A estranha matemática do perder para ganhar
11/09/2015
Frei Gustavo Medella
O golpe do bilhete premiado continua a fazer vítimas. São pessoas iludidas pela promessa de ganharem uma bolada num piscar de olhos. Pagam ao dono do bilhete, impossibilitado por algum motivo de resgatar o prêmio, o equivalente a uma pequena parcela do suposto montante e assim passam a ser donas daquele “mapa da mina”! Só que não! Ou, para dizer na língua das redes sociais: #SQN… O bilhete é falso, o dono do bilhete, um falsário e, agora, nem dinheiro, nem bilhete…
Aqui, no caso, o “perder para ganhar muitas vezes mais” não funcionou. Por que então funcionaria na promessa de Jesus no Evangelho do próximo domingo? “Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (Mc 8,25). Perder para salvar, para ganhar… De onde Jesus tirou esta matemática aparentemente contraditória?
Jesus a tirou de sua própria experiência como Deus Encarnado. Desfez-se de seus atributos divinos e tornou-se ser humano, a fim de ganhar a humanidade para Deus, ordenando cada coisa no seu devido lugar e colocando a vida de cada pessoa como bem mais valioso da existência. Com este olhar se torna mais compreensível a proposta de Jesus para que, à semelhança d’Ele, aqueles que se dispõem a segui-Lo saibam também entregar-se generosamente pela instauração da justiça, pela implantação do Reinado do Evangelho.
Neste Reino, o mais importante não é quantidade de bens materiais que uma pessoa consegue reter para si, muito menos o saldo de sua conta bancária, mas a quantidade de amor que alguém é capaz de distribuir. E amor, neste caso, não se resume a mero sentimento, a uns poucos beijos e acenos, tais quais aqueles que os políticos distribuem em época de campanha.
Amor, na concepção cristã, é a capacidade de sacrificar-se, de cortar na própria carne, de deixar que se arranquem os pelos da barba (Is 50,6) se preciso for para que a justiça aconteça, para que ninguém mais passe fome, para que nenhuma criança fique fora da escola ou sem lar, para que ninguém precise abandonar o seu país a fim de fugir da morte. E assim o amor se encarna em caixas de leite, cobertores, mantimentos, abertura de fronteiras para se acolher refugiados, doação do próprio tempo em prol da formação e do cuidado com o outro etc. É assim que adquire lógica a proposta de Jesus. É desta maneira que Ele convida seus seguidores a carregarem cada um a sua cruz para segui-Lo.