Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Em clima fraterno, benfeitores concluem retiro

30/04/2018

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Agudos (SP) – Reunidos na igreja do Seminário Santo Antônio, em Agudos (SP), os quase 100 benfeitores franciscanos concluíram o seu retiro anual nesta segunda-feira (30/04), às 18h, com a Celebração Eucarística presidida por Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial, e concelebrada por Frei Alvaci Mendes da Luz, coordenador do Pró-Vocações e Missões Franciscanas (PVF).
Na primeira leitura, os participantes acompanharam a leitura do capítulo 57 do Espelho de Perfeição, sobre a vida de São Francisco de Assis. Na passagem, um camponês chamado João, ao ver São Francisco varrendo uma igreja, manifesta o desejo de servir a Deus. “Irmão, já faz tempo que tenho vontade de servir a Deus, especialmente depois que ouvi falar de ti e dos teus frades, mas não sabia como chegar a ti. Por isso, agora que agradou ao Senhor que eu te visse, quero fazer o que te agradar”, conta a passagem. O jovem, muito pobre, sente a tristeza da família com a sua decisão. Francisco propõe então um encontro com os familiares do camponês. Ao ouvir São Francisco, eles ficam consolados com a decisão de João.

Em sua homilia, Frei Fidêncio destacou que assim como o camponês, ainda hoje muitos jovens têm o desejo de servir a Deus, mas que assim como aquele rapaz em Assis, eles hoje encontram dificuldades para dar o seu sim. “Vocês participam da história vocacional de tantos “Joãos”. Esta presença silenciosa, misteriosa, divina, faz com que também muitos jovens possam se colocar de coração inteiro no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”, manifestou.

O Ministro Provincial também animou os participantes a viverem plenamente a sua missão. “Jesus fala para todos nós: a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos”. E destacou que os dias vividos aqui certamente tiveram um significado único para cada um, mas que o pedido é semelhante: ser Igreja em saída. “Que cada um de nós se sinta enviado pelo Pai. Ide para este mundo pós-moderno, como ovelhas no meio de tantos lobos. Como ovelhas, somos mensageiros da paz, da mansidão, da concórdia, do amor”, afirmou o frade. E acrescentou que o local de missão pode ser dentro das próprias famílias, o local de trabalho, a sociedade de modo geral, como mensageiros e anunciadores da Paz e do Bem. “Não existe nada mais bonito que deixar na casa de alguém o desejo de Paz e Bem”, concluiu.

Ao final da celebração, Frei Alvaci agradeceu pelos mais de 12 mil benfeitores que ajudam a Província Franciscana e a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) a “varrerem” as igrejas. Ele recordou que o PVF existe há 32 anos graças a disponibilidade e a entrega silenciosa de tantos benfeitores, que contribuem financeiramente e espiritualmente, com as orações pelas vocações.

“Leigo não é predicado, leigo é sujeito”, afirma Frei Fidêncio
benfeitores_300418_2Neste terceiro dia de encontro, os participantes foram convidados a refletir sobre o “Ano do Laicato”, instituído para 2018 na Igreja do Brasil. Na parte da manhã, Frei Fidêncio introduziu o tema, explicando as motivações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para este tempo. Ele usou como base o documento 105 da CNBB, “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade”. Ele destacou a importância de recuperar o aspecto da Igreja como povo de Deus, como afirma o objetivo geral do Ano do Laicato. “Nós somos hoje esta Igreja povo de Deus. Dentro desta Igreja cabemos todos nós: estão os leigos, religiosos, sacerdotes, bispos e Papa. Nós, juntos, formamos esta Igreja povo de Deus, onde ninguém é mais ou menos, somos todos irmãos. Isto está no Evangelho”, afirmou.

Recordando o Documento de Aparecida, o frade destacou que os leigos são sujeitos da Igreja e não predicados. “Estimular a presença e a atuação dos cristãos leigos e leigas, ‘verdadeiros sujeitos eclesiais’ (DAp, n. 497a), como sal, luz e fermento na Igreja e na Sociedade”, aponta um dos objetivos específicos do Ano do Laicato.

Frei Fidêncio destacou que o laicato não é apenas da Igreja para dentro, mas da Igreja para fora. “Como é que, por exemplo, nós, num ano de eleições, onde os ânimos estão acirrados, onde a gente não sabe em que “pê” colocar o pé, como nós podemos hoje ser esta presença com os diferentes sujeitos da sociedade?”, questionou. Ele conclamou os presentes a promoverem a cultura do encontro, num mundo que promove a cultura do desencontro. “Vivemos hoje a cultura da difamação, a cultura da bala, da língua afiada, do denegrir, do destruir para ver se sobra alguma coisa, a cultura da arma e da violência”, destacou.

O Ministro Provincial abordou o laicato sob a perspectiva de dois “Franciscos”: o de Assis e o de Roma, o Papa Francisco. No contexto medieval, o frade destacou a separação entre o sacro e profano, uma realidade enfrentada por São Francisco de Assis. “Quando a Igreja se fecha, nós percebemos também ao longo da história que os próprios leigos começam a se organizar, os próprios leigos começam a viver seu profetismo”, afirmou, ressaltando que na Idade Média nasceram muitos movimentos penitenciais de leigos, que buscavam viver radicalmente o Evangelho. E explicou a origem e os primeiros companheiros de São Francisco de Assis e de Santa Clara.
Ele destacou ainda que São Francisco, para viver sua vocação, escutou, discerniu e viveu o chamado do Senhor, ressaltando que são os três verbos que o Papa Francisco dirige aos jovens neste ano, em que a Igreja se reúne no Sínodo dos Bispos para falar a respeito da realidade juvenil.

“A resposta de Francisco ao Evangelho é o despontar de uma nova luz, um novo horizonte aos leigos daquela época. Francisco descobre algo novo, que era possível viver o Evangelho sem brigar com a Igreja”, assinalou. Frei Fidêncio falou ainda da Ordem Franciscana Secular, que Francisco deixou para aqueles que desejavam viver esta radicalidade, sem abandonar seu papel na família e na sociedade.

“Francisco foi o mendicante maior, não por ser uma Ordem mendicante, mas a mendicância em Francisco tem uma dimensão muito bonita. Uma mendicância de sentido, de valores, de ética, de justiça, de verdade. Das virtudes que formam e qualificam o ser humano”, concluiu, destacando que Francisco de Assis nunca buscou o sacerdócio, mas foi leigo, como muitos que estão na Igreja.
Na parte da tarde, Frei Fidêncio continuou sua fala, abordando sobretudo o destaque dado aos leigos pelo Papa Francisco em suas homilias e documentos. Os participantes do retiro também puderam partilhar suas dúvidas e suas experiências.


Érika Augusto