Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Falece Frei Afonso Vogel, o Maestro de Xaxim

03/08/2017

Notícias

vogel_030817_2Frei Afonso Vicente Vogel

* 17/03/1932     + 03/08/2017 

 Nosso confrade Frei Afonso Vicente Vogel faleceu na manhã de hoje (03/08), às 9h15, no Hospital Frei Bruno, de Xaxim. No dia 21 de julho, Frei Afonso sofrera uma AVC hemorrágico, após queda ao chão. Desde então, seu quadro de saúde foi-se complicando devido à incidência de infecções e impossibilidade de intervenção cirúrgica para conter a hemorragia.

Na mensagem de comunicação da morte de Frei Afonso, assim se exprime Frei Alex Ciarnoscki: “No dia de hoje, Deus desceu no meio de nossa comunidade e nos visitou. E pediu de nós um gesto de amor, de entrega e de agradecimento. Olhou-nos um por um  e escolheu para si o que estava pronto. Deus não nos tirou Frei Afonso, mas o deixou ainda mais presente entre nós. Deus não arrancou Frei Afonso de nós, mas o plantou mais no fundo na memória de nossas vidas. Deus não o levou, mas o deixou em nossos corações. Frei Afonso não partiu, mas sim chegou em sua casa definitiva. Hoje, assim como nos ensinou nosso Pai São Francisco, a morte é celebrada como irmã: nos une no mesmo sentimento e nos coloca nos braços de Deus. Sim, a fé ilumina e afasta o absurdo da morte”.

A partir das 14h30 da tarde de hoje, o corpo de Frei Afonso será velado na igreja matriz de Xaxim. Às 19h00 haverá missa de corpo presente. Amanhã, às 8h30, haverá missa de Exéquias, e, em seguida, o corpo de Frei Afonso será sepultado no cemitério municipal.

 Dados pessoais, formação e atividades

– Nascimento: 17.03.1932 (85 anos de idade)

– Natural de Maratá, Porto União, SC.

– Vestição: 19.12.1951 – Rodeio

– Primeira Profissão: 20/12/1952 (64 anos de Vida Franciscana)

– Profissão Solene: 20.12.1955

– Ordenação Presbiteral: 01/07/1958 (59 anos de Sacerdócio)

– 1953 – 1954 – Curitiba – estudos de Filosofia;

– 1955 – 1958 – Petrópolis – estudos de Teologia;

– 1959 – Rio de Janeiro – curso de Pastoral;

– 11.12.1959 – Luzerna – professor, bibliotecário e cronista;

– 15.01.1965 – Rodeio – professor;

– 01.07.1965 – Ituporanga – seminário – diretor;

– 15.01.1971 – Xaxim – coordenador da Fraternidade e pároco;

– 20.12.1976 – Curitiba – vigário da casa e vigário paroquial;

– 09.12.1977 – Xaxim – vigário da casa e vigário paroquial;

 O maestro de Xaxim

No dia 25 de dezembro deste ano, exatamente na celebração de Natal, o Coral Arautos do Grande Rei, de Xaxim, SC, completará 45 anos de fundação. Frei Afonso esteve à frente desta obra o tempo todo, embora nos últimos anos tenha passado a batuta para Gisele Linhares, uma aluna que se tornou professora e regente do coral. Mesmo assim, não deixava de acompanhar diariamente as aulas de seus pupilos.

A paixão pela música começou cedo na família. “Meu primeiro presente de criança, com 7 ou 8 anos, em Bom Princípio, Porto União (SC), foi uma gaitinha de boca, o que já indicava meu gosto pela música. Nessa época, o meu irmão – somos em doze irmãos, sendo seis meninos e seis meninas – já sabia tocar violino. Meu pai insistia muito para que aprendêssemos música. Tanto ele como minha mãe estimulavam a gente a cantar e a gostar de música. Eles cantavam para nós cantos desconhecidos e faziam um belo dueto”, disse o frade em entrevista ao site “Franciscanos”. Frei Afonso é filho de uma família de religiosos e seu irmão, Vunibaldo, também era frade desta Província e faleceu em fevereiro deste ano.

No Seminário, Frei Afonso pôde se dedicar à música. Quando ingressou no Seminário Menor de Guaratinguetá, em 1942, exatamente quando esta casa de formação era inaugurada, tocava harmônio, piano e gaita. No Seminário de Agudos, começou a tocar órgão e depois não parou mais. “Como padre, em Luzerna, fiquei dois anos no seminário velho, dois anos no novo e um ano na paróquia. No primeiro ano passei observando Frei Henrique e, mais tarde, ele confiou a mim a aula de música. Depois, dei aula de música em Ituporanga, onde tinha um menino que era sobrinho de Frei Basílio Prim, o Cláudio Prim, um verdadeiro músico. Mas ele faleceu num desastre. Aliás, eu inaugurei o Seminário de Ituporanga, em agosto de 65, depois que foi fechado o antigo seminário de Rodeio, onde tinha dado meio ano de aula. Fiquei em Ituporanga até 1970”, recordou o frade.  Ele fez sua primeira experiência como regente de coral infantil em 1963, no Seminário de Luzerna. “Reuni alguns meninos voluntários com os quais fiz treinos especiais de voz e impostação. Deu certo. Notei que eu tinha jeito e, o que é importante, as crianças queriam aprender. Este pequeno coral recebeu o nome de “Corinho de Frei Afonso”, mas depois se diluiu com a minha transferência.

Em 1971, Frei Afonso foi transferido para Xaxim. Padre novo, com 38 anos, chegou para ser vigário numa paróquia grande. Em 1972, num ensaio de canto para 20 coroinhas, nasceu o coral. “A ideia nunca chegou a ser a de formar um coral, mas de a matriz ter crianças que cantassem bonito. Então, comecei a treinar com eles durante o ano e, no Natal de 1972, cantamos pela primeira vez na Igreja um repertório natalino, bem simples. Não me lembro se foi a duas vozes. Mas eram cantos bem entoados! O Frei Valentim colocou na crônica da casa que o povo chorou de alegria naquela noite. Nunca tinha escutado um coral de crianças. Hoje ainda as pessoas se emocionam nas apresentações do Arautos”, dizia Frei Afonso nesta entrevista.

Disciplinador, Frei Afonso dizia que para ser músico não havia outra maneira e, para isso, fazia cumprir as regras. “Se não obedecem,  passo uma descompostura bem bonita. No fim, pergunto: ‘Estou certo ou errado?’ Todas as crianças respondem juntas que estou certíssimo. E todos continuam amigos. Sou uma espécie de pai para eles. O tenor Beto Battistella me chama de segundo pai. Você atrai as crianças sem querer. Com a música. Não precisa ficar enganando ninguém. Você tem de ser o que é”, dizia, orgulhoso ao lembrar de nomes de seus ex-alunos que continuaram na música, como Fabiano Zoldan, que gravou dois CDs; Maysa Stainsack, Márcio Buzatto e Alberto Battistela, além da sua maestrina Gisele.

Para o frade, a música foi uma forma de evangelizar. “Quando ensinava crianças a cantar, notei que de fato estava promovendo o ser humano em sua comunicação com Deus e com o outro pela voz, pela fala e pelo canto. Se o instrumento musical, por melhor que seja, é inerte e só responde à sensibilização que eu lhe dou como tocador do instrumento, com o ser humano, principalmente com a criança é diferente. A sensibilização dada pelo mestre que ensina a cantar tem geralmente como resposta uma ressonância positiva inimaginável. A criança quer aprender, bastando haver alguém que saiba ensinar e mostrar: ‘é assim”’, ensinou o frade.

R.I.P.