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Grech: “Instrumentum laboris”, experiência com a voz de todos

21/06/2023

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A coletiva de imprensa de apresentação do “Instrumentum laboris” da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (Vatican Media)

O texto do Instrumentum laboris é “como um livro de receitas. Os cozinheiros recebem esse livro junto com alguns ingredientes: a sua missão é unir os diferentes ingredientes para satisfazer diferentes paladares”, graças ao Espírito Santo que os guia “para encontrar uma nova harmonia alimentar”. Um documento “de toda a Igreja, não escrito na escrivaninha, mas no qual todos são coautores, cada um pelo papel que é chamado a desempenhar na Igreja”.

Assim, o cardeal Jean-Claude Hollerich, relator geral da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, e o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, descreveram o Instrumentum laboris da primeira sessão da Assembleia sobre o tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”, que se realizará no Vaticano, na Sala Paulo VI, de 4 a 29 de outubro de 2023. O Documento de Trabalho foi apresentado na coletiva, na Sala de Imprensa da Santa Sé, na qual o pe. Giacomo Costa, consultor da Secretaria Geral do Sínodo, apresentou a metodologia da Assembleia sinodal, e um sacerdote, uma religiosa e uma leiga deram o seu testemunho sobre a preparação dos membros da assembleia de outubro e sobre a possível utilização do Instrumentum laboris por grupos locais.

Um texto, apresentado nesta terça-feira (20/06), que não é “um tratado teológico sobre a sinodalidade”, explicou Hollerich, mas “fruto de uma experiência de Igreja, de um caminho no qual todos aprendemos mais”, no qual, esclarece o cardeal Grech, “não falta a voz de ninguém: do Santo Povo de Deus; dos pastores, que com a sua participação garantiram o discernimento eclesial; do Papa, que sempre nos acompanhou, nos apoiou, nos encorajou a ir em frente”. Um texto que “não dá respostas, mas se limita a fazer perguntas”. Serão os bispos, sublinha o relator geral, “por serem chamados a aperfeiçoar o discernimento iniciado no processo sinodal mundial”, que tentarão “dar respostas”. E esclarece que este texto deve ser usado com “harmonia-consentimento-guia do Espírito”. Não teremos que encontrar todas as respostas, acrescenta Grech, mas “uma Igreja realmente sinodal poderá responder a muitas das perguntas do homem de hoje”.

As três fases
O cardeal secretário do Sínodo apresenta o documento como “uma semente que pode produzir muitos frutos”, fruto de um processo sinodal que “envolveu toda a Igreja e todos na Igreja, na perspectiva do ‘aperfeiçoamento’ do Sínodo dos Bispos de evento a processo, desejado pelo Papa Francisco” com a constituição apostólica Episcopalis communio. Ele enfatiza que o Sínodo não começa em outubro próximo, mas começou em 10 de outubro de 2021, com a celebração de abertura em São Pedro. A partir de então a primeira fase foi dividida em etapa nas Igrejas locais, com a consulta ao Povo de Deus; a segunda, nas conferências episcopais, com o discernimento dos bispos sobre as contribuições das Igrejas locais; a terceira, nas Assembleias continentais, com um maior nível de discernimento em vista da segunda fase do Sínodo.

“Entre profecia e discernimento”
Uma escuta necessária, reitera o secretário-geral, porque “é um grande insulto” dizer que o Povo de Deus “não tem instrumentos para oferecer uma contribuição real ao processo sinodal”. A experiência vivida mostrou o contrário: onde os bispos iniciaram e acompanharam a consulta, a contribuição foi viva e profunda”. O mesmo acontece “a nível das paróquias, congregações de vida consagrada ou associações laicais e movimentos, onde os responsáveis ​​acompanharam e estimularam a consulta”. Durante estes dois anos, conta o secretário-geral do Sínodo, “encontrei bispos que antes eram céticos, mas caminhando mais de perto com o Povo de Deus a eles confiado, encontraram um tesouro inestimável!”. E descreve esta primeira fase “como um processo de profunda circularidade entre profecia e discernimento”, com o Instrumentum laboris “ponto de chegada de um caminhar juntos” que se oferece também como “ponto de partida para a segunda fase do Sínodo, a da dupla Assembleia de outubro de 2023 e outubro de 2024”.

Um texto de experiências missionárias e comunitárias
O cardeal Grech conclui, enfatizando que as conclusões do Sínodo ainda não foram escritas e que a Secretaria do Sínodo sempre respeitou “o que emergiu das etapas do processo sinodal”, começando pelo Documento Preparatório e depois o Documento para a Etapa Continental, e “o fazemos agora, com o Instrumentum laboris, que restitui toda a escuta da primeira fase através do discernimento das Assembleias continentais”. O cardeal Hollerich, arcebispo de Luxemburgo, esclarece que “não é um documento que, após várias emendas dos participantes do Sínodo, deva levar a uma versão final a ser votada no final do Sínodo”. Um texto que “oferece sobretudo uma narrativa do processo sinodal empreendido pela Igreja” e “baseia-se numa miríade de experiências pessoais e comunitárias”, porque “a Igreja está em Sínodo: tentando caminhar juntos, experimentamos uma nova arte de caminhar guiados pelo Espírito”. Nesta experiência de Igreja, sublinha o relator geral, “foi fundamental o método da conversa no Espírito: a mesma conversa no Espírito será o nosso principal instrumento de discernimento”.

Padre Costa: 370 membros no Sínodo
O tema é explorado pelo padre Costa, que recorda que a metodologia da assembleia de outubro de 2023 está em continuidade “com a das assembleias mais recentes, com algumas variações”. Em parte, devido ao aumento do número de membros da Assembleia. Serão cerca de vinte bispos a mais do que na última Assembleia Geral Ordinária, a de 2018, “dado o crescimento do número de bispos no mundo”. E o número de não bispos está aumentando, após a extensão da participação aprovada pelo Papa Francisco em abril. Assim, haverá cerca de 370 membros da Assembleia, excluindo os especialistas, enquanto em 2018 havia 267 padres sinodais, mais cerca de cinquenta auditores. Com base nas prioridades expressas pelas sete assembleias continentais, o consultor da Secretaria do Sínodo explica que “emergiu o desejo de continuar utilizando o método da conversa no Espírito para a escuta e o discernimento em comum, que marcou profundamente a fase consultiva do caminho sinodal”. Um método que pode ser descrito como “uma oração compartilhada em vista de um discernimento comum, para o qual os participantes se preparam com reflexão e meditação pessoal”. Uma conversa que “é tanto mais fecunda quanto mais todos os participantes nela se comprometem com convicção, partilhando experiências, carismas e ministérios a serviço do Evangelho”. E que pretende alcançar, também abordando junto “assuntos controversos”, um consenso “inclusivo”, em que todos possam se sentir representados, sem transcurar os pontos de vista marginais nem transcurar os pontos em que emerge uma divergência, que não deve ser eliminada, mas submetida a discernimento”.

O método
Esta conversa, esclarece o pe. Costa, articula-se em três momentos: o “tomar a palavra por parte de cada um, a partir da sua própria experiência relida na oração durante o tempo de preparação”; outro tomar a falar “para expressar o que mais o tocou durante a escuta profunda e quando ouviu o Espírito Santo fazer ressoar a sua própria voz”; por fim, “identificam-se os pontos-chave que surgiram durante a conversa e colhem-se os frutos do trabalho comum, tendo em vista da passagem à ação”. Em comparação com o passado, haverá “alguns momentos de oração comum” e algumas celebrações litúrgicas, “além da oração com que abre e fecha cada sessão”.

A Sala Paulo VI acolherá os trabalhos do Sínodo
Os trabalhos da Assembleia serão estruturados em cinco segmentos, de acordo com o desenvolvimento do Instrumentum laboris, sendo que o último segmento “será dedicado a recolher os frutos e sua formulação num texto que os torne comunicáveis ​​e, em relação às propostas mais concretas, também viáveis, no período de tempo que separa as duas sessões (2023 e 2024). As votações permitirão apreender o consenso que esta formulação desfruta”. Entre as duas sessões “se continuará caminhando juntos nas Igrejas e entre as Igrejas”, sublinha o pe. Costa, identificando “quais os bloqueios que impedem o caminho” e aprofundando “as questões sobre as quais ainda não amadureceu um consenso suficiente”. Uma novidade logística será o local que acolherá a assembleia, não a Sala Nova do Sínodo, mas a Sala Paulo VI, que é “grande o suficiente para acomodar todos os participantes – explica Costa – enquanto na Sala Nova do Sínodo caberia apenas os membros e não os especialistas. Mas, sobretudo, a Sala Paulo VI pode ser dotada de mesas nas quais se sentar em grupos de cerca de dez pessoas, agilizando a passagem entre as sessões plenárias e os trabalhos de grupo e sobretudo facilitando a dinâmica da conversa no Espírito”.

Os testemunhos
Nos três testemunhos dos futuros membros da assembleia, a suíça Helena Jeppesen-Spuhler, da Ação Quaresmal, destaca que em todas as fases do caminho sinodal realizado até agora “nossas preocupações e nossas necessidades são ouvidas. Não somos simplesmente cristãos que esperam receber e aceitar regras e prescrições. A maneira como nós fiéis entendemos a fé cristã em nosso contexto específico é agora uma questão de interesse. E nos respectivos textos, nos quais foram sintetizados os resultados dos processos de escuta e discernimento, as nossas preocupações são realmente acolhidas”. Em preparação para a assembleia de outubro, um “pré-sínodo” dos jovens será realizado na Suíça, e o Instrumentum laboris será discutido por organizações femininas, por alguns conselhos diocesanos, por delegados de Praga, por grupos sinodais nacionais e diocesanos e pela Conferência Episcopal, para que “os participantes do Sínodo não representem apenas a si mesmos”.

Pe. Rafael Simbine Junior, conectado da África, secretário-geral do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (Secam), representado por uma irmã, se une, anunciando um seminário programado para a preparação dos delegados africanos para a assembleia geral de outubro. Por fim, a irmã Nadia Coppa, presidente da UISG, a União Internacional das Superioras Gerais, anuncia que o documento será apresentado em breve às quase duas mil líderes das congregações femininas em um webinar on-line. Do Instrumentum laboris, ela destaca a validade das ideias oferecidas pelas fichas de trabalho, que “tocam diferentes e importantes perspectivas (teológica, pastoral, canônica…)”.


Fonte: Vatican News (texto de Alessandro Di Bussolo)