Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Com o Sínodo, os sinais de uma nova eclesiologia

27/10/2015

Notícias

Frei Antônio Moser

Desde os primeiros gestos do Papa Francisco recém-eleito, começou-se a recordar uma expressão que já aparecia no contexto do Concílio Vaticano II há 50 anos. Com as homilias e pronunciamentos ligados à Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, os sinais foram sendo captados com rápida e crescente nitidez. Este Papa carrega consigo uma nova compreensão do que significa ser Igreja. O contexto dos fatos que antecederam à renúncia de Bento XVI serviram como pano de fundo para que a percepção de uma nova eclesiologia fosse tomando vulto. Como Francisco fala mais por gestos do que por palavras, rapidamente ele veio mostrar como entendia sua vocação. Deus o chamava para criar uma nova atmosfera.

Essa nova atmosfera passou a ser percebida não só por teólogos profissionais, mas também por muitos setores da Igreja, tanto dos que fazem parte da hierarquia quanto dos que denominamos de fiéis. E o mais curioso é que a percepção não se prende somente a pessoas de “alto nível”. Justamente as pessoas mais simples parecem estar sentindo a mesma coisa: algo está mudando, e mudando rapidamente na Igreja.

O recente Sínodo para as famílias foi, certamente, um marco decisivo para não deixar mais dúvidas. Este outubro passado será mais que um ‘outubro rosa’: será um outubro inesquecível para os que buscaram se informar sobre o que estava ocorrendo em Roma. Através da presença de mais de 250 cardeais e bispos, bem como de uns 50 leigos, muitos sendo casais, e uns 30 representantes de Igrejas cristãs não católicas, ficou claro que ali se encontravam representantes de uma Igreja espalhada por todo o mundo. Não uma Igreja que um certo número de pessoas julga quase morta, mas de uma Igreja viva, vibrante, capaz de ler e interpretar os sinais dos tempos e disposta, mais do que nunca, a partir para a ação.

Aparentemente tudo isto já constava dos últimos decênios da Igreja. Mas a chama que se ascendia rapidamente se extinguia. A impressão que este Sínodo deixa é que, desta vez, não vai ocorrer a mesma coisa. Duas razões ao menos apontam nesta direção. A primeira no modo como o Sínodo foi preparado e executado. Ninguém poderia imaginar que um evento deste porte começasse com um questionário aberto, que acolhia as respostas de quem se propusesse a dá-las. Em seguida, depois de uma triagem veio um primeiro texto, que serviu de base para o Sínodo extraordinário do ano passado. Novos aportes, nova redação. E no Sínodo deste ano ficou claro, desde o início, que os convidados não estavam ali simplesmente para assinar embaixo do texto-base. Era para discutir mesmo, tanto em grupos quanto nas plenárias.

O segundo sinal, para ter certeza de que uma nova eclesiologia vai se implantando, está na maneira de como Cardeais, Patriarcas e bispos se relacionarem entre si e com os demais convidados. Sobretudo nos intervalos se tinha a impressão de que todos já se conheciam há muito tempo. Também, não era para menos, tendo o Papa não só presente, mas circulando livremente no meio de todos, tomando café com todos, deixando-se fotografar e cumprimentar à vontade. E o texto aprovado: o que dizer sobre ele? Fica para um próximo artigo. O mais importante foi o clima que reinou, onde até mesmo os que há um tempo se julgavam superiores, agora não têm como não proceder como o Papa: despojando-se de todas as honrarias.