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Dia Mundial das Comunicações Sociais: Inteligência Artificial e a Sabedoria do Coração

10/05/2024

Notícias

No próximo domingo, 12 de maio, será celebrada a 58ª edição do Dia Mundial das Comunicações Sociais. Em janeiro deste ano (24/01), durante memória litúrgica de São Francisco de Sales, patrono dos escritores e jornalistas, Papa Francisco apresentou o tema escolhido: “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”.

O pontífice refletiu em sua mensagem sobre questões relacionadas aos impactos radicais das mudanças no processo de geração de informação e de comunicação a partir da Inteligência Artificial capazes de interferir nas relações humanas.

Entre os questionamentos do Papa Francisco surgiram perguntas: “Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?”. É justamente a partir do coração, que Papa Francisco convida a todos para exercitar um olhar espiritual. Segundo ele, somente assim “é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”.

De acordo com Frei Neuri Francisco Reinisch, responsável pela Frente de Comunicação da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, “se por um lado brilha aos olhos o que a Inteligência Artificial pode proporcionar, e ela proporciona muita coisa, por outro, seus recursos causam espanto que oscila entre o entusiasmo e a desorientação”. De acordo com ele, muita gente ainda não sabe o que é e como funciona a IA. “Não é questionada a importância e o lugar do ser humano nesse universo. Qual o futuro da humanidade nesse contexto da inteligência artificial? Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem e para as mudanças culturais que estão acontecendo?”.

O frade explicou que o Papa alerta que não adianta ficar levando ou fazendo força contrária às novas tecnologias. Por outro lado, é preciso que os seres humanos fiquem mais atentos. Para isso, é necessário “formar um novo tipo humano, dotado de uma espiritualidade mais profunda, duma nova liberdade e duma nova interioridade”, conforme apontou Papa Francisco.

Na mensagem, o pontífice também chamou a sociedade para olhar de forma mais fraterna e coletiva às reais condições dos novos tempos, compreendendo e buscando a adaptação à realidade que se coloca diante do mundo, como o advento da IA, sem perder o foco naquilo que é mais precioso: a figura humana, sua natureza, sua essência, suas relações e suas potencialidades.

“Neste tempo que se corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano. Somente dotando-nos de um olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. O coração, entendido biblicamente como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida, é símbolo de integridade e de unidade, mas evoca também os afetos, os desejos, os sonhos, e sobretudo é o lugar interior do encontro com Deus. Por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós” (Papa Francisco).

Diante de tantos desafios e riscos, o Papa ainda ressalta a importância e a necessidade da regulamentação ética da Inteligência Artificial, com o objetivo de evitar danos a vida em sociedade como, por exemplo, os riscos das polarizações, a partir da desinformação com as fake news e deep fakes.

Olhar e ver com o espírito aquilo que está diante de nós

“Somos chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade. O desafio que temos diante de nós é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura de uma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural. Cabe a nós questionar-nos sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento”, disse o Papa Francisco em sua mensagem.

Segundo Frei Neuri, cabe a cada um de nós decidirmos se queremos alimentar algoritmos ou nutrir o coração da liberdade, capaz de crescer em sabedoria. “Essa sabedoria amadurece com o tempo e abraçando as vulnerabilidades. Não se podemos perder a nossa humanidade. Devemos procurar a sabedoria antes de todas as coisas que passam pelos corações puros”.

Frei Gustavo Wayand Medella, Vigário provincial, afirma que mesmo diante daquilo que para muitos ainda é desconhecido e também oferece perigos, a Inteligência Artificial pode ser trabalhada a favor da sociedade. “O próprio Papa Francisco nos mostra este caminho em sua mensagem quando recorda que ‘os sistemas de Inteligência Artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um patrimônio enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas’. Ou seja, é um instrumento que tem o potencial de aproximar as pessoas, promover a justiça e proporcionar o diálogo. Tudo depende do sentido que se pretenda dar a ele. Se, enquanto humanidade, conseguirmos superar a tentação da grandeza, do domínio e da autossuficiência, tanto mais saberemos extrair destas novas tecnologias a possibilidade de construirmos um mundo mais fraterno”, afirmou.

Segundo ele, existem caminhos para promoção de uma comunicação plenamente humana e inclusiva no ambiente que já sofre com as interferências das novas tecnologias, como a Inteligência Artificial. “O caminho passa pela democratização do acesso e da utilização destas tecnologias a todos, acompanhada por uma adequada formação para a cultura do encontro e da paz”, salientou.

O frade também explicou que, “neste contexto, devemos pensar numa comunicação integral, que envolva a mente (razão), o coração (afetos) e as mãos (práticas transformadoras da realidade). Não basta a evolução técnica dos meios. Aliada a ela, é fundamental uma evolução ética na construção de relações consistentes e construtivas entre as pessoas e os povos”.

Na busca por uma comunicação mais inclusiva, que gere a liberdade e seres humanos que saibam usar da sabedoria do coração, a Igreja também tem papel fundamental, conforme destacou o Vigário provincial. “O termo “católico”, que significa “universal”, pode trazer uma pista para esta reflexão. A vocação à universalidade pode levar o ser humano a perceber que sua vocação maior é à fraternidade e, percebendo-se agente responsável pela construção de um mundo de irmãos e irmãs, será possível trabalhar com empenho por uma comunicação voltada para a verdade e para a promoção da vida de todos”.

Papa Francisco encerrou sua mensagem pelo Dia Mundial das Comunicações Sociais dizendo: “Somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo. Para não perder a nossa humanidade, procuremos a Sabedoria que existe antes de todas as coisas (cf. Eclo 1,4), que, passando através dos corações puros, prepara amigos de Deus e profetas (cf. Sab 7,27): há de ajudar-nos também a orientar os sistemas da Inteligência Artificial para uma comunicação plenamente humana”.


 

Adriana Rabelo

Leia a mensagem do Papa na íntegra