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UCLAF celebra 50 anos: memória e profecia

31/10/2018

Notícias

uclaf_311018 830São Paulo (SP) – Com o tema “50 anos de UCLAF: memória e profecia”, acontece em Buenos Aires, Argentina, de 28/10 a 2/11, a 25ª Assembleia da União das Conferências Latino Americanas Franciscanas (UCLAF). A Conferência Cone Sul é a anfitriã do encontro, que celebra os 50 anos da UCLAF. Participam do encontro o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry; o Vigário Geral, Frei Julio Bunader; os Provinciais e Custódios da Ordem dos Frades Menores nos países Cone Sul. Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial desta Província, participa do encontro.

Na segunda-feira (29), às 19h, foi celebrada uma Eucaristia em ação de graças pelo 50º aniversário da UCLAF. A missa foi presidida pelo Arcebispo de Buenos Aires, Dom Mario Aurelio Poli; Frei Michael Perry e argentino Frei Julio Bunader. Antes da homilia, Frei Guido Zegarra, da Província Doze Apóstolos, entregou um livro ao Ministro Geral, afirmando: “Confiamos como um tesouro todo este caminho. Da vida escrita e viva, carregada de experiência e de sentido. Uma história inspirada em homens e mulheres de nossa querida América Latina; uma história de irmãos e menores, que se animaram a sair e encontrarem-se para compartilhar a alegria do Evangelho”. Após o gesto, Frei Michael Perry entregou a cada participante do encontro uma estola, exortando-os a ter viva a memória e animar as fraternidades a serem anunciadoras da paz, dando a vida como o Bom Pastor por suas ovelhas.

Em sua homilia (confira abaixo na íntegra), o Vigário Geral destacou que a UCLAF nasceu num período importante da Igreja, na implementação das orientações do Concílio Vaticano II, “com o desejo de assumir a novidade do Concílio e do Evangelho de Jesus Cristo com um rosto franciscano, atentos ao contexto social, cultural e político”, ressaltou Frei Julio.

“Hoje, depois de 50 anos da UCLAF, reconhecemos os erros por nossas hipocrisias, o peso que muitas vezes nos curva e produz cansaço, também agradecemos às inumeráveis visitas e presenças de Deus Pai, de Jesus ressuscitado e do Espírito Santo”, recordou o argentino.

Ao final da celebração, os participantes da UCLAF se dirigiram ao Convento São Francisco para um recreio fraterno com irmãos da Ordem Franciscana Secular (OFS) e amigos.

Confira a homilia na íntegra:

Este é um evento especial de memória e ação de graças, perdão e reconciliação, porque nos permite renovar a alegria e a ousadia de sermos Frades Menores na Igreja da América Latina e Caribe, como discípulos missionários de Jesus Cristo, para viver a paixão por Cristo e pela humanidade.

O caminho dos Ministros e Custódios das Conferências teve início numa época especial da sociedade e da Igreja Universal, marcada pela conclusão do Concílio Vaticano II. A partir deste momento, iniciou-se um processo fecundo de atualização na América Latina e Caribe; nas cinco Conferências Episcopais e nas Assembleias UCLAF da Ordem dos Frades Menores, com o desejo de assumir a novidade do Concílio e do Evangelho de Jesus Cristo com um rosto franciscano, atentos ao contexto social, cultural e político.

A liturgia de hoje pode nos ajudar a olharmos e projetarmos juntos como Frades Menores e como Família Franciscana na América Latina e Caribe. É provável que tenhamos vivido situações similares aos personagens do Evangelho de Lucas (Lc 13, 10-21), que nos apresenta dois milagres: a cura da mulher e a polêmica sobre a interpretação do culto a Deus e a observância do sábado. Trata-se da forma de agradar a Deus e fazer sua vontade. O chefe da sinagoga se concentra no respeito ao sábado. Jesus, ao contrário, privilegia o respeito à vida, à solidariedade e compaixão. Com isto, meditamos:

1) “A cura da mulher”, que “há dezoito anos estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e incapaz de se endireitar (Lc 13, 11). Trata-se de alguém que fica marginalizada, não pode dirigir-se aos outros de igual para igual, com a impossibilidade de olhar o próximo cara a cara e estabelecer uma relação de reciprocidade. Além disso, não tem a possibilidade de dirigir-se a Deus, restando somente a resignação. Por estar encurvada, tem dificuldades de ver o horizonte e o alcance de sua vista se reduz, até perder toda perspectiva de futuro, mais ainda: é alguém sem futuro. Esta mulher não pede nada. Obedece, deixa-se mover por Jesus, dirige-se e glorifica a Deus. Sofreu a opressão de uma piedade que escraviza e discrimina, de um poder que submete ao que a autoridade religiosa exige.

2) “A indignação do chefe da Sinagoga”, devido a cura realizada por Jesus. Ele repreende: “Há seis dias para trabalhar. Venham, então, nesses dias e sejam curados, e não em dia de sábado” (Lc 13,14). A estas palavras, Jesus responde com força: “Hipócrita” (v. 15), palavra que Jesus repete a quem tem uma atitude de rigidez ao cumprir a lei e, por isso, são escravos da lei. Mas a lei do Senhor não foi feita para escravizar, mas para libertar. Segundo o Papa Francisco, em diversas ocasiões Jesus chama de hipócritas as pessoas legalistas, porque por trás da rigidez há algo mais, algo oculto na vida de uma pessoa, algo de mal. Com efeito, a rigidez não é um dom de Deus, mas a mansidão, a bondade, a benevolência e o perdão. (Cf. Homilia de 24 de outubro de 2016).

3) O modo de agir de Jesus, do qual se envergonhavam seus inimigos, mas “toda a multidão se alegrava com as maravilhas que Jesus fazia (Lc 13, 17). “Disse: Mulher, você está livre da sua doença. Jesus colocou as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou, e começou a louvar a Deus. (Lc 13, 12-13). Jesus olha a mulher, chama-a, fala com ela; não é indiferente ante o sofrimento do ser humano, mas se compadece e atua com ternura e amor. Liberta-a, devolve a dignidade perdida. Este cuidado de Jesus faz com que a mulher possa novamente endireitar-se e libertar-se do sofrimento. À raiz desta experiência, ela louva e glorifica a Deus.

A mulher encurvada, o chefe da Sinagoga e Jesus são imagens dos seres humanos, homens e mulheres, e também nossas, que nos mostram: quem está oprimido, cansado e enfraquecido em sua dignidade; outros que são rígidos, intransigentes e insensíveis e também de quem não é indiferente ao sofrimento humano, porque se aproximam, olham com ternura, inclinam-se e libertam.

Hoje, depois de 50 anos da UCLAF, reconhecemos os erros por nossas hipocrisias, o peso que muitas vezes nos curva e produz cansaço, também agradecemos às inumeráveis visitas e presenças de Deus Pai, de Jesus ressuscitado e do Espírito Santo, que nos auxiliam, para que “como luzes no Senhor, caminhemos como filhos da luz” (Ef 5, 8), a exemplo de Cristo, que nos amou e se entregou por nós (Ef 5, 1), sejamos Evangelho vivo, em diálogo com todos, para juntos buscarmos caminhos de libertação aos irmãos e irmãs mais frágeis e de toda criação (cf. Laudato Sí 64). Santa Maria, Mãe de Deus: acompanha-nos em nosso peregrinar e caminha conosco, Amém.

Frei Julio Bunader, Vigário Geral da Ordem dos Frades Menores

Traduzido por franciscanos.org.br | Fonte: www.ofm.org.ar – Frei Pablo Reartes

Acompanhe a homilia: