As armadilhas do amor
04/09/2014
Frei Gustavo Medella
“O amor é um grande laço, um passo pr’uma armadilha”, canta Djavan na Canção Faltando um pedaço, de sua autoria. O amor também é tema abordado por São Paulo, na segunda leitura da missa do próximo domingo (Rm 13,8-10): “Quem ama o próximo está cumprindo a lei”. Fica a pergunta: Pode de fato o amor, pregado, ensinado e vivido pelo Mestre Jesus, endossado por Paulo e muitos outros seguidores de Cristo, ser de fato “passo para uma armadilha”? Penso que sim!
Amar é mais do que nutrir um sentimento, é assumir um compromisso integral com aquele que se ama, especialmente quando o amado não se comporta de acordo com nossas expectativas, quando nos decepciona, quando se envereda por caminhos equivocados que certamente o levarão à ruína. É justamente nestas ocasiões que o amor se faz mais necessário e aí está a armadilha.
Quando tudo vai bem, quando os corações concordam, quando os interesses são convergentes, quando o “sim” é resposta recorrente, amar se torna agradável e gratificante. No entanto, quando a vida sai do prumo, quando os equívocos e discordâncias aparecem, quando se faz necessário dizer “não”, aí o compromisso com o amor se torna um desafio que lança a pessoa na difícil encruzilhada entre dizer “sim” e “amém” a tudo, incorrendo no pecado da omissão, deixando o outro se arruinar, só para manter a fama de bonzinho, ou assumir a postura de “cortar a própria carne”, de posicionar-se com justiça e firmeza pelo bem de quem se ama, à semelhança da mãe que, com o coração apertado, entrega o filho que cometeu um grave crime aos cuidados da justiça.
E é este segundo percurso que Jesus ensina no Evangelho de hoje, quando dá os devidos passos para a correção fraterna (Mt 18,15-20). Diante do pecado do irmão, Jesus jamais recomenda a omissão, mas, a partir do bom senso e da misericórdia, traça um caminho a ser percorrido com respeito, paciência e prudência, sempre pautado nos critérios da justiça e da transparência. Certamente, não é a opção mais cômoda e provavelmente trará algum desgaste para as partes envolvidas. No entanto, esta é a trilha do amor exigente, fiel e incondicional que Cristo abraçou até as últimas consequências.