Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Tempo da Profissão Temporária: missão e compromisso diante de um novo ciclo

08/07/2025

Notícias

“Entre os diversos benefícios que temos recebido e ainda diariamente recebemos da generosidade do Pai de toda misericórdia e que devemos agradecer a ele, o Glorioso, o maior é a nossa vocação.” (Dicionário Franciscano)

Conforme nos mostram os escritos e relatos de São Francisco de Assis sobre a vocação, apresentados por São Boaventura, é possível acompanhar a trajetória de sua caminhada, desde o chamado, sua confirmação na vida religiosa, até a sua entrega total às vontades de Deus. Francisco percorreu uma caminhada penitencial que o levou à descoberta total do seguimento de Jesus Cristo. Mais de 800 anos se passaram, e, na trajetória da Ordem fundada pelo Pai Seráfico, muitos jovens decidiram seguir os passos d’Aquele que veio ao mundo para nos salvar, a partir desse exemplo todo próprio da vida franciscana.

Na atualidade, esse caminho continua repleto de encruzilhadas, motivadas ainda mais por um mundo de consumismo e de vãs facilidades; um mundo regado pelas dinâmicas virtuais fundamentadas no ter e não no ser. Mas em meio a tantos fascínios, a presença viva de Deus fala mais alto para aqueles que encontram em Cristo o caminho para viver a paz e o bem com todos os irmãos.

A Província da Imaculada Conceição do Brasil é uma das entidades franciscanas presentes no mundo para jovens que desejam seguir os mesmos passos de São Francisco de Assis. Ao longo dos seus 350 anos, o processo de formação dos frades no território provincial da Imaculada passou por alterações, próprias da história que segue em frente, mas sempre buscando não perder o foco naquilo que conduz a vida religiosa franciscana: o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A Animação Vocacional, o Postulantado, dentro da perspectiva do “Vinde e vede” (Jo 1,39), e o Noviciado; têm como proposta promover um mergulho intenso na vida franciscana, de forma que o vocacionado possa vivenciar, em sua rotina de estudos e em fraternidade a essência de seu seguimento em Cristo. Como em um processo de maturação, todos passam por uma importante fase de imersão para que, em seu próximo passo, na Profissão Temporária, possam construir as bases sólidas da vida franciscana. É a partir desta etapa que se inicia o tempo de Vida Religiosa do frade menor.

“O Tempo da Profissão Temporária reside na possibilidade de o jovem frade aperfeiçoar sua vida de maneira autêntica e comprometida com o carisma franciscano, por meio do seguimento de Cristo pobre, humilde e crucificado. A formação nesta etapa não é apenas intelectual, mas também se dá através da vida cotidiana na fraternidade, que, por meio da oração, do trabalho, da convivência fraterna e do serviço apostólico, proporciona um amadurecimento humano e religioso. É um processo que busca transformar o frade, moldando-o segundo o espírito de São Francisco, para que possa ser um instrumento de paz e bem no mundo”, explicou Frei Roger Strapazzon, mestre na Fraternidade São Boaventura, em Campo Largo (PR).

O local é responsável pela formação dos frades na etapa de Profissão Temporária e, segundo Frei Roger, esse tempo deve favorecer os compromissos da profissão religiosa na Ordem dos Frades Menores.

“Por isso, todo projeto formativo busca inserir os jovens frades de maneira concreta naquilo que é próprio da vocação religiosa e franciscana:

– tempo adequado para o cultivo da vida de oração, bem como tempo oportuno para a vivência dos Sacramentos da Igreja, meditação e leitura orante da Palavra de Deus;

– fortalecimento dos vínculos fraternos, através de relações saudáveis e da busca comum;

– disponibilidade para o trabalho, como fonte de graça e oportunidade de se colocar como servidor;

– abertura para a missão, por meio das práticas apostólicas, atendendo às necessidades da Igreja e do povo de Deus;

– tempo oportuno e precioso de estudo, com uma formação sistemática das diferentes áreas do conhecimento, como Filosofia, Teologia, Franciscanismo, Humanidades e Sociologia, bem como o estudo das línguas portuguesa e espanhola.”

Para chegar ao novo momento do Pós-Noviciado ou tempo de Profissão Temporária, os frades participaram de importantes momentos de trocas de vivência e escuta durante o Capítulo Provincial.

“No último Capítulo Provincial, realizado em novembro de 2024, os frades capitulares aprovaram uma nova proposta de formação que impactou desde a Animação Vocacional até a Formação Permanente. Enfatizou-se que todo processo formativo é uma formação permanente, uma possibilidade de amadurecimento e conversão, renovação e transformação. O ponto inicial e final é sempre Jesus Cristo, inspirados por São Francisco e Santa Clara, movidos pelo Evangelho e interpelados pelos desafios do mundo atual”, explicou o frade.

Segundo ele, a etapa sofreu importantes alterações no que se refere à formação acadêmica. Ele esclareceu que, até então, o curso acadêmico de Filosofia correspondia à maior parte deste itinerário.

“Com a nova proposta, o curso de bacharelado em Filosofia foi substituído por um curso próprio, pautado conforme nossos documentos (Ratio Studiorum e Ratio Formationis Franciscanae) e os documentos da Igreja. Este novo método procura oferecer uma formação integral aos frades de profissão temporária, valorizando o estudo e ampliando os horizontes dos conhecimentos, não apenas da Filosofia, mas também da Teologia, do Franciscanismo e das Ciências Humanas.”

Frei Roger detalhou que a mudança ocorreu em vista da importância de aproximar os frades da formação inicial às fraternidades da Província. Segundo ele, atualmente esse percurso já é realizado na Fraternidade São Boaventura, em Campo Largo (PR), e agora passou a se expandir para outras fraternidades, de forma que os frades possam se inserir em uma realidade mais próxima das frentes de atuação e evangelização.

Frei Gilberto Silva, mestre e professor na Fraternidade Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ), também responsável por acompanhar os frades na etapa do Pós-Noviciado, salientou que o atual processo formativo é resultado de pelo menos seis anos de estudo e discussão em Capítulos, Assembleias e Fóruns provinciais.

“Toda mudança tem implicações e, no ambiente da Igreja, pode parecer que isso leva muito tempo. Vale ressaltar que essa transformação começou há pelo menos seis anos e que hoje, mais do que nunca, ela é necessária para uma maior fidelidade ao Evangelho e um retorno à identidade franciscana e a tudo o que nosso carisma comporta”, destacou. Assim como Frei Roger, Frei Gilberto esclareceu que a etapa formativa que sofreu maior mudança foi a do pós-noviciado.

“Durante muitos anos a discussão foi sobre a pastoral vocacional e a formação permanente. Acredito que nosso novo processo formativo ganhou não somente uma nova estrutura e organização, mas também uma nova metodologia. Um cuidado que vai ‘da pastoral vocacional à eternidade’, porque o frade menor está sempre no movimento de formação. O novo programa formativo tem um fio condutor que busca unificar e entrelaçar todas as etapas.”

O desafio para os próximos três anos, segundo o frade, é garantir que o processo formativo seja familiar aos vocacionados, postulantes, noviços, frades do pós-noviciado e também à formação permanente. Sobre a diversidade formativa dos frades, Frei Gilberto abordou as diferentes realidades apresentadas aos jovens que desejam seguir o caminho franciscano, destacando:

“O Instituto Teológico Franciscano, a Editora Vozes, a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus com suas comunidades, o Colégio Bom Jesus, o Instituto dos Meninos Cantores, o Sefras, a Paróquia São Francisco em Campos Elíseos e a Paróquia Santa Clara de Assis em Imbariê com suas comunidades, e as pastorais no final de semana são o cenário do cotidiano formativo da etapa de formação.”

Ele ainda explicou que, nesse universo formativo presente na atualidade da Província, em Petrópolis, estão 18 frades (do Brasil e de Angola); 3 da Custódia de São Benedito e 4 da Custódia das Sete Alegrias de Nossa Senhora, totalizando mais de 25 frades.

Sobre as expectativas para esse novo momento da etapa formativa, Frei Gilberto reforçou a importância da esperança: “No ano do Jubileu da Esperança, não podemos esperar outra coisa para este momento. A ‘esperança’ foi o movimento iniciado, revisto e atualizado no último Capítulo Provincial. Agora devemos contar também com a ação do Espírito Santo para que as renovações aprovadas se tornem realidade efetiva em nossas vidas. Desde Francisco de Assis, até hoje, nossa forma de vida tem sido atualizada, e é isso que a mantém viva. Ela precisa sempre ser trabalhada e adaptada ao tempo em que vivemos. Acredito que, a partir de agora, vivenciaremos muitas mudanças, principalmente com a diminuição do número de frades. Estaremos abertos ao redimensionamento humano (mental, intelectual, afetivo e religioso) para chegarmos ao estrutural. O que é possível é a continuidade do nosso caminho, como filhos do bom, despojado, alegre, entusiasmado Francisco de Assis, embelezando o mundo com o Evangelho de Cristo”, concluiu.


Adriana Rabelo Rodrigues