Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Como superar a chaga do clericalismo?

14/11/2018

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Agudos (SP) – O segundo dia do Capítulo Provincial da Província da Imaculada Conceição começou com a Oração da Manhã na capela do Seminário Santo Antônio de Agudos (SP). Esta assembleia dos frades, que reúne 133 inscritos até o próximo dia 22 de novembro, tem como norte o tema central: “Minoridade Franciscana: lugar de encontro e comunhão”. Para aprofundar esta reflexão, desde ontem o frade capuchinho gaúcho, Frei Vanildo Zugno, doutor em Teologia e professor de Teologia na Estef, no Unilasalle (Canoas) e na EST (São Leopoldo), aborda o tema da minoridade.

Nesta manhã desta quarta-feira, 14 de novembro, o ponto forte de sua reflexão foi o questionamento de como superar a chaga do clericalismo, responsável pelos males da Igreja, como tem chamado a atenção o Papa Francisco.

Frei Vanildo já mostrou uma direção logo no início com a frase do número 101 da Evangelii Gaudium (EG): “Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno”. Segundo o texto da EG, “o mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar”. Frei Vanildo questiona: Como encontrar sentido nisso? Como é possível nutrir inveja pelos dons que Deus concede aos outros? Segundo São Francisco de Assis, isso é incorrer em pecado de blasfêmia, pois se invejo aquilo que o Senhor concedeu aos outros, é ao próprio Deus que invejo (Admoestações, 8).

E o texto do Papa Francisco vai mais além: “Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?” (EG, 100).

Francisco, quando fala das relações fraternas, segundo o pregador, preocupa-se com a dificuldade do exercício do poder. “Aponta inclusive o silêncio como graça de Deus e as obras como testemunho de vida e de anúncio. Todas as vezes que Francisco usa a palavra ministro, ele a associa a servo. E mesmo hoje não temos o peso dessa palavra. “Bem-aventurado aquele que estiver entre seus súditos como se estivesse entre seus senhores”. Ele inverte os valores, desfaz a relação de maior/menor”, explica.

Segundo ele, a ideia de servo, aquele que permanece sempre sob a “vara da correção”, é colocado por Francisco como paradigma do exercício do poder e da minoridade. “Quem é o maior e quem é o menor na obediência?”, questionou.

Frei Vanildo enfatizou o alerta dado pelo Papa Francisco para aquilo que talvez seja um dos grandes desafios dos cristãos e, mais ainda, dos franciscanos: o mal do clericalismo. “Quanto a isso, destaca a importância e valorização dos leigos. ‘Chegou a hora dos leigos, mas parece que o relógio parou’. Esquecemos que nosso ingresso na Igreja é sempre no estado laical. Ninguém é ordenado antes do batismo. Trata-se do sacerdócio universal dos fiéis. Por esse esquema mental deteriorado com enfoque na hierarquia, nós, religiosos, já nos colocamos acima dos outros batizados. Essa forma de pensar clericalista é a fonte de muitos males na Igreja”.

Falando sobre o clericalismo, lembrou a Carta do Papa Francisco ao Povo de Deus, quando ele se manifesta sobre os abusos sexuais de menores na Igreja e coloca lado a lado esses três abusos: sexual, de poder e de consciência? “É muito grave também o apego do poder às estruturas. Nesse sentido, o Pontífice já declarou outras vezes que ‘o confessionário não pode ser uma câmara de tortura’! O modo como entendemos o poder na Igreja é essencial para uma Igreja acolhedora. Há uma forma patológica do exercício do poder que leva aos abusos. Dizer não aos abusos é dizer não à qualquer forma de clericalismo. Mas como superar tantos anos de uma visão da Igreja em dois andares? Nossa busca pela vida fraterna deve auxiliar nisso: quem quiser ser o maior, seja o menor. O serviço fraterno é o critério e referência”, disse.

Frei Vanildo lembrou que numa passagem do “Espelho da Perfeição”, quando sugerem a Francisco que os frades sejam eleitos bispos e prelados, pois, por serem mais humildes seriam mais adequados, Francisco responde: “Senhor, os meus frades são chamados Menores, para que nunca presumam de ser Maiores. A sua vocação ensina-os a permanecer num lugar humilde e a seguir as pegadas da humildade de Cristo, a fim de que, por este meio, possam elevar-se mais alto do que os outros, aos olhos dos santos.  Se quereis, pois, que eles deem fruto na Igreja de Deus, conservai-os na observância da sua vocação; e, se eles aspirarem às honras, empregai toda a força do vosso poder para os manter na humildade e nunca permitais que eles sejam elevados a alguma prelazia”.

A reflexão da manhã terminou com duas pequenas sugestões para o tempo pessoal. Indicou o “Espelho da Perfeição”, quando Francisco descreve o frade ideal, para cada um fazer o exercício pensando nos frades de sua fraternidade, de sua região ou até da Província. A segunda sugestão aos capitulares é pensar como podem contribuir para superar, dentro de seu alcance, a chaga do clericalismo. Antes do almoço, os 133 participantes, divididos em 10 grupos, compartilharam suas reflexões.

Equipe de Comunicação do Capítulo: Frei Augusto Gabriel, Frei Clauzemir Makximovitz, Frei Gabriel Dellandrea e Moacir Beggo

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