A Fraternidade Frei Galvão, de Pato Branco, recebeu no último fim de semana o Encontro Distrital da Ordem Franciscana Secular (OFS), reunindo representantes de Pato Branco, Cascavel, Foz do Iguaçu, Guaraniaçu, Capitão Leônidas Marques e Céu Azul. O evento, que ocorre anualmente em uma das seis cidades, teve Pato Branco como sede em 2025; no próximo ano, será realizado em Céu Azul.

O encontro foi marcado por momentos de formação, oração e convivência fraterna. Pela manhã, os participantes acompanharam uma programação intensa, que incluiu missa, palestras e reflexões sobre temas centrais do carisma franciscano. Frei Luiz Iakovacz, assistente espiritual da fraternidade local, destacou o propósito do encontro. “É a Ordem Franciscana Secular que todo ano se reúne numa dessas cinco cidades. Neste encontro em Pato Branco, tivemos formação durante a manhã, com missa e palestras sobre Frei Galvão e sobre o oitavo centenário do Cântico do Irmão Sol, com a participação de Frei Mário Luiz Tagliari. À tarde, o clima já foi mais de descontração, com atividades de lazer”, comentou. 

Frei Luiz lembrou a importância dos leigos na vida da Igreja. “Os leigos têm um papel fundamental. A Ordem tem sua regra, seus compromissos e sempre precisa de um assistente espiritual indicado pela província. E claro, a alegria é uma marca nossa – não uma alegria forçada, mas aquela que nasce da espiritualidade”.

Legado de serviço e caridade

Na parte da manhã, dedicada à formação, Frei Mário falou sobre Frei Galvão. Destacou aspectos da vida do primeiro santo brasileiro, frade de nossa Província Franciscana da Imaculada, mencionados na homilia do Papa Bento XVI durante a missa de canonização em São Paulo: a “disponibilidade para servir o povo sempre que era solicitado”. Na primeira biografia de Frei Galvão, publicada em 1927, encontramos que ele era muito procurado “para alívio das consciências atribuladas, para apaziguar famílias e mesmo para arranjos de negócios temporais”. O Papa Bento XVI o chama de “conselheiro de fama”.

Frei Galvão se destacava pelo modo acolhedor e caridoso com que recebia aqueles que acorriam ao Convento de São Francisco. Após concluir os estudos filosóficos e teológicos, recebeu diversas funções: porteiro, confessor, pregador, guardião e assistente espiritual da Fraternidade das Chagas da Ordem Franciscana Secular do Largo São Francisco. Destacou ainda o Papa Bento XVI que Frei Galvão foi um “dispensador da caridade, especialmente dos pobres e dos enfermos”.

Frei Galvão dedicou sua vida aos cuidados dos pobres e necessitados. No caminho diário entre o Convento de São Francisco de São Paulo – onde residiu por 60 anos – e o Mosteiro da Luz, que ele mesmo desenhou e construiu, encontrava-se com pobres, necessitados e doentes que vinham ao seu encontro. A todos oferecia uma palavra de conforto, esperança e sua bênção.

Foi assim que surgiram as pílulas, fruto de seu grande amor, zelo, caridade e compaixão para com os doentes. Certa vez, impossibilitado de visitar um jovem que sofria terríveis dores, escreveu num pedacinho de papel esta invocação à Virgem Imaculada, de quem era devotíssimo: “Post partum, Virgo, inviolata permansisti; intercede pro nobis” (Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta; Mãe de Deus, intercede por nós). Pediu ao portador que entregasse ao enfermo para ser tomada com fé e devoção a Maria. O jovem foi curado. Mais tarde, ele repetiu o gesto com uma senhora em perigo de morte durante o parto; ela também foi curada e deu à luz seu filho.

Assim se tornou tão popular buscar as pílulas e fazer a “Novena das Pílulas de Frei Galvão”. Inicialmente confeccionadas pelas Irmãs da Imaculada Conceição, da Ordem das Concepcionistas, mais tarde também passaram a ser produzidas pelos franciscanos e franciscanas nos lugares de devoção ao santo.

São João Paulo II, por ocasião da beatificação de Frei Galvão, em Roma, em 25 de outubro, concedeu-lhe o título de “Homem da Paz e da Caridade”. Assim como São Francisco de Assis, São Frei Galvão dedicou sua vida ao Evangelho, no seguimento de Jesus Cristo, levando por onde passou a paz e o bem.

O recanto franciscano e a herança de Irmã Pierina

Entre os momentos marcantes do encontro esteve o depoimento da Irmã Pia, que falou sobre o Recanto Franciscano São Francisco, um dos espaços religiosos mais tradicionais de Pato Branco – idealizado e construído pela conhecida Irmã Pierina. “Irmã Pierina pensou, projetou e realizou tudo: desde a planta até os detalhes do recanto. Foi uma obra movida pela espiritualidade franciscana que ela viveu desde o início, perto de Assis, onde fica o nosso noviciado”, contou.

Ela destacou que o recanto é uma representação viva do Cântico das Criaturas, um dos textos mais antigos da língua italiana e uma das expressões mais profundas da espiritualidade de São Francisco. “Ela quis representar o Cântico, e o fez muito bem. Hoje, a cidade inteira busca aquela água da fonte barroca. Há até quem diga que a bênção do Frei Policarpo ajudou a encontrar a nascente daquele poço profundo”, relatou, entre sorrisos. A religiosa lembrou ainda que o espaço permanece aberto diariamente e é procurado por moradores e visitantes em busca de espiritualidade, silêncio e a tradicional água do recanto.

O encontro distrital reforçou o espírito franciscano de proximidade, simplicidade e alegria,  marcas que ficaram evidentes nas falas, na convivência e no ambiente descontraído entre os participantes. “É a verdadeira alegria, aquela que nasce da espiritualidade”, resumiu Frei Luiz. O evento encerrou com abraços, reencontros e a promessa de continuidade do caminho conjunto: no próximo ano, é Céu Azul quem acolherá a grande família franciscana da região.

 

Por Betto Rossatti (texto) Marcos Souza (imagem) – Rede Celinauta de Comunicação