Celebrações ecumênicas marcam Semana de Oração pela Unidade Cristã em Petrópolis
09/06/2019
Frei Augusto Luiz Gabriel
Petrópolis (RJ) – Na semana que antecede a solenidade de Pentecostes, aconteceu a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC). O tema é inspirado na passagem do livro do Deuteronômio: “Procurarás a justiça, nada além da justiça” (Dt 16, 11-20). E é com este espírito que a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus e a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Petrópolis (RJ) preparam duas celebrações ecumênicas. A primeira celebração foi na quarta-feira (05/06), às 19h15, na Paróquia do Sagrado, e a segunda na Igreja da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana, às 19h30, deste sábado (08/06), véspera da Solenidade de Pentecostes, contando com a presença de frades, irmãs e fiéis de ambas as denominações religiosas.
Os cristãos firmaram um compromisso com a justiça, a misericórdia, e a unidade cristã tendo em vista que este tempo simboliza o comprometimento das pessoas com o ecumenismo, a justiça e a paz. Esta iniciativa é uma forma concreta de mostrar que os cristãos acreditam realmente na unidade das diferenças e que professam uma só fé no mesmo Deus.
UNIDADE NA DIVERSIDADE
O pároco Frei Jorge Paulo Schiavini acolheu a todos e deu início à celebração ecumênica que teve a colaboração de Frei Marcos Antônio de Andrade, Frei José Ariovaldo da Silva e do pastor da Igreja Luterana, Elton Pothin.
A homilia do primeiro dia ficou por conta do pastor Elton. Fazendo alusão ao tema da Semana, Pothin afirmou que o pedido de Jesus é simples. Ele quer que exista unidade na compreensão de que Jesus Cristo é o salvador de todos. Explicando a diferença da palavra uniformidade e unidade, Elton destacou que a uniformidade pode ser compreendida como algo que não exista diferença.
O pastor chamou a atenção para o sentido e importância da unidade entre as comunidades cristãs, unidade esta que não pode ser confundida com uniformidade. A rigidez absoluta no que diz respeito à uniformidade na linguagem do culto e da doutrina, pode ferir seriamente a unidade dos cristãos, como, historicamente, de fato aconteceu, e ainda acontece. A rigidez absoluta da linguagem humana sufocou a flexibilidade do Espírito dialógico, deixando-nos conduzir pela impiedosa dureza do espírito diabólico que só cria divisão, inimizade, ódio, vingança, condenação, morte.
“Não é isso que Jesus pede, Ele não quer que todos sejam literalmente iguais. Se olharmos para a vida das primeiras comunidades cristãs vamos perceber que não existia uniformidade e sim unidade, pois Jesus é o Filho de Deus e o nosso Salvador”. Pothin citou alguns exemplos e exemplificou dizendo que nem mesmo nas comunidades com as denominações iguais existe uniformidade. Por isso, segundo ele, não pode haver falsas doutrinas e sim um contato espiritual com Deus.
Para ele, é preciso entreter os ouvintes apresentando uma nova pregação, tendo como base o que se vê na sociedade a partir da realidade local de cada um. “Mas o que precisamos mesmo e com urgência é orientar os cristãos de acordo com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Alguns se dizem cristãos, mas nem sabem por que foi que Jesus Cristo morreu”, lamentou.
No final da reflexão, o pastor luterano voltou a falar da uniformidade afirmando que não se faz necessário existir igualdade nos ritos e celebrações, mas sim no testemunho a partir do que Jesus fez. “Que cada cristão possa sair daqui dizendo: ‘Jesus é o meu bom pastor’; ‘Jesus é a luz para a minha caminhada’; ‘Ele é o caminho a verdade e a vida’. Busquemos a justiça de Deus e assim sejamos unos na diversidade das celebrações, costumes e culturas”, concluiu.
O ESPÍRITO QUE “MOVE OS CORAÇÕES”
Já no segundo dia (08/06), a Celebração Ecumênica foi na Igreja de confissão Luterana. Assim como na primeira celebração, os celebrantes Frei Jorge Paulo Schiavini, Frei Marcos Antônio de Andrade, Frei José Ariovaldo da Silva e o pastor da Igreja Luterana, Elton Pothin ficaram dispostos em frente ao altar e conduziram as reflexões e orações do dia. A homilia ficou a cargo do professor e liturgista Frei José Ariovaldo da Silva.
Para ele, em nossas diferenças, vivemos hoje, aqui e agora, o mistério de uma Presença que une, divina presença que, pelo seu Espírito, nos faz sentir um corpo novo, corpo eclesial, seu corpo. Citando a passagem do Evangelho de Mateus: ‘Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio eles’ (Mt 18,20), Frei José afirma que Jesus, ao prometer isso, falava da importância da correção fraterna para que se possa viver em concordância e, assim, conseguir do Pai dos céus tudo o que for pedido.
“E, depois, após sua ressurreição, ao enviar seus apóstolos em missão pelo mundo afora, a todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quando ele mandou fazer, disse novamente: ‘Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo’ (Mt 28,16-20). Em outras palavras: Não se estressem, não tenham medo! Vou passar pela morte, sim, mas, vou continuar depois com vocês, de outra forma, de fora invisível, pelo meu Espírito, o que, aliás, é o mais importante, como diz o poeta Saint Éxupery, autor do “Pequeno Príncipe”: ‘O essencial é invisível aos olhos’, recordou o frade.
Para ele, é obra de Deus que a busca da paz vença os conflitos, que o perdão supere o ódio, e a vingança dê lugar à reconciliação. Numa palavra, a pessoa de Jesus, através de suas palavras e todo o seu agir, tornou concreto para todos de que jeito Deus é, e que João em sua primeira carta define: ‘Deus é amor’. “Como eu vos amei, do jeito que vos amei, isto é, dando da vida, assim também vocês se amem. Este é o distintivo do ser discípulo e discípula do Senhor. Pois Jesus, nesse sentido, em meio a um mundo de trevas, torna-se luz para todos. Esse amor, esse sim, é luz que dissipa as trevas do ódio, do preconceito, da vingança, da guerra, da divisão, do medo e da morte”, explicou.
Segundo o frade, Jesus é a expressão máxima do que seja amar e, com este amor, trazer nova luz para uma sociedade mergulhada nas trevas da ganância, do orgulho, da vaidade, do egoísmo, da prepotência, do preconceito, da discórdia, do ódio e tantas outras coisas que tornam a vida sem sabor. “Jesus é a expressão máxima do que seja amar e, consequentemente, ser luz para a sociedade que vivemos. E ele deseja e pede que, como discípulos e discípulas seus, sejamos assim também. Por ela iluminados, seremos salvos pela prática da justiça e da caridade”, exortou.
Frei José Ariovaldo rezou suplicando a graça da conversão permanente nas mais diferentes tradições religiosas cristãs. “Sobretudo para que não façamos de nossos cultos, falsos deuses de dinheiro, poder, orgulho, vaidade, prepotência e pompa. Façamos deles lugar de adoração e permanente aprendizado. Que nossas celebrações sejam lugar de adoração e conversão permanente dos falsos deuses modernos para o verdadeiro Deus de Jesus Cristo, o Deus de amor e da justiça”, conclui.
Em seguida, os fiéis firmaram novamente um compromisso com a justiça, a misericórdia e a unidade através da oração do Credo Niceno-Constantinopolitano, da oração do Pai-nosso na versão ecumênica e da partilha da paz.
VEJA IMAGENS DAS DUAS CELEBRAÇÕES ECUMÊNICAS
NA IGREJA DO SAGRADO (05/06)
NA IGREJA LUTERANA (08/06)