Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

É difícil assumir as próprias escolhas

05/06/2015

Notícias

Frei Gustavo Medella

Deus respeita tanto a liberdade humana que coloca nas mãos de cada homem e mulher a construção do próprio caminho, seja ele de salvação ou de perdição, de vida ou de morte (Dt 30,15). E como é difícil tomar a rédea da própria existência, assumir as próprias escolhas, especialmente quando elas não conduzem a um bom caminho. Foi o que ocorreu com Adão e Eva no texto que a liturgia apresenta neste 10° Domingo do Tempo Comum (Gn 3,9-15). Eles perceberam que comer do fruto não tinha sido boa ideia. Foram instigados pela serpente e tomados pela tentação de, ao comer do famigerado fruto, tornarem-se “como deuses”. Deu no que deu… A prepotência os levou a perceberem o absurdo de sua nudez diante da grandeza do Criador. E aí tornou-se difícil assumir a própria decisão e o caminho aparentemente mais fácil foi o de “terceirizar a culpa”, num efeito dominó até que chegasse à serpente. Tudo bem, a serpente pode até ter instigado, mas a decisão foi pessoal e intransferível e aí está a dificuldade de assumir: “Eu errei, escolhi mal, fracassei”. Dói assumir… O episódio de Adão e Eva é humano, profundamente humano. Serve para ilustrar dilemas e dramas de qualquer existência.

Quem busca este caminho de transparência em relação a si mesmo, inclusive, corre o risco de seu mal compreendido e até encarado com estranheza. Basta que se olhe para o drama enfrentado por Jesus no Evangelho narrado na liturgia do próximo domingo (Mc 3,20-35). Em seu caminho de total fidelidade ao projeto do Pai, Jesus é acusado de estar fora de si, e mais, de estar possuído por Belzebu. Jesus não estava fora de si: ao contrário, estava chamando para si a plena responsabilidade sobre seus atos, escolhas, ensinamentos e palavras. Assumia todas as consequências, ainda que lhe fosse dolorido ouvir de gente tão próxima este tipo de blasfêmia.

O caminho da transparência, de assumir as próprias escolhas, é difícil, porém libertador. É o trajeto da maturidade proposto e defendido por diversas escolas filosóficas. Também é a direção que o Evangelho indica. Assumir a própria existência, com garra, coragem, humildade e amor a Deus e ao próximo é o caminho que aproxima o ser humano ao Pai, que o torna extremamente familiar ao Filho pela ação do Espírito.