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Catequistas Franciscanas se reorganizam como Congregação e voltam às origens

13/01/2023

Notícias

Rodeio (SC) – Era o dia 14 de janeiro de 1915, na Igreja de São Virgílio, no bairro Rodeio 50, quando três jovens manifestaram a Frei Polycarpo Schuen, pároco da Paróquia São Francisco de Assis, em Rodeio (SC), que não ficariam apenas um ano como catequistas e professoras nas escolas paroquiais, frequentadas pelos filhos e filhas dos imigrantes italianos, mas abraçariam para sempre esse serviço evangelizador. Naquele momento era lançada a semente da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas.

Neste dia 14 de janeiro de 2023, 108 anos depois daquele “sim” das três jovens –  Amábile Avosani, Maria Avosani e Liduína Venturi -, as Irmãs da Província Imaculado Coração de Maria se reúnem para celebrar essa data histórica na Casa-Mãe de Rodeio. Cheio de simbolismo, esse momento também marca o início do Noviciado na Comunidade Rodeio 50, onde quatro jovens repetem o “sim” exatamente no local onde tudo começou há mais de um século: a “Capela do Sim”. Nesta dia 14, às 10 horas, o mestre Frei Samuel Ferreira de Lima preside a Celebração Eucarística deste Jubileu.

Esse retorno às fontes com o Noviciado em Rodeio, não é a principal mudança, mas podemos dizer que se trata da “ponta do iceberg” de uma grande transformação que já começou na Congregação. Formada hoje por seis Províncias no Brasil e uma coordenadoria em Angola, na África, além das presenças no Chile, na Bolívia, na Argentina, na Guatemala e na República Dominicana, a Congregação deixará de ter essa estrutura com os governos provinciais e passará a ter somente o governo da Congregação.

Da esq. para dir: Ir. Leila, Ir. Leandra, Ir. Cidinha, Ir. Jordânia e Ir. Patrícia

Segundo explica a Ministra Provincial da Província Imaculado Coração de Maria, Ir. Ivonete Gardini, esse processo já começou em 2018 e terá dois sexênios para ser concluído (2018-2024, 2024-2030). “Desde 2018, no Capítulo Geral, aprovamos a unificação, ou seja estamos num processo de reorganização, que é previsto para dois sexênios, deixando de existir as Províncias para sermos somente a Congregação. Com isso, haverá um redimensionamento das casas, dos serviços internos, das presenças, ficando somente a estrutura geral”, explica Ir. Ivonete. Atualmente, a Ministra Geral é Ir. Ana Pereira de Macedo, da Província Santa Teresa do Menino Jesus.

A partir de 1967, a Congregação estava no auge e via a necessidade de se expandir. Foi então que se criou quatro Províncias e, em 2000, mais duas. “Agora estamos fazendo outro movimento, o de retorno aos primórdios da Congregação”, avaliou Ir. Ivonete.

Como ela explica, a diminuição no quadro das religiosas, seja no ingresso ou através de desistências, assim como o número de idosas e falecimentos, levou as Irmãs Catequistas a esta reflexão. “O objetivo principal é responder melhor à questão missionária, fortalecendo as principais áreas de atuação do nosso carisma”, observou a Ministra Provincial. Além do redimensionamento de espaços, Ir. Ivonete destaca o fato positivo de se ter liberdade de transitar em outros territórios que não seja exclusivo de uma Província. “A gente já está fazendo experiências em algumas comunidades com irmãs de diversas Províncias. A formação já não é mais de uma determinada Província, mas da Congregação”, citou a religiosa.

Ir. Ivonete, Ministra Provincial da Província Imaculado Coração de Maria

Mas a Congregação pode-se dizer que é privilegiada em relação a muitas, porque tem 40 jovens sendo acompanhadas no processo formativo. “Temos esperança com muitas vocações da região do Amazonas e de Angola. Em compensação, no Sul e Sudeste, não temos nenhuma vocacionada”, observou a Irmã.

Ir. Ivonete ressalta que hoje o carisma, que é educação e catequese, tem uma compreensão mais abrangente, e responde aos apelos atuais através de trabalhos em redes e parcerias, para o aprofundamento da espiritualidade francisclariana e atualização do carisma. As Irmãs Catequistas, conhecidas carinhosamente como “mestras”, continuam sendo “mestras” no meio de alguns interlocutores, porque não podemos abraçar a tudo. “Então, não vamos perder de vista os pobres. E dentro desses pobres, os povos originários, os indígenas, as mulheres, afrodescendentes, os ribeirinhos, as crianças e adolescentes”, ressalta a religiosa, lembrando que no planejamento estratégico da Congregação, as Irmãs assumem as áreas sócio-ambiental, educação e eclesial. “Por exemplo, em Rodeio, naquela época, o nosso clamor era a catequese e a educação formais, hoje a grande resposta que podemos dar, neste espaço que temos, é na questão ambiental”, assinalou.

Para ela, no Capítulo Geral no próximo ano, certamente “vamos bater o martelo para estabelecer uma data da unificação”. Ir. Ivonete revela que hoje a Província que está à frente tem 62 irmãs e é a mais idosa. “Posso dizer sem medo que 88% têm acima de 70 anos”, disse.

Natural de Camboriú, Ir. Ivonete tem 52 anos e 28 anos de vida religiosa. Além do trabalho na Congregação, ela ficou sete anos no Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) da Província da Imaculada Conceição. Para ela, esse tempo foi uma escola. “Dois aspectos fortes eu destaco: trabalhar com os pobres, mas aqueles que estão nas periferias da periferia. A gente diz que busca resgatar a humanidade deles, mas eles resgataram a minha humanidade. Eu ganhei muito mais do que ofereci. Aprendi valorizar pequenas coisas, valorizar o humano. E uma outra coisa que aprendi, e que me é muito útil aqui nesta Casa, é administrar, coordenar, aprender a lidar com os colaboradores, já que nesta Província temos 26 contratados”, contou a religiosa, que é graduada em Psicologia. Foi Vice-Provincial (2005-2009) e conselheira Geral.

Símbolo da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas

Para as jovens que estão pensando em seguir este caminho, Ir. Ivonete é clara: vale a pena. “Mas aprendi com uma leiga evangélica que só vale a pena quando se doa por inteiro. Nesse doar-se por inteiro, a gente vive com intensidade o carisma que abraça. Eu diria que sou uma mulher realizada e que consegui fazer com que o meu projeto de vida se juntasse ao projeto da Congregação, dentro desse carisma francisclarino, para vivermos a pobreza, a simplicidade, a fraternidade e solidariedade”, revelou. “Hoje, sou uma pessoa muito livre. Não tenho escrúpulos para dizer ‘posso’, ‘não posso’, e com muita liberdade posso dizer ‘sim é sim’ e ‘não é não’. A Congregação me proporcionou isso e eu também busquei formação, aperfeiçoamento para uma entrega feliz. Sou apaixonada por isso que faço e, se tivesse que começar tudo de novo, faria, mesmo quebrando a cabeça e tendo acertos”, ensinou.

“Vivo intensamente o meu momento. Agora, tenho maior prazer de cuidar de quem cuidou de muita gente”, disse, referindo ao seu serviço de Ministra Provincial.

A Congregação tem o seguinte Conselho Geral: Marlene Chiudini, da Província Santa Clara de Assis, em Rio do Sul – SC; Marlene dos Santos, da Província São Francisco de Assis, de Morro do Chapéu – BA; Rosali Inês Paloschi, da Província Imaculado Coração de Maria, São Paulo – SP e Laura Vicuña Pereira Manso, da Província Amábile Avosani, de Porto Velho – RO.

Da esq. para dir.: Ir. Cidinha, Frei Miguel, Ir. Lúcia, Ir. Leandra, Ir. Leila, Ir. Jordânia, Ir. Patrícia, Ir. Deondina e o vocacionado Douglas.

NOVICIADO: BEBER NA FONTE

O Noviciado Interprovincial das Irmãs Catequistas Franciscanas teve início no dia 8 de dezembro, na sede da Província Santa Terezinha do Menino Jesus, no Mato Grosso. No dia 9 de janeiro, as quatro noviças – Leila Freitas Aguiar, Leandra E. Oliveira de Oliveira, Jordânia de Oliveira Azevedo e Patrícia Costa Cardoso -, chegaram na Casa do Noviciado em Rodeio 50, para serem acolhidas pela mestra Maria Aparecida Marques Fernandes, ou simplesmente Irmã Cidinha. Com ela na Comunidade Formadora terão: Ir. Lúcia Vegini, com a disposição de 5ª noviça aos 82 anos, Ir. Rosali Paloschi e Ir. Deondina Girardi.

Com a experiência de mestra de duas turmas, Ir. Cidinha chegou a pensar que ficaria mais uma turma em São Gabriel da Cachoeira, cidade encravada na floresta amazônica, no extremo Noroeste do país, fazendo divisa com a Colômbia e Venezuela. Conhecida como “Cabeça do Cachorro”, pela forma de seu território, nove de cada dez habitantes são indígenas. “No começo as irmãs foram para lá e agora o mundo volta para Rodeio, para a origem da congregação. Beber na fonte, como é nosso lema: ‘Permanecer na intimidade com o mestre, fonte da vida’. Então nessa fonte, a fonte primeira, a fonte da experiência com Jesus Cristo, mas também a fonte congregacional. Porque uma coisa é falar sobre esse local, outra é vivê-lo aqui”, explica Ir. Cidinha, que também não conhecia Rodeio. Para ela, é muito simbólico estar na “Capela do Sim”, marco fundacional: “Que essa volta à fonte ajude o coração a ser cada vez mais congregacional”.

Com 27 anos de vida religiosa, Ir. Cidinha nasceu em Comodoro, colônia de migrantes mineiros, que foram ao Mato Grosso em busca de terra. “No ‘interiorzão’, o padre ia uma vez por ano. Quem fazia a vida cotidiana da nossa comunidade eram os nossos pais. Eu cresci nesse movimento de comunidade: celebração da Palavra, reza do terço em casa… E aí as Irmãs foram morar em Comodoro (1987) e eu achei legal o estilo de vida delas, andando de trator, a pé, não importava como. Essa que hoje é a Ministra Geral (Ana Pereira) ia muito àquela comunidade. Ela me acompanhou no processo vocacional”, contou. Para a mestra, esse processo foi natural. Em contato sempre com as irmãs, quando percebeu estava mais com elas do que em sua casa. “No começo foi difícil porque era filha única, embora meus pais tivessem muitos filhos adotados. Mas depois aceitaram meu ingresso na vida religiosa”, acrescentou.

“O que me encantou foi a convivência das Irmãs com o povo. Elas chegavam, iam nas casas, comiam aquilo que o povo tinha, celebravam e faziam encontros, estudos de bíblia. Conheci outras congregações, mas eu só me via como Catequista Franciscana”, revelou.

Nesse tempo como religiosa, viveu um momento triste, mas confessa que serviu de impulso para a Congregação: “Há dez anos fomos a uma reunião vocacional da Congregação e se constatou que nenhum lugar tinha vocacionadas. Aquilo deu uma crise existencial na gente. Mas ao mesmo empo dissemos: ‘Precisamos reinventar esse processo vocacional’. E a partir dali começamos a trabalhar muito. Hoje, temos em torno de 40 jovens na formação da congregação”, celebra.

AS NOVIÇAS

Leila Freitas Aguiar, indígena da etnia Tariana. É natural do município de São Gabriel da Cachoeira. “Eu conheci as Irmãs em São Gabriel, porque eu estava fazendo o Ensino Médio e comecei a participar da catequese de crisma. Tinha uma amiga que já era vocacionada e me levou para casa das Irmãs Catequistas. Eu comecei a ir junto para acompanhar essa amiga e, no começo, não queria entrar na Congregação. Mas fui conhecendo e fui ficando. Minha amiga desistiu e eu continuei”, contou.

Leandra E. Oliveira de Oliveira, 21 anos, natural de Itamarati, AM. “Eu conheci as Irmãs na Igreja, porque desde cedo os meus pais participavam muito. Desde pequena eu via as Irmãs trabalhando com o povo, dando catequese. Com o tempo, fui crescendo, e a Ir. Cristina Auxiliadora, do MT, me convidou para ser catequista e acabei me aproximando mais delas. Eu gostava de estar no meio delas. Eu sempre falava para os meus pais que queria ser irmã. Eu sempre repetia isso, só que eles pensavam que era coisa de momento. Mas aceitaram e fui fazer uma experiência de seis em Manaquiri(AM). Em Humaitá (AM), fiz o Postulantado”, revelou, falando de sua experiência ‘muito enriquecedora’ de três meses na Bolívia.

Jordânia de Oliveira Azevedo, 21 anos, natural de Rondonópolis, MT, conta que seu discernimento começou quando se encantou pelas atitudes de um jovem, que para ela seria seu esposo perfeito. Mas descobriu que ele era um seminarista: “Ele já era da Igreja e eu também descobri que o que me encantava nele era seu exemplo de vida. Pensei: ‘quero ser assim também’ e fui procurar as Irmãs”. Os dois primeiros anos fez em Manaquiri.

Patrícia Costa Cardoso, natural de Jacundá, no Sudoeste do Pará, conheceu uma congregação de Irmãs que trabalhavam num acampamento onde também morava. “Quando meus pais se separaram, fui para Marabá e as Irmãs estavam lá. Mas elas foram embora e uma amiga que trabalhava no Conselho Indigenista Missionário (Cimi) indicou as Catequistas Franciscanas. Fiquei dois anos com elas trabalhando na catequese e com os povos indígenas. Morei um ano em São Gabriel da Cachoeira e depois fui morar em Comodoro até chegar aqui”.


Comunicação da Imaculada Conceição