Adesão, atenção e persistência para sermos discípulos
12/01/2017
Frei Gustavo Medella
Febre amarela, dengue, chicungunya e zika vírus: eis o “quarteto dramático” que verão após verão assola os brasileiros, especialmente nas áreas de maior temperatura. Todos eles pegam carona na fêmea de um pequeno mosquito chamado Aedes aegypti que, apesar de dimensões bem modestas, tem força para colocar muitos de cama e, às vezes, até matar. Tarefa difícil combater esta ameaça pequena em dimensões físicas, mas enorme em resultados prejudiciais à saúde: raquete, fumacê, repelente, aerosol são meios paliativos para combater este inimigo quase invisível. No entanto, todo investimento nesta direção funciona mais ou menos na dinâmica do “enxugar gelo” ou de “trocar a fechadura depois da porta arrombada”. O caminho mais eficiente para vencer esta ameaça chama-se PREVENÇÃO, especialmente no que diz respeito a não deixar acessível ao mosquito lugares que favoreçam sua reprodução: ambientes com água limpa e parada, que normalmente se multiplicam nestes verões de altas temperaturas e muitas chuvas.
Para que a prevenção seja eficiente, três elementos devem ser levados em conta: adesão coletiva – pois de nada adiante a pessoa cuidar bem em sua casa e o vizinho nada fazer na dele -; atenção a lugares pouco frequentados – pois a água alcança locais pouco imagináveis; e muita persistência – afinal as chuvas são frequentes e com facilidade voltam a inundar locais já inspecionados.
Talvez você já esteja pensando que, neste 2º Domingo do Tempo Comum, tenhamos aproveitado este espaço da reflexão litúrgica para oferecer dicas de prevenção e combate ao mosquito Aedes aegypti. Também. No entanto, tais orientações estão profundamente ligadas à convocação que Deus faz a seus filhos e filhas nas leituras deste final de semana. Vamos a elas:
Adesão coletiva
Assim como elegeu a Israel, o Senhor escolhe a cada um dos batizados e batizadas para serem, juntos, “luz das nações”, a fim de que a Salvação chegue aos confins de toda a terra (Cf. Is 49,3.5-6). O chamado é individual e a resposta também, mas o projeto é coletivo. Falar em uma relação individualista com Deus, prescindindo de uma expressão comunitária, não contempla a proposta que o Senhor, em Jesus, faz a seu povo, afinal, em todo o plano da encarnação Deus não quis atuar sozinho, mas em parceria com a humanidade.
Atenção a lugares pouco frequentados
Assim como a água surpreende e fica empossada em lugares de difícil acesso e pouco imagináveis, Deus também escolhe se manifestar em ambientes pouco prováveis a determinadas lógicas, como a da eficiência, do lucro e do sucesso, por exemplo. O próprio João Batista admite que, a princípio, não reconhecia em Jesus o Salvador (Cf. Jo 1,33). Ele precisou de discernimento, de rever seus planos e expectativas, de contemplar pontos de vista ainda um pouco estranhos à sua percepção. Assim encontrou Jesus e tornou-se capaz de proclamar com toda convicção que aquele era de fato o “Cordeiro de Deus” (Cf. Jo 1,29).
Muita persistência
Depois de esvaziar todos os possíveis reservatórios de água parada, basta uma pancada de chuva de verão para que o trabalho precise ser realizado novamente. Não tem outra solução. Certamente por este motivo João Batista em seu testemunho enfatiza que, quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo desceu e permaneceu sobre ele (Cf. Jo 1,33). Permaneceu porque a missão não seria fácil, permaneceu como garantia de que Jesus de fato agia com o Pai e pelo Espírito, em nome da Trindade. Nós também, se quisermos ser, como Paulo, apóstolos por vocação e portadores de graça e paz (Cf. 1Cor 1,1-3), precisamos necessariamente, com muita persistência, permanecer em Deus.