Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Como franciscano, sou chamado a seguir o Cristo pobre, humilde e crucificado”

23/04/2012

Entrevistas

Natural de Jacarezinho, no Paraná, Frei Gilberto nasceu no dia 24 de maio de 1982. É filho de Pedro e Maria de Lourdes da Silva e vestiu o hábito franciscano quando ingressou no Noviciado São José de Rodeio (SC), no dia  9 de janeiro de 2003. Ele será ordenado presbítero pelo bispo diocesano de Jacarezinho, Dom Antonio Braz Benevente, no dia 28 de abril, às 17 horas.  Suas primícias serão celebradas no dia 29, às 9 horas. Tanto a ordenação como a primeira Missa acontecerão na Catedral Imaculada Conceição, av. Getúlio Vargas, 771.

 Frei Gilberto escolheu como lema: “Dei-vos o exemplo para que façais o mesmo que eu vos fiz”. (Jo 13,15). Nesta entrevista, Frei Gilberto conta como se interessou pela vida religiosa e como procurou a Ordem dos Frades Menores, onde fez a profissão solene no dia 5 de novembro de 2009. Conheça um pouco mais Frei Gilberto e as etapas da formação e estudos até a ordenação presbiteral.

Site Franciscanos –  Conte-nos um pouco sobre sua história vocacional

Frei Gilberto – Não há dúvidas que a vocação seja dom de Deus e que ela, primeiramente, é cultivada na família. Meus pais, Pedro e Maria de Lourdes, no tempo de juventude, participavam do grupo de Jovens na Paróquia São José Operário, em Jacarezinho, bem como de alguns encontros e retiros. Pois bem, nasci e cresci em Jacarezinho (PR), uma cidade fundada por portugueses, que recebeu gente de todos os cantos do Brasil no ciclo do café. A cidade é marcada pelo trabalho, pelo catolicismo e pela fé do povo. Sendo assim, cresci acompanhando o que acontecia na Igreja local. Em 1996, comecei a participar do grupo de adolescentes (AUPEFES) na Paróquia São José Operário. O grupo se reunia a cada domingo pela manhã: 40 adolescentes, para a partilha da Palavra de Deus e para as famosas dinâmicas de grupo. Neste grupo formamos boas e sólidas amizades, o que ajudou muita gente a buscar o sentido de sua vida. Neste espaço, pude realizar o que chamamos de discernimento vocacional. Em 1999 ganhei da minha mãe uma Bíblia que tinha um panfleto vocacional dos Franciscanos, que dizia assim: “Um planta e outros colhem, ajude a formar um frade menor”. Então escrevi uma carta perguntando como era a vida dos freis e como podia conhecer mais esta forma de vida. Frei Severino Clasen (hoje Dom Severino, Bispo de Caçador, SC) me respondeu e pediu que escrevesse para Agudos, SP, para fazer o acompanhamento vocacional. Escrevi e a resposta não chegou! Mas, neste tempo, houve a Ordenação Episcopal de Dom Mauro, onde conheci Frei Virgílio, que também é filho de Jacarezinho, e ele me pediu para escrever para o convento em Campo Largo. Fui conhecer como viviam os franciscanos e comecei a fazer os encontros vocacionais. Em 2000, fui fazer o estágio para entrar no seminário.

Entrei no Seminário São Francisco em Ituporanga, SC, em 2001; em 2002. fiz o postulantado em Guaratinguetá, SP; em 2003 fui para Rodeio, SC, fazer o noviciado (ano de provação e iniciação mais intensa da vida franciscana). De 2004 a 2008, estudei Filosofia na Faculdade São Boaventura, em Curitiba, PR; de 2009 a 2011 estudei Teologia no Instituto Teológico Franciscano, em Petrópolis, RJ. Após o término da Teologia fui transferido para a minha primeira missão. Hoje trabalho no Seminário São Francisco, em Ituporanga, SC, ajudando na formação dos jovens que desejam seguir Jesus Cristo a modo de São Francisco de Assis.

Site Franciscanos –  Como você compreende o serviço presbiteral na Igreja?

Frei Gilberto – Compreendo o serviço presbiteral na Igreja como uma das grandes manifestações de Deus na história da humanidade. O serviço presbiteral sempre foi, é e será o exercício de se aproximar de Deus, e fazendo a experiência do mistério, levar os irmãos e irmãs a se encontrar com Deus. Segundo Albert Einstein, o homem que não tem os olhos abertos para o mistério, passa a vida sem ver nada. O Mistério, Deus, mostra o seu rosto em Jesus. Aqui está a grandeza do modelo presbiteral: o Cristo. O ministro ordenado é convidado a responder com radicalidade ao Evangelho, sendo servidor do Pai pelo Filho no Espírito. Do mesmo modo, aquele que abraça este ministério tem como missão atualizar os gestos de Jesus, isto é, de tornar Cristo presente no tempo em que vive.

Site Franciscanos – Você pode nos apontar um desafio e uma motivação de ser presbítero hoje?

Frei Gilberto – Um dos muitos desafios hoje é compreender que o presbítero é seguidor do Cristo e do Cristo servidor, na gratuidade do Amor, não no poder, mas no serviço. “Somos seguidores do Cristo sofredor, servo, que lava os pés. Somos chamados a sermos fortes na fé, que dá consistência na vida dos nossos irmãos e irmãs”. Hoje, o serviço presbiteral passa também por uma crise de sentido. Alguns padres usam a imagem do Cristo que fala às multidões, e param por aí. Outros usam a mídia para evangelizar, dando assim um acento na sua própria imagem, quando não estimulam a venda de sacramentais. Outros ainda apresentam o Cristo como remédio instantâneo para eliminar automaticamente as dificuldades: “Seus problemas passam já!”. Assim sendo, a motivação em ser presbítero hoje é a certeza de termos na Ordem dos Frades Menores, e na Igreja, bons padres, que estão comprometidos com uma evangelização duradoura, que conduza cada um de nós a um processo de permanente formação evangélica, ao encontro com Deus e a um maior amadurecimento na fé. Porém, como franciscano, sou chamado a seguir o Cristo pobre, humilde e crucificado, a modo de São Francisco, dando uma resposta evangélica aos desafios que me são propostos. Acredito que a missão do frade menor e do padre hoje está no acolhimento das pessoas, na ação de escutar, na partilha da vida que é a Eucaristia.

Site Franciscanos –  No tempo em que você estudou Teologia, desenvolveu suas atividades pastorais na Baixada Fluminense. Conte-nos um pouco desta experiência.

Frei Gilberto – Quando fui transferido de Rondinha para Imbariê, algumas pessoas brincavam dizendo que a Baixada Fluminense seria um castigo. Ao me deparar com aquela realidade, de início não foi muito fácil, mas graças à fraternidade e o modo simples com que os frades de lá viviam e se relacionavam com o povo, eu fui compreendendo a grandiosidade do Evangelho ecoando na Baixada Fluminense. Tanto em Imbariê, como em Nilópolis e Campos Elíseos, digo com saudade e carinho, que graças a Deus e aos irmãos e irmãs que lá encontrei, eu pude fazer uma rica experiência da presença de Deus, no acolhimento, na sobriedade, na generosidade de coração e na partilha da vida. Não posso deixar de agradecer também aos frades da Fraternidade Nossa Senhora Aparecida, de Nilópolis, da Fraternidade São Francisco, em Campos Elíseos, pelo acolhimento e o tempo de aprendizado e convivência fraterna. A todos vocês, obrigado!

Site Franciscanos –  Sua primeira transferência foi para ajudar na formação no Seminário São Francisco. Como esta sendo está experiência?

Frei Gilberto – Quando fui transferido para a Fraternidade do Seminário, não tinha a noção de como é grandioso e desafiador o serviço da formação. Os seminaristas estão aqui em um processo de discernimento vocacional, são chamados por Deus a partilhar o dom do Evangelho. As sementes foram lançadas por Deus, e penso que cabe a nós, o cuidado para que as sementes lançadas em terra boa cresçam e deem abundantes frutos. No pouco tempo que estou no seminário, o que me chamou a atenção é o trabalho realizado pelos freis Lauro, Anselmo, Renato e Gustavo. Encontrei uma fraternidade afinada no trabalho formativo e na pastoral, empenhada no serviço do Evangelho. Espero poder contribuir com o que me foi confiado e que os seminaristas possam chegar ao futuro e optar pela nossa forma de vida, porque no processo formativo descobriram a grandiosidade do Evangelho e do Carisma Franciscano.