Frades franciscanos celebram com Dom Paulo Arns
04/12/2014
Os bispos franciscanos Dom Leonardo Ulrich Steiner, Dom Fernando Antônio Figueiredo, o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel e o Definidor Frei Mário Tagliari visitaram o arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, no dia 2 de dezembro como seus confrades de vida religiosa franciscana nesta Província da Imaculada Conceição do Brasil. A visita fraterna também tinha a finalidade de celebrar com D. Paulo seus 69 anos da ordenação presbiteral.
“Com seus 93 anos, impressionou-me a paixão de Dom Paulo por São Francisco, pela vida franciscana, por sua família (Dom Leonardo), pelo Papa Francisco, pela Amazônia, pela questão indígena e especialmente pela caminhada da Igreja no Brasil. Em síntese, foi uma tarde abençoada! Enquanto partilhávamos o saboroso café da tarde, foi consolador ouvir de Dom Paulo: ‘Vocês me trouxeram uma grande alegria’. E nós, edificados pela simplicidade, objetividade e sabedoria deste nosso irmão, um homem de Deus!”, disse Frei Fidêncio.
Dom Paulo também foi homenageado no último dia 30, na Catedral da Sé, durante uma Celebração Eucarística, presidida pelo arcebispo metropolitano de São Paulo D. Odilo Scherer, que ressaltou a importância de D. Paulo Arns para a Igreja Católica. “Já tínhamos feito convites em outras oportunidades e ele não pôde comparecer. Dom Paulo manifestou o desejo de celebrar na catedral 69 anos de sua vida de padre e estava muito feliz e disposto. É certo que ele é um exemplo, um estímulo e um encorajamento para os futuros padres”, disse D. Odilo.
Dom Paulo não falou muito como é do seu feitio e deixou a mensagem: “Que Deus abençoe as famílias e os jovens que desejam seguir a vida cristã”, disse.
Desde 2007, o cardeal vive junto à “Fraternidade Nossa Senhora dos Anjos”, em Taboão da Serra, onde recebe auxílio das irmãs da Ação Pastoral para as atividades cotidianas. Sempre que tem disposição mantém hábitos de leitura, inclusive em outros idiomas, e chega a traduzir textos. Desde então, suas aparições são raras e esta homenagem lotou a Catedral da Sé.
Dom Paulo chegou a São Paulo em meio à ditadura militar. Logo se colocou como autoridade moral contra a violação de direitos humanos, com prisões arbitrárias e tortura, e deu respaldo para que grupos de resistência pudessem existir. O Brasil, além da repressão, passava por um momento de intensa migração para as cidades, que se inchavam e não davam condições dignas de vida às massas. Nas periferias, o religioso incentivou a formação e o fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ressaltando a fé de que a Igreja Católica deve ser feita pelo povo, nas ruas, e não apenas nos templos.
D. Paulo criou, em 1972, a Comissão Brasileira Justiça e Paz, que articulou denúncias contra abusos do regime militar. Presidiu celebrações em memória do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme e do jornalista Vladimir Herzog, ambos mortos durante a ditadura. D. Paulo fundou o projeto “Brasil: Nunca Mais”, que reuniu docuentos sobre o uso da tortura durante o regime militar do Brasil. A iniciativa ajudou a sistemizar informações de mais de 1 milhão de páginas de 707 processos do STM (Superior Tribunal Militar).
“As experiências que desejo relatar, no frontispício desta obra, pretendem reforçar a ideia subjacente em todos os capítulos, a saber, que a tortura, além de desumana, é o meio mais inadequado para levar-nos a descobrir a verdade e chegar à paz”, escreveu no prefácio do livro D. Paulo.
Nascido em Forquilhinha, em Santa Catarina, no ano de 1921, Dom Paulo foi ordenado padre em 1945. Após cursar letras na Universidade Sorbonne, na França, uma das mais renomadas da Europa, retornou ao Brasil e passou a atuar em Petrópolis (RJ), na serra fluminense, onde permaneceu durante dez anos. Foi a partir da década de 1960, em São Paulo, que ganhou projeção como defensor dos trabalhadores. Consagrado bispo em 1966, foi elevado a arcebispo de São Paulo em 1970. Até 1998, permaneceu como principal referência na Arquidiocese paulistana.