Aparecem as primeiras luzes no Sínodo
13/10/2015
FREI ANTÔNIO MOSER
Sob as bênçãos de Nossa Senhora Aparecida, inciamos a análise da segunda parte do Instrumento de Trabalho. Como já expliquei, o texto com 78 páginas está dividido em três partes, seguindo nosso conhecido método do ver, iluminar e agir. O ver nos foi colocando diante de uma multiplicidade de problemas, todos eles mais ou menos complexos. Como se percebe, trata-se de um trabalho cuidadoso. A análise da primeira parte foi um tanto cansativa. A segunda parte, contudo, já foi mostrando as primeiras luzes e abrindo caminho para uma abordagem verdadeiramente pastoral.
Duas passagens já são suficientes para revelar o espírito que vai aparecendo ao longo do texto e dos debates. “… existem elementos válidos também em determinadas formas fora do matrimônio cristão – contudo, fundado sobre a relação estável e verdadeira entre um homem e uma mulher – que, de qualquer maneira, consideramos para ele orientadas. Com o olhar voltado para a sabedoria humana dos povos e das culturas, a Igreja reconhece também esta família como célula básica necessária e fecunda da convivência humana”. Claro que para pessoas mais abertas esta colocação não surpreende; mas certamente vai sacudir muita gente que via em tais uniões, uniões pecaminosas e ponto.
Um segundo ponto vem ressaltado na mesma perspectiva de uma atitude de acolhida para com as famílias feridas e frágeis. Depois de salvaguardar que o ideal não muda, ali vem um pensamento muito significativo e que pode escandalizar certas pessoas: ” … Portanto é preciso acompanhar, com misericórdia e paciência, as possíveis etapas de crescimento das pessoas que se vão construindo dia após dia ( ….). Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida extremamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades. A todas devem chegar a consolação e o estímulo do amor salvífico de Deus, que age misteriosamente em cada pessoa, para além dos seus defeitos e das suas quedas…”. Alguém se escandalizou? Pois reclame com o Papa Francisco, que a frase é dele.
Por estes poucos acenos e pelo clima descontraído que já se foi observando desde o início, já se entrevê que os resultados vão ser animadores, sempre na linha de nunca abaixar o ideal, mas também nunca perder de vista a realidade, sempre complexa. Aliás, muito interessante também o reconhecimento de que os matrimônios celebrados em outras religiões não deixam de ter o seu valor.