que ele o colocou (cfr Gen 2,15). Convido todos a acolher com ânimo aberto este Documento, que está em sintonia com a Doutrina Social da Igreja”, disse o Pontífice.
Bomba climática
“A Encíclica do Papa Francisco chega num momento-chave para o desenvolvimento. A Caritas espera que nos dê todo o ímpeto e a inspiração necessária para alcançar a transformação da mudança climática à mudança pessoal e política. Em meados dos anos 80 não sabíamos se íamos ser eliminados da terra a qualquer momento”, escreve Michelle Hough, da Caritas Internacional.
Nesse sentido, refere que passados 30 anos a bomba que caiu “não é nuclear mas climática”, com eventos extremos como “o aumento do nível do mar, o degelo da calote polar e as pessoas que cada vez se tornam sem-abrigo e passam fome”. Michelle Hough destaca que pelas informações recolhidas, a Encíclica do Papa Francisco vai encorajar a olhar para a relação com o meio ambiente e a viver com simplicidade.
A Caritas Internacional está animada com a publicação da Encíclica e contextualiza que muitas organizações do braço caritativo da Igreja Católica em todo o mundo trabalham sobre o clima e o meio ambiente e exemplifica que, com as comunidades, distribuem ajuda durante o período da seca e dos tufões, auxiliando as pessoas a reconstruírem as suas casas, os meios de subsistência e a reduzir o impacto dos desastres.
Michelle Hough adianta também que trabalham com comunidades devastadas por indústrias extrativas e promovem uma mudança fundamental nas questões políticas pessoais e ambientais. Neste contexto, a Caritas Internacional relaciona o tema do documento do Papa com o tema de trabalho da instituição para os próximos quatro anos – “Uma família humana, cuidando de criação”.
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O luto na Família
Como de costume, o Papa fez seu ingresso na Praça S. Pedro de papamóvel, para, assim, ter a oportunidade de saudar de perto os fiéis oriundos de várias partes do mundo.
Já diante da Basílica, Francisco deu sequência a seu ciclo de catequeses sobre a família, falando desta vez sobre o luto – experiência que não poupa sequer um núcleo familiar.
A morte faz parte da vida, disse o Papa, mas quando se dá na família, é muito difícil vê-la como algo natural. Para os pais, perder o próprio filho é algo “desolador”, que contradiz a natureza elementar das relações que dão sentido à própria família. Francisco falou de sua experiência com os fiéis que participam da missa na Casa Santa Marta quando alguns pais, ao falarem da morte do próprio filho, têm “o olhar entristecido”.
“A morte toca e quando é um filho, toca profundamente”, disse. A perda de um filho é como parar o tempo, onde passado e futuro não se distinguem mais. Toda a família fica paralisada. O mesmo acontece para o menor que fica órfão e, com sofrimento, se pergunta quando voltará seu pai ou sua mãe.
“Nesses casos, a morte é como um buraco negro que se abre na vida das famílias e à qual não podemos dar qualquer explicação.” E, às vezes, acaba-se por culpar ou negar Deus. “Eu os entendo”, disse Francisco, porque se trata de uma grande dor.
Todavia, prosseguiu o Pontífice, a morte física tem “cúmplices”, que são até piores do que ela, como o ódio, a inveja, a soberba e a avareza. O pecado faz com que esta realidade seja ainda mais dolorosa e injusta.
“Pensemos na absurda ‘normalidade’ com a qual, em certos momentos e lugares, os eventos que acrescentam horror à morte são provocados pelo ódio e pela indiferença de outros seres humanos. O Senhor nos liberte de nos acostumamo-nos a isso!”
Jesus nos ensina a não temer a morte, mas também a vivenciá-la de forma humana. Ele mesmo chorou e ficou turbado ao compartilhar o luto de uma família querida. A esperança nasce das palavras de Cristo à viúva que perdeu seu filho: “Jesus o restituiu à sua mãe”. “Esta é a nossa esperança, que o Senhor nos restituirá todos os nossos caros”, disse o Papa.
Se nos deixarmos amparar por esta fé, a experiência do luto pode gerar uma solidariedade mais forte dos elos familiares, uma nova fraternidade com as famílias que nascem e renascem na esperança. Esta fé nos protege seja do niilismo, seja das falsas consolações supersticiosas e nos confirma que a morte não tem a última palavra.
Por isso, é necessário que os pastores e todos os cristãos expressam de maneira mais concreta o sentido da fé junto às famílias em luto. E nos inspirar naquelas famílias que encontraram forças para perseverar na fé e no amor, testemunhando que o trabalho de amor de Deus é mais forte que a morte. “E lembremo-nos daquele gesto de Jesus, quando nos reencontraremos com os nossos caros e a morte será definitivamente derrotada.”