Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Monge alemão Anselm Grün prega retiro em São Paulo

29/08/2016

Notícias

anselm_290816g

Érika Augusto

São Paulo (SP) – Desde a última quarta-feira (24), o monge beneditino Anselm Grün está percorrendo diversas capitais do Brasil, lançando seu livro “Onde eu me sinto em casa e encontro o equilíbrio e o bem-estar espiritual”. A maratona, promovida pela Editora Vozes, responsável pelos livros do autor no país, passou pelas cidades de Recife (PE) no dia 24, Salvador (BA) no dia 25, Brasília (DF) no dia 26 e Limeira (SP) no dia 27. Nesta última, no interior de São Paulo, mais de mil pessoas participaram do encontro e da sessão de autógrafos.

Apesar da rotina intensa e dos longos trajetos percorridos, Anselm Grün, de 71 anos, estava bem disposto para a programação deste domingo (28). Logo cedo, às 8 da manhã, mais de 150 pessoas se reuniram no Centro de Eventos Anhangüera, no bairro de Perus, zona oeste de São Paulo, para um dia de retiro.

Frei Gustavo Medella, coordenador da Frente de Evangelização da Comunicação, conduziu a oração inicial. O monge Zacharias Heyes também ajudou na condução do retiro. Ele é autor do livro “Em casa comigo mesmo – guia para reequilibrar o corpo e a alma”. Frei Volney Berkenbrock, diretor da Editora Vozes, acompanhou os monges e ajudou na tradução do alemão.

anselm_290816 (5)Zacharias Heyes iniciou sua fala partilhando a experiência de escrever seu segundo livro. Ele afirmou que não tinha ideia de como o tema seria tão importante e atual, referindo-se à crise migratória que atingiu a Europa nos últimos meses. “Cada pessoa tem em si o desejo profundo de ser acolhido, de ser aceito pelos outros. Isso que eu entendo como estar em casa”, afirmou. O autor comparou o drama dos milhares de refugiados com a história de Jesus, que também nasceu numa situação de insegurança e sua família teve que enfrentar os desafios de estar sem pátria por um período. “Nós, cristãos, acreditamos que neste Jesus, Deus se tornou humano”, acrescentou.

O autor afirma em seu livro que o ser humano precisa entrar em contato consigo mesmo, para assim encontrar em si sua pátria e encontrar-se verdadeiramente com a vontade de Deus para sua vida. Zacharias pediu então aos presentes para recordarem quais os sonhos traziam consigo quando eram crianças, porque as crianças são originais, não sofrem tanta influência exterior e ainda não vivem segundo as expectativas dos outros. “Eu devo ser o original, como Deus me criou. E isso eu devo afirmar sempre: eu sou um original de Deus”, afirmou o monge. E disse que para redescobrir o desejo original de Deus para a vida de cada pessoa, é necessário estar em casa com Deus, através da oração e do encontro consigo mesmo.

Anselm Grün fala sobre a redescoberta da pátria
“Onde eu me sinto em casa e encontro o equilíbrio e o bem-estar espiritual”, este é o título do livro mais recente do monge da Abadia de Münsterschwarzach, na Alemanha, lançado pela Editora Vozes. A fala do autor foi baseada nos 12 capítulos, onde ele aborda os diferentes aspectos do que significa sentir-se em casa.

anselm_290816 (23)Para o autor, são muitos aspectos que ligam uma pessoa a um local. Ele citou que em hebraico existe uma palavra bonita para dizer pátria, mechora, que significa o lugar onde eu você cava o seu poço. E neste poço se reúne com seus irmãos para compartilhar uma mesma experiência, seja o idioma, as crenças, as memórias.

Anselm Grün também falou a respeito da crise migratória na Europa e de outras situações, onde as pessoas, por motivos pessoais ou profissionais, precisam sair do lugar onde nasceram e recomeçar uma nova vida. “Muitas pessoas têm que sair de seu lugar, é muito importante encontrar um espaço que seja uma pátria, onde elas se sentem seguras”, afirmou o monge. E citou que as redes sociais, sobretudo para os jovens, é um espaço importante, onde eles se sentem parte de uma mesma comunidade.

O autor citou a questão da pátria na Bíblia, tanto de Abraão – que é chamado a deixar o seu lugar para uma nova terra – como para São Paulo, que acolheu Jesus Cristo como sua pátria, peregrinando para levar a Boa Nova.

Habitar em si mesmo – missão importante
Para Anselm Grün é fundamental que o ser humano se encontre em si mesmo. E é Jesus Cristo quem faz este caminho com cada um. “Quando Deus reina em mim, não sou conduzido para fora. Onde Deus reina, eu estou totalmente em casa”, afirmou.

O monge disse ainda que através do autoconhecimento e do contato consigo mesmo, é possível encontrar a solução para os problemas. Outro motivo apontado pelo autor para a falta de paz consigo mesmo é quando as pessoas se avaliam demais, olhando sempre para os pecados e as faltas. “Quem se vê sempre em pecado não consegue ficar em paz”, afirmou. E disse que a imaginação é uma forte aliada no processo de buscar a paz dentro de si, quando, por exemplo, a pessoa está numa situação de caos, imaginar que dentro dela existe um espaço que o caos não habita, um espaço interior onde os problemas externos não têm acesso.

Em seguida, Anselm Grün convidou os participantes a fazerem com ele alguns ritos simples, e que recuperam a importância da bênção e do perdão.

Após a fala, os participantes puderam fazer algumas perguntas para os autores. Em seguida, todos foram convidados a celebrar a Eucaristia. Após o almoço, houve um momento para que Anselm Grün e Zacharias Heyes autografassem os livros dos participantes do retiro.

Anselm Grün respondeu algumas perguntas para o site Franciscanos, que você acompanha abaixo:

anselm_290816 (41)Como a meditação pode ajudar as pessoas a se conhecerem melhor?
Quando eu medito, eu entro em contato com a minha própria verdade e só o fato de entrar em contato com esta verdade, aparecem meus pensamentos e sentimentos. A meditação tem 3 passos: olhar meus sentimentos, deixá-los existir e, através deles, ir para um espaço mais profundo.

Desta maneira eu consigo conhecer a mim mesmo e encontrar paz interior. Muitas pessoas têm receio da meditação porque imaginam que meditar é ter um monte de pensamentos e imaginam que será caótico ter que lidar com eles. Somente quando eu consigo estar em frente aos meus pensamentos é que eu tenho serenidade para passar por eles.

Como os cristãos hoje podem agir para sair da lógica individualista em que vivemos?
Na Bíblia, um lugar muito importante para se sentir pessoa é a comunidade. Na Igreja Primitiva o sentimento de estar em comunidade era muito forte. Mas eu só consigo perceber e desfrutar do estar em comunidade se eu me sinto em casa comigo mesmo. Se eu penso que eu estou em comunidade apenas quando eu estou com os outros, eu não sinto a mim mesmo, fico sempre dependente dos outros e de suas expectativas. É importante que a Igreja seja, neste mundo tão anônimo, espaço deste sentimento de comunidade, mas ao mesmo tempo deve oferecer a possibilidade para que cada um consiga acessar sua própria morada interior.

Na sua visão, qual deve ser o papel da Igreja nas situações de conflito, como vivemos no mundo de hoje?
Na Alemanha a Igreja, tanto a Católica como a Evangélica, tiveram um papel muito importante na questão dos refugiados e o próprio Estado reconheceu esta ação. Para nós é muito importante que tenhamos hospitalidade. Na Igreja antiga, a hospitalidade era muito valorizada. Devemos ser hospitaleiros diante dos cristãos que estão fugindo da guerra, e igualmente diante dos muçulmanos e mostrar que conseguimos acolhê-los da mesma forma. Ali está uma chance de acabarmos com muitos preconceitos que os próprios muçulmanos têm dos cristãos.
No final da tarde, os dois seguiram para o Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi, onde acontece a 24ª Bienal Internacional do Livro, onde os autores puderam conhecer o estante da Editora Vozes e continuar em contato com o público, num momento de autógrafos e fotos. Os dois estarão nesta segunda-feira (29), em Porto Alegre (RS), onde encerram a passagem pelo país.