Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Encontro de irmãos que trabalham com povos originários tem sua primeira edição na Guatemala

21/10/2025

Notícias

O primeiro encontro de frades que trabalham com povos ancestrais se realizou, entre os dias 15 e 19 de outubro, na Cidade da Guatemala, acolhido por fraternidades franciscanas deste país da América Central, território da Província Franciscana de Nossa Senhora de Guadalupe. O encontro acolheu irmãos das três conferências que compõem a União das Conferências Latino-Americanas Franciscanas (UCLAF) e envolveu participantes da Argentina, Brasil, Colômbia, Peru, México, Guatemala e El Salvador, contando também com a presença do Secretário Geral para a Evangelização, Frei Francisco Gómez; o Animador das Missões, Frei Denis Tayo; e do Definidor Geral para a América Latina, Frei Joaquin Echeverry. Os dois primeiros dias de atividades foram na Casa de Retiros Monte São Francisco,  localizada no mesmo lugar onde está a Cúria Provincial.

A primeira palavra de saudação dirigida aos participantes foi do Presidente do CELAM, o Cardeal Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre, Brasil que, falando ao vivo por videoconferência, agradeceu à Ordem por dispensar especial atenção aos povos indígenas que, conforme recorda o Papa Leão XIV, em sua primeira Exortação Apostólica, Dilexit te, “estão dentre os mais pobres entre os pobres”. Também incentivou os participantes a conservarem a alegria franciscana, marcada pelo bom humor, sendo esta uma forma de tornar a missão mais leve e cheia de entusiasmo. Também o Secretário Geral para a Evangelização, Frei Francisco Gómez, e o Presidente da UCLAF, Frei Fernando Aparecido dos Santos, deram palavras de boas-vindas. “Que vocês possam deixar que Luz do Espírito Santo reacenda no coração de vocês o desejo de ler os sinais dos tempos, de se fazerem presentes aonde o Espírito assim os enviar”, desejou Frei Fernando.

O encontro contou também com a assessoria de Padre Ricardo Falla, sacerdote jesuíta nascido na Guatemala, com 93 anos, que, além de missionário, é antropólogo e teólogo, dedicando grande parte de sua vida na convivência, no estudo e na evangelização com os povos originários. Primeiramente, Padre Ricardo partilhou brevemente sua trajetória. Depois, foi fazendo intervenções durante a apresentação das presenças, sempre provocando-as ao cultivo da proximidade com os povos dos quais se colocam a serviço.

Na segunda parte da manhã e na primeira da tarde do primeiro dia, os frades tiveram a oportunidade de apresentar suas experiências, colocando-se em diálogo com o assessor, Padre Ricardo, e os demais participante. Foram apresentadas ao todo nove presenças em cinco países (Argentina, Brasil, Colômbia, Guatemala, México e Peru), com variados tipos de serviço, desde o trabalho paroquial, o auxílio na articulação para luta por direitos e preservação da memória dos povos, a defesa dos territórios e do cuidado com a Comum, a partilha da vida ordinária, o auxílio na recuperação de práticas e ritos tradicionais, entre outros.

No segundo dia, os participantes foram saudados pelo Ministro geral, Frei Massimo Fusarelli que, direto de Angola, na África, via on-line, reforçou os quatros eixos (1. Sinodalidade e participação; 2. Solidariedade e partilha de vida com os menores de cada tempo; 3. Anúncio da Justiça e Construção da Paz; 4. Nova Contemplação) e três linhas de ação (1. A Amazônia nos convoca; 2. Fragilizados com os fragilizados; 3. Ouvir a voz do Senhor hoje) apresentados pela Comissão para as Novas Formas de Vida presença e animação na América Latina como importante referencial para animar a presença junto aos povos originários. Frei César Külkamp, também Definidor para a América Latina, acompanhando Frei Massimo na África, teve a oportunidade de enviar sua saudação aos participantes.

A partir de todas as realidades apresentadas e das provocações trazidas nos diálogos e debates, os irmãos puderam apresentar algumas conclusões e desejos que dizem respeito à animação das presenças junto aos povos originários, entre eles:

1.  A presença e partilha de vida com os povos indígenas é um modo de evangelizar muito próprio da identidade franciscana e precisa ser estimulado entre os irmãos e as fraternidades; pois a cultura do descarte, a prevalência do mercado, a acumulação das riquezas e o consumo predatório têm colocado em grave risco tanto o planeta quanto a sobrevivência digna dos povos originários, lançando-os entre mais pobres dos empobrecidos.

2. A dificuldade de se encontrar irmãos com idoneidade e desejo de trabalhar com os povos originários e aprender com seu modo de vida segue como grande desafio;

3. A organização de um projeto para esta forma de presença e evangelização que envolvesse as diferentes instâncias poderia garantir mais segurança na condução e na continuidade dos processos;

4. Seria necessário divulgar de forma mais ostensiva e extensiva este tipo de presença para que haja o conhecimento dos irmãos em toda Ordem e para além dela.

5. Dedicar-se com empenho ao aprendizado da língua do povo ao qual se serve é tarefa importantíssima a ser abraçada pelo frade que se dispõe a este serviço.

6. Os irmãos que são escolhidos ou que se apresentam para este serviço devem ser acompanhados e também receber uma cuidadosa preparação;

7. As presenças que já existem, especialmente na Amazônia, devem ser reforçadas com urgência, buscando os meios necessários para tal, em termos de irmãos e outros auxílios e recursos;

8. O trabalho junto a uma realidade complexa, como a dos povos originários, exige um intenso trabalho em rede, envolvendo agentes da Igreja e para além dela. O esforço nesta direção é indispensável.

9. Houve também a indicação de um Comitê Executivo, com um representante de cada Conferência da UCLAF, seguiria trabalhando as indicações do encontro, em parceria com a Comissão para as Novas Formas e o Secretariado Geral para a Evangelização. Os irmãos indicados para compor este comitê foram: Frei Sebastián Robledo (CFBSC), Frei Antonio Vasquez (Conferência Bolivariana), Frei Alfonso Barrientos (Conferência Nossa Senhora de Guadalupe).

Nos dias 16, 17 e 18 de outubro, os participantes fizeram uma peregrinação e uma experiência de convívio em regiões de forte tradição originária, primeiramente na Região de Chichicastenango. Em seguida, passaram dois dias em Zacualpa, região da Guatemala na qual os frades estão presentes há mais de 40 anos, local de fortes experiências de martírio e também marcada influenciada pela cultura maia. Foi uma intensa experiência de inserção junto à cultura e a vida destes povos e uma experiência da constituição de uma presença evangelizadora a partir do diálogo intercultural e a escuta atenda e comprometida com a realidade, as alegrias e as dores do povo.

No dia 18, regressando à cidade de Guatemala, os frades tiveram a oportunidade de conhecer o Santuário de São Francisco, o Grande, no município de Antígua, onde participaram da Celebração Eucarística. Foram acolhidos pela fraternidade local e receberam o “Certificado de Peregrinos da Esperança”, tendo em vista que o Santuário foi escolhido como Igreja Jubilar, recebendo, até o momento, cerca de 40 mil peregrinos.


Frei Gustavo Wayand Medella, OFM