Fake news e jornalismo de paz é tema do 3º encontro
05/05/2018
Frei Augusto Luiz Gabriel
Realizou-se nesta quarta-feira, dia 02 de maio, na sede da Província Franciscana da Imaculada Conceição, em São Paulo (SP), o III Encontro de Formação Permanente da Frente de Evangelização da Comunicação. Frei Gustavo Medella, Definidor Provincial e coordenador da Frente, apresentou como tema de reflexão, através de uma videoconferência, a Mensagem do Papa Francisco para o 52º dia das Comunicações Sociais (VEJA A MENSAGEM NA ÍNTEGRA), a ser celebrado no próximo dia 13 de maio de 2018, Solenidade da Ascensão do Senhor.
Marcaram presença frades, colaboradores e leigos que trabalham diretamente com a comunicação, a saber: Fundação Frei Rogério, de Curitibanos (SC), Rede Celinauta de Comunicação, de Pato Branco (PR), Grupo Educacional Bom Jesus, de Curitiba (PR), Serviço Franciscano de Solidariedade – Sefras (SP), Universidade São Francisco – USF (SP), Sede Provincial (SP), Frei Roger Strapazzon da Fraternidade Franciscana do Sagrado Coração de Jesus, de Petrópolis (RJ), e Mercês Brandão, da Paróquia Porciúncula de Sant’Ana, de Niterói (RJ).
O tema da mensagem foi retirado do Evangelho de São João: “A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32), e é complementado pelo subtítulo: “Fake news e jornalismo de paz”. Lançada pela primeira vez no pontificado do Papa Paulo VI, a Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais já é uma tradição na Igreja. Ela é sempre apresentada no início do ano e celebrada no Dia Mundial das Comunicações Sociais, no Domingo da Ascensão do Senhor.
O QUE HÁ DE FALSO NAS «NOTÍCIAS FALSAS»?
O Papa Francisco inicia sua reflexão perguntando o que então há de falso nas notícias falsas. Segundo o Santo Padre, a expressão fake news é objeto de discussão e debate. “Geralmente diz respeito à desinformação transmitida on-line ou nos mass-media tradicionais. Assim, a referida expressão alude a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário. A sua divulgação pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos”.
Discorrendo sobre a eficácia das fake news, Frei Gustavo propôs a seguinte reflexão: “Por que as notícias falsas possuem tanta eficácia e atingem os objetivos a que se propõem?” E sugere algumas respostas: “Primeiro porque elas se apresentam como algo que imita a verdade (natureza ‘mimética’). A segunda razão é porque se apoiam em estereótipos e preconceitos que normalmente são generalizados. E o terceiro motivo: exploram emoções imediatas e às vezes fáceis de serem despertadas, como, por exemplo: a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração”, explicou.
COMO PODEMOS RECONHECÊ-LAS?
Segundo o Papa, nenhum de nós pode se eximir da responsabilidade de contrastar estas falsidades. Não é tarefa fácil, porque a desinformação se baseia muitas vezes sobre discursos variegados, deliberadamente evasivos e subtilmente enganadores, valendo-se por vezes de mecanismos refinados. “Dentro da medida do possível, temos o dever de contrapor, de apresentar e desmascarar estas falsidades”, afirma Frei Gustavo.
O Papa chama a serpente lá do Antigo Testamento, aquela que “passou a conversa” em Eva, de ‘artífice da primeira fake news’. “Se o diabo de fato é o pai da mentira, a serpente tentadora é aquela que veio trazer a confusão. Se não tomarmos conta, esta base de maldade que habita em nossa sociedade, pode agir também dentro de nós”, destacou o palestrante.
Para Frei Gustavo, as fake news rapidamente viralizam porque correm com muita pressa, apoiadas na lógica do “querer mais” e do “saber mais”. “Muitas vezes estamos ávidos por causar algum impacto por conta daquela notícia falsa e acabamos replicando a mesma”, ressaltou.
«A VERDADE VOS TORNARÁ LIVRES»
Ainda na mensagem, o Papa Francisco faz referência ao filósofo e jornalista do Império Russo, Fiódor Dostoevskij, que deixou escrito algo notável neste sentido: “Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a pontos de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo”.
“A verdade vai além de um juízo sobre as coisas, ou de trazer à luz coisas obscuras. A verdade tem a ver com a integridade da pessoa. Como percurso e elementos fundamentais para a busca da verdade, o Papa também oferece ideia da libertação da falsidade e da busca do relacionamento”, sublinhou Frei Gustavo.
A PAZ É A VERDADEIRA NOTÍCIA
Encerrando sua mensagem, em uma fala mais direta aos jornalistas e aos profissionais da comunicação, o sucessor de Pedro diz que o melhor antídoto contra a falsidade, passa fundamentalmente pelas pessoas. “Quando a pessoa deixa emergir a verdade através de um diálogo sincero, com espontaneidade e liberdade, a verdade vem à tona. Nós que trabalhamos com a comunicação temos uma grande missão, somos guardiães da verdade, como fala o Papa Francisco”, observou Frei Medella.
Edson Honaiser, coordenador de jornalismo da Rádio Celinauta, afirma que convive com notícias falsas no dia a dia de trabalho. “Na atualidade a gente vê por aí uma enxurrada de publicações sem fundamentos. Existe uma interrogação no ar sobre o que é ou não é confiável, sobre o que é verdadeiro ou não, por isso em nossa emissora temos a intenção de verificar e trazer a reflexão em torno daquilo que está sendo propagado por aí”, sublinhou.
Bruna May, locutora e repórter na rádio Coroado, afirmou: “Mais do que nunca precisamos tomar cuidado antes de levarmos para o ar novas publicações e atualizações. Hoje, muitas pessoas já conseguem identificar e separar o que é bom e o que é ruim, e o que é fake. Muitas vezes, a notícia real é mal interpretada, imagina quando a notícia é falsa. Precisamos checar as informações e levar o que é correto até os nossos veículos de comunicação”.
Encerrando o terceiro Encontro de Formação Permanente, Frei Gustavo propôs aos participantes que rezassem a oração que encerra a mensagem do Papa Francisco. O próximo encontro acontecerá no dia 06 de junho e contará com a assessoria de Frei Claudino Gilz, professor de Ensino Religioso do Grupo Educacional Bom Jesus, de Curitiba (PR).