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O protesto de Frei Pedro contra a destruição da Casa Comum

09/07/2023

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Os peixes coloridos parecem voar em meio a recifes no fundo do mar, a bela arraia faz seu balé, observados pelo polvo majestoso. O homem olha a tudo se achando o senhor, enquanto o santo de Assis ergue os braços num hino de louvor ao verdadeiro Senhor. Este é o cenário “plasticoceânico” de Frei Pedro Pinheiro que o visitante e amante da arte e da natureza vai encontrar no antigo Teatro Carlos Gomes, em Bragança Paulista (SP). Mas ele que não se engane. A beleza das obras não esconde o protesto do artista plástico, frade desta Província da Imaculada Conceição, contra a destruição do Planeta Terra, a nossa Casa Comum, como definiu o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’.

“Frei Pedro Pinheiro, que sempre teve uma produção predominantemente figurativa e religiosa, emociona-se neste momento com os dados superlativos que a quantidade de plástico presente nos oceanos representa não só para a fauna marinha e o ecossistema, mas também para a saúde humana e a economia global”, explica o curador Fabio Delduque, um grande incentivador do artista depois que conheceu suas obras.

A exposição “O Universo Plasticoceânico” fica até o final de agosto no Centro Cultural Prefeito Jesus Adib Abi Chedid e é também uma grande oportunidade de conhecer esta nova fase do escultor Frei Pedro.

O frade conta que começou a fazer os dois primeiros peixes com materiais recicláveis ainda quando morava na Fraternidade de Bragança Paulista, mas não pensava que chegaria a esta coleção, embora, como bom filho de São Francisco, tivesse em mente que poderia alertar as pessoas sobre a preservação do meio ambiente. Com a mudança para a Fraternidade de Agudos (SP), Frei Pedro confessa que sentiu necessidade de “criar uma nova pesquisa, uma nova compreensão da vida”.

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Foi quando percebeu que o lugar – o gigantesco Seminário que se tornou Casa de Encontros – oferecia, consequentemente, muito material reciclável. “Havia muito lixo ocupando espaço ali. Um dia, Frei Osmar Dalazen me levou de caminhãozinho e trouxemos uma grande quantidade de material, além do plástico que eu já estava juntando. Frei Aristides Luiz Pasquali (que faleceu no último mês, no dia 6) morava lá na época e separava cuidadosamente todo o lixo plástico. Era impressionante o trabalho dele. Foi uma das grandes e importantes influências nessa minha abordagem e compreensão do que eu estou produzindo atualmente. Havia gente que não era artista e oferecia, de uma maneira simples, condições de sustentabilidade do planeta. Era um grão de areia, mas era. Então, com o tempo eu me deixei tocar por essa influência maravilhosa do Frei Aristides e também pelo lugar que produzia muito descartável”, recordou o frade.

A mudança não demorou. “Um dia vendo aqueles dois peixes que eu tinha levado de Bragança, enquanto ouvia o ‘Milagre dos Peixes’, de Milton Nascimento, e, de uma maneira subliminar, meu subconsciente capturou aquilo de que eu precisava fazer: mais peixes. E ali, então, iniciei uma série da fauna marinha e comecei a elaborar mentalmente o porquê disso. Comecei a perceber que aquilo tudo poderia configurar um discurso visual que fosse eloquente”, revelou, fazendo “esse discurso” se tornar realidade nesta exposição. Para ele, é a exposição mais séria de sua vida.

Presépio “Sem Terra”

“Ao trocar seus pincéis e tintas pelo soprador térmico, ele derrete, funda e molda o plástico descartado com objetivo de criar as suas obras e também chamar a atenção para esse problema, incentivando a mudança de comportamento em relação ao descarte de plástico. Ao transformar esse material em expressão criativa, o artista mostra que a reciclagem pode ser uma solução viável e inspiração para as pessoas repensarem seu papel na preservação do meio ambiente”, lembra o curador.

Nos últimos anos, segundo Fabio, o aumento alarmante da poluição plástica, principalmente nos rios e oceanos, tem se tornado uma preocupação global. No entanto, em meio a esse cenário preocupante, surgem artistas engajados e criativos que encontram nas suas obras uma maneira poderosa de conscientizar as pessoas sobre o problema e promover a reciclagem desse material tão abundante.

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“Eu sempre, emocionalmente, fico muito envolvido com cada peça, com cada item que estou desenvolvendo e tenho a maior satisfação de perceber que agora, mais do que nunca na minha vida, a obra e cada item estão estreitamente relacionados. Tudo configura um acervo que quer falar de transcendência, que quer falar de imanência, do chão em que a gente pisa e o que a gente está pisando, o que a gente está produzindo, como a gente está fazendo na manutenção desse nosso ambiente, tão precário hoje em dia em meio a outros valores que são totalmente inadequados para exigência que o Planeta tem. A natureza nos oferece de um modo gratuito, gracioso, abundante, generosamente tudo para o nosso viver e nós estamos querendo transformar isso em poder, em dinheiro. A economia de Deus é outra”, ensina o frade.

Fabio Deluque (à esq.) e Frei Pedro Pinheiro

Segundo o curador, o conteúdo da Mostra tem como objetivo emitir um alerta entre tantos outros já feitos por instâncias da própria natureza e também por grupos de indivíduos atentos às condições desregradas impostas pela própria espécie humana, em suas incontroláveis e inescrupulosas formas de competição gananciosa, visando tão somente a destruição e o acúmulo de riquezas.

A exposição reúne 70 objetos de plástico reciclado; 12 quadros de plástico sobre tela; 5 pinturas óleo sobre tela; 8 pinturas sobre papel; 3 esculturas fundidas; 3 presépios; e 1 via crúcis de 15 peças. A visitação é gratuita e acontece diariamente, inclusive finais de semana, das 10 horas às 17 horas, na Rua Conselheiro Rodrigues Alves, 251, no Centro de Bragança Paulista.

A Exposição tem o apoio da Prefeitura Municipal de Bragança Paulista, Universidade São Francisco, Arte Serrinha Produções Culturais e Província Franciscana da Imaculada Conceição.


Moacir Beggo