Comissários da Terra Santa se encontram em Jerusalém
08/02/2012
De 30 de janeiro até 4 de fevereiro realizou-se em Jerusalém o 3º Congresso Internacional de Comissários da Terra Santa, um evento de grande importância que na agenda de encontros periódicos que os comissários da Terra Santa realizam para compartilhar, atualizar e trocar experiências, segundo pedem as normas da Custódia.
Os comissários são figuras preciosas; podemos defini-los como “embaixadores” da Custódia da Terra Santa e trabalham como “pontes” entre esta última e os territórios a eles afiliados, ou seja, as distintas províncias às quais eles pertencem. São, portanto, os representantes da Custódia no mundo e trabalham constantemente para sustentá-la e ajudá-la em sua missão, atuando em distintas frentes: dar a conhecer e amar a Terra Santa através da promoção em seu território; organizar e animar peregrinações; captar ajudas econômicas e cuidar das vocações orientadas à Terra Santa.
Os congressos internacionais são eventos muito esperados e cuidadosamente preparados, que se celebram por decisão do Discretório a cada 6 anos e que cumprem com a importante missão de avaliar a realidade da Custódia e a dos comissários, desenvolvendo e fortalecendo o diálogo entre as partes, tentando responder desta forma às respectivas expectativas. Precisamente, para intensificar estas relações se criou, há alguns meses, a oficina custodial para a Coordenação dos Comissários da Terra Santa, promovida e recomendada pelo anterior congresso internacional dos Comissários, celebrado em 2006. Trata-se de uma oficina inédita na história da Custódia, que nasce para servir de ajuda ao governo custodial em suas relações com os comissários e na animação dos mesmos, que tem entre suas funções principais, precisamente, a de organizar os congressos internacionais periódicos.
Confira o discurso do Ministro Geral da OFM, Frei José Rodriguez Carballo:
Reverendíssimo Padre Custódio, queridos irmãos Comissários da Terra Santa, queridos irmãos da Custódia, Paz e Bem!
Estamos concluindo o III Congresso Internacional dos Comissários. Neste contexto, sinto a necessidade de restituir ao Senhor, com a ação de graças, o presente que recebemos ao participar deste encontro. Graças a Deus, pudemos nos conhecer mais e melhor entre nós, e pudemos conhecer mais profundamente o que faz a Custódia da Terra Santa, a que todos nós aqui presentes amamos, pela que todos, de um modo ou de outro, trabalhamos. Minha gratidão vai também ao padre Custódio por nos ter convocado a este Congresso, e aos demais, desde a preparação da liturgia, da secretaria, das traduções, dos meios de comunicação, da logística, que nos renderam isso possível. No meu nome e em nome de toda a Ordem, muito obrigado também a vocês, queridos Comissários, por tudo o que fazeis a favor desta terra bendita como nenhuma, ao mesmo tempo, martirizada como poucas.
À luz dos objetivos que foram estabelecidos para este III Congresso de Comissários da Terra Santa, nestas palavras conclusivas do Congresso, gostaria de insistir em alguns pontos, que considero importantes. O faço em três níveis: aos Comissários, à Custódia e à Ordem, sempre de acordo com a finalidade deste Congresso.
Aos Comissários da Terra Santa
No vosso trabalho missionário a favor da Terra Santa, considerai atentamente os seguintes pontos, que vos apresento em forma de decálogo:
1. Amai Jesus e a Palavra de Deus e, como franciscanos, assumi o Evangelho como vossa Regra e vida. Então, amareis cada vez mais a Terra Santa! O amor à terra de Jesus somente será autêntico e profundo se amais O que aqui nasceu, aqui cresceu, aqui pregou, aqui morreu e aqui ressuscitou. Quem reconhece em Jesus o primeiro e mais importante dom que o Pai nos poderia ter dado, não pode fazer a menos em dar-se a conhecer a tempo e desatiempo como disse o Apóstolo. E a quem na Terra Santa teve a graça de se aproximar melhor à pessoa de Jesus, ou inclusive, de se encontrar com Ele, não pode deixar de propor esta Terra como o quinto Evangelho;
2. Levai Jesus e a Terra Santa em vosso coração e levareis em vosso coração a Custódia da Terra Santa! Vós sois como as mãos da Custódia da Terra Santa, estendidas a todos, para receber e para dar, pois quando recolheis, o fazeis em nome da Custódia e para a Custódia, que por sua vez, o dá a todas as classes de necessitados, cristãos ou não cristãos, como demonstram as inumeráveis obras sociais que tem a Custódia e, graças a elas, leva a presença de Cristo, mesmo sem anunciá-Lo explicitamente, a muitos que não Lhe conhecem;
3. Fazei conhecer o quanto faz a Custódia da Terra Santa em toda a região do Oriente Médio! Na cultura da imagem em que vivemos, o que não se vê é como se não existisse. Usai, pois, as novas técnicas audiovisuais, além dos métodos tradicionais de propaganda, para transmitir a mensagem sobre a Terra Santa e o quanto faz a Custódia: na conservação dos Lugares Santos, no campo cultural e social, no cuidado pastoral das pedras vivas da Igreja Mãe, tanto dos católicos latinos de língua árabe, quanto dos que se expressam em língua hebraica; no serviço aos peregrinos, bem como em outras atividades ecumênicas e científicas. Fazei conhecer a realidade de nossa presença na Terra Santa, sua rica história, iniciada com a vinda de São Francisco em 1219 e que dura até os dias atuais; sua fascinante presença, com um número de obras de todos os tipos, que são sinais de esperança para os que vem em peregrinação e para quem vive nesta Terra, particularmente os jovens cristãos;
4. Preparai adequadamente as peregrinações, acompanhando-as e dando-lhes continuidade! Atenção especial no vosso serviço é dedicado na organização de peregrinações e, sempre que seja possível, em acompanhar os peregrinos na visita aos Lugares Santos. Recordai que não sois uma simples alternativa às agências turísticas, ou se a sois não é somente no campo econômico, senão no modo de preparar a peregrinação, de conduzi-la e lhe dar continuidade. Na sua preparação e durante a sua realização, não percais nunca de vista que o principal objetivo da peregrinação na Terra Santa é o encontro com Cristo na sua Terra, a leitura da Sagrada Escritura, particularmente do Evangelho, in loco, e o de atualizar esta leitura nas celebrações litúrgicas. Partindo da minha experiência como guia de grupos de peregrinos, a Terra Santa se apresenta como uma particular plataforma para entrar numa nova relação com a Palavra de Deus, despertando aos interessantes movimentos bíblicos. Também é uma forma de se relacionar com Deus na oração e na celebração dos sacramentos, especialmente na celebração da Eucaristia e do sacramento da Reconciliação. Deste modo, a peregrinação na Terra Santa pode ser um momento forte para a nova evangelização e, portanto, de descoberta da fé, além de potenciar ou redescobrir algumas importantes dimensões de nossa vida (dimensão ecumênica, inter-religiosa);
5.Cuidai da vossa atualização e formação permanente! Pelo que já dissemos, exige de nós uma formação adequada nos diversos campos: bíblico, arqueológico e teológico. Uma grande possibilidade é a de vos manter atualizados nestes campos, de tal forma que possais ser competentes nos distintos argumentos que se apresentam antes, durante e depois de uma peregrinação, apresentando a Terra Santa a partir de sua realidade. Hoje, não basta uma visita piedosa aos Lugares Santos. Tão pouco se pode ceder à tentação de organizar viagens simplesmente turísticas, mesmo que sejam de turismo religioso. Numa peregrinação à Terra Santa, fé e razão, espiritualidade e ciência devem caminhar de mãos dadas;
6.Criai pontes afetivas e efetivas entre vossas Igrejas locais e a Igreja mãe! Apresentando a realidade desta Igreja mãe, apresentai também as suas necessidades, convidando os peregrinos e a quantos entram em contato com vocês, a compartilhar seus bens com os cristãos da Terra Santa. Neste sentido, é importante preparar bem a coleta da Sexta-feira Santa ou a Jornada da Terra Santa. Se muitos cristãos conhecerão a realidade das comunidades cristãs na Terra Santa, estou convicto que seriam muito generosos. Neste mesmo contexto, é necessário estar atento à relação com os bispos, párocos, religiosos, associações. Visitai e lhes informai sobre tudo o que vistes nesta Terra. Criai relações de amizade, tendo como base a colaboração e disponibilidade para lhes dar palestras sobre a Terra Santa, sobre a Bíblia, sobre São Francisco, bem como para lhes pregar retiros espirituais;
7. Cuidai de vossa relação com a Custódia! Além do que é exigido em nossa legislação a todos os frades de vossas respectivas Províncias, trabalhai a favor da Custódia da Terra Santa. Esta relação especial com a mesma, vos conduza a conhecê-la melhor a cada dia através de visitas periódicas, a manter uma comunicação direta com as sua distintas instituições e a trabalhar a favor das vocações para a Custódia;
8.Cuidai de vossa relação, enquanto Comissários, com os irmãos de vossas Províncias! Não os vejais e não sejais vistos como um organismo autônomo da Província. Isto repercutiria negativamente na Custódia, aumentando ainda mais a desafeição entre os irmãos por esta missão, que deveria ser entendida como uma verdadeira missão da Ordem. A Custódia dos Lugares Santos, enquanto tal, foi confiada à Ordem. Não sejais reticentes a uma supervisão por parte do Ministro provincial no vosso trabalho e na contabilidade do Comissariado. Trabalhai, para que os irmãos das Províncias conheçam a Terra Santa, a amem e estejam dispostos a dar o seu serviço à Custódia, ao menos por alguns anos de sua vida. Segundo as possibilidades, envolvei os irmãos da Província em algumas atividades do Comissariado. Isto permitirá que vosso trabalho seja melhor valorizado, resultando no vosso melhor benefício, que também beneficiará a Terra Santa;
9. Sede transparentes na gestão econômica! Esta transparência deve acontecer em distintos níveis: com a respectiva Província, com os bispos e com a Custódia, recordando sempre que o dinheiro que recebeis é para a Terra Santa e somente para ela. Neste contexto, vos peço que não retenhais nos Comissariados grande soma de dinheiro. Deixai uma quantidade adequada para continuar com as atividades dos Comissariados. Sede diligentes em enviar, o quanto antes, o dinheiro à Custódia. A mesma necessita de vossa generosa remessa para levar adiante os projetos que traz em suas mãos;
10. Nisto tudo, recordai que sois sempre franciscanos no modo de comunicar a realidade da Custódia e da Terra Santa, nos vossos contatos as Igrejas locais e até mesmo com as Províncias OFM. Tende consciência na gestão econômica, na promoção das vocações em manifestar-vos como franciscanos. Isto, longe de criar dificuldade em vosso trabalho, o facilitará enormemente.
À Custódia da Terra Santa
1. Fiéis à rica história da Ordem na Terra de Jesus e no espírito missionário que caracteriza a vossa presença na Terra Santa, segui testemunhando o Evangelho com a vossa vida de serviço a todos, sem distinção de raça, língua ou religião. Assim, vereis que agradais ao Senhor, pregando-O também com a palavra. Vosso testemunho e vosso serviço a todos será a maior propaganda para a Custódia;
2. A Custódia há de seguir investindo na comunicação em todos os níveis: no mundo cristão, a quantos estão interessados na Terra Santa e com os Comissários. Na relação com os Comissários, intensificai a comunicação com os mesmos, seja através da secretaria, que recentemente foi ativada na Custódia, seja através de outras secretarias da mesma;
3. Segui oferecendo aos Comissários cursos de atualização, por intermédio de nossa Faculdade da Flagelação, informando-lhes antecipadamente tais iniciativas para lhes favorecer a participação;
4. No escopo de favorecer a transparência com os Comissários e seu interesse pela Terra Santa, a Custódia, através do Economato, compartilhem com os Comissários a gestão das somas econômicas que são enviadas pelos Comissariados.
À Ordem
Sendo a Ordem responsável diante da Santa Sé pela Custódia e pelos Lugares Santos (cf. CCGG 123,1), a Fraternidade Universal tome cada maior consciência pela importância da Terra Santa e de sua responsabilidade em prestar ajuda à Custódia com pessoal idôneo (EEGG 69). A partir de Jerusalém, faço um apelo a todos os Ministros e Custódios, para que enviem algum irmão ao serviço da que justamente é considerada como a pérola das missões franciscanas.
Queridos irmãos Comissários: ao retornar a vossos lugares proveniência, saudais e transmitais aos irmãos a minha saudação e a saudação de todos os que trabalham na Terra Santa. Que a todos acompanhe sempre a bênção do Senhor. Paz e Bem!
Tradução do texto espanhol, Frei Ivo Müller, OFM