“Eis que venho fazer, com prazer, a vossa vontade, Senhor” (Sl 39). 

Frei Gustavo Medella

Fazer por prazer não cansa, é gratificante, traz alegria e satisfação. A mãe carrega o filho ao colo, o pai acorda domingo de madrugada a fim de levar a filha para prestar um exame vestibular, a avó encara horas diante do calor do fogão para preparar o prato preferido do neto que vem de visita. Tudo com muito prazer!

Também o mercado publicitário percebeu o lugar central que a busca do prazer ocupa na vida do ser humano. Por este motivo, é abundante o material publicitário que evoca cenas de prazer, muitas vezes com associações ilógicas, mas que mexem com o imaginário e os sonhos do consumidor. São muitas marcas de produtos e serviços vinculados à ideia do prazer, desde bebida, cigarro, carro, alimentos etc.

Na vida cristã, o caminho da realização plena passa, sem dúvida, pela busca do prazer e da satisfação de pertencer a Cristo, de ser ativo colaborador na construção do Reino, de colocar-se à disposição do outro. É colocar-se “todo ouvidos” aos apelos do Senhor, tal como fez Samuel na primeira leitura deste domingo (1Sm 3, 3b-10.19). Deus insistiu no chamado ao jovem Samuel. Interrompeu o sono do rapaz por três vezes, chamando-o pelo nome. Só na última vez, e a ainda com a ajuda de Eli, Samuel se dá conta de que aquele que o chama é o próprio Senhor. E aí coloca-se de prontidão.

O ocorrido com Samuel pode ser uma ilustração da busca do ser humano pela verdadeira realização. Em meio ao sono da vida, às vezes sonhando com prazeres ilusórios, Deus insiste em chamar. Nem sempre a pessoa consegue identificar sua voz mas, quando ela se dispõe a dar ouvidos àqueles que a amam e desejam o seu bem, passam a perceber a voz do Senhor e sentem no coração que encontram, na atitude de obediência a esta voz, a fonte de sua realização plena.

E foi assim que ocorreu com os discípulos de João Batista, como nos narra o Evangelho (Jo 1, 35-42) da liturgia deste 2º domingo do Tempo Comum. João amava seus discípulos e também amava Jesus. Ao vê-lo passar, não privou seus seguidores de um encontro pessoal com o Ungido de Deus. Ao contrário! Foi o primeiro a gritar em alta voz: “Eis o Cordeiro de Deus!” Está aí a síntese da missão abraçada pelo cristão no batismo: vencer o próprio egoísmo, encontrar o prazer e a alegria de seguir Jesus e apresentar esta satisfação a outros tantos com quem se encontrar nas esquinas da vida, apresentando, pelo testemunho e pela palavra, o maior prazer a que o ser humano pode ter acesso: Sentir-se filho amado do Pai acolhido em Jesus Cristo. “Eis que venho fazer, com prazer, a vossa vontade, Senhor”.