Missa de Exéquias: A última ponte de Frei Nelson Rabelo
18/10/2017
A Igreja Matriz São Pedro Apóstolo de Pato Branco lotou nesta quarta-feira, às 18 horas, para a Missa de corpo presente de Frei Nelson Rabelo. Presidiu a celebração o Bispo da Diocese de Palmas/Francisco Beltrão, Dom Edgar Ertl, concelebrada pelo confrade de Frei Nelson e bispo de Caçador, Dom Severino Clasen, os confrades da Fraternidade local e região. O Definidor Frei Gustavo Medella representou o Ministro Provincial da Província da Imaculada, Frei Fidêncio Vanboemmel.
Frei Medella viajou às pressas ontem, deixando a reunião do Definitório Provincial para estar em Pato Branco, afim de prestar as últimas homenagens ao seu confrade, de quem era muito próximo por ser o Coordenador da Frente de Evangelização da Comunicação. Frei Gustavo viaja todo mês para acompanhar os trabalhos da Rede Celinauta em Pato Branco.
Frei Gustavo chegou às 2 horas da madrugada desta quarta-feira e, assim que desceu do carro, foi visitar o seu amigo falecido. “Quando a gente vem de encontro a uma situação dessas, fica pensando no clima que vai encontrar. O que eu vou ver? Como vou reagir ao me deparar com uma pessoa que eu amo e que fez parte da minha vida nesta nova situação?”, confessou Frei Medella enquanto estava no Aeroporto de Campinas com destino a Chapecó. “Foi, então, que li um pequeno texto que saiu no site da Província Franciscana da Imaculada de um relato do próprio Frei Nélson dizendo que ‘cultivar a espiritualidade é cultivar o Sol da proximidade de Deus, que nos dá calor e vida. Aquecidos e nutridos pelo seu amor, podemos levar calor e vida aos demais’. E por coincidência – dizem que quem crê na Providência não crê em coincidência -, quando coloquei os pés na entrada da igreja, vi alguns irmãos da Pastoral dos Jovens rezando os mistérios da Luz do Santo Rosário. Nelson queria estar próximo deste Sol e buscou em vida aqueles mistérios da Luz. Foi o primeiro alento que senti no profundo do coração, percebendo que, de fato, este que procurou lançar luzes durante a sua vida agora é acolhido como filho amado na Luz Eterna do amor do Pai”, acrescentou o frade.
Segundo Frei Medella, também pensava como ele poderia qualificar este homem que se destacou em tantas áreas: na comunicação, na intelectualidade, na religiosidade, na promoção social. “Que qualificativo poderíamos utilizar para definir quem foi Frei Nelson Rabelo? Creio ter sido divina também a inspiração daqueles que intitularam o documentário, lançado no último dia 4 de outubro, em homenagem ao nosso querido confrade, de ‘Nelson Franciscano’. Simples assim, como diz a juventude. ‘Nelson Franciscano’. E a consideração que gostaria de fazer é que o Nelson Franciscano, enquanto comunicador, frade, sacerdote, amigo, tio, irmão, primo, buscou com fidelidade aquilo que o Papa Francisco pede a todo cristão e de modo especial àqueles que trabalham e atuam no mundo da comunicação. Frei Nelson se distinguiu na sua vida como verdadeiro pontífice, como verdadeiro construtor de pontes”, enfatizou o frade.
“É isso que Jesus espera de cada um de nós, é isso que os evangelistas empreenderam em suas vidas. Hoje, celebramos São Lucas, construtor de pontes duas vezes: primeiro, entre a vida de Jesus e o conhecimento que ele nos trouxe através dos Evangelhos e, segundo, entre o ser humano e a saúde, pois diz a tradição que era médico. São Lucas pontífice, construtor de pontes. São Francisco Pontífice, Nelson Franciscano, construtor de pontes”, frisou.
Frei Medella citou dois substantivos que o teólogo Leonardo Boff atribui a São Francisco de Assis: ternura e vigor, que ajudam a descrever o seu confrade falecido. “Frei Nelson era um homem reto e sabia o que queria, tinha seus valores sólidos. Era de uma voz imponente, mas essa voz nunca se levantou para ninguém. Sabia respeitar a diferença, sabia promover o diálogo e dialogar. Era sério quando necessitava ser sério e sabia brincar quando era necessário descontrair, tornar mais leves os relacionamentos tensos, próprios de toda e qualquer experiência de vida. Frei Nelson construtor de pontes, entre a ternura de quem ama, de quem acolhe, de quem recebe, e o vigor de quem sabe o que quer, de quem sabe que a força vem do Senhor e segue em frente”, destacou Frei Medella.
“Frei Nelson construtor de pontes, entre o talento e a oportunidade. Vocês que aqui estão, profissionais da área de comunicação que fazem parte da Rede Celinauta, e muitos outros que estão para além dos limites da região Sudoeste, em outros lugares do Brasil, tiveram no olho clínico do Frei Nélson a oportunidade que tantos esperavam: ‘Rapaz, você leva jeito!’. ‘Moça, você não quer fazer um teste no rádio?'”, recordou Frei Gustavo
O pregador também lembrou que Frei Nelson foi construtor de pontes na promoção social como fundador do projeto Missão SOS Vida, que atende dependentes químicos. “Frei Nelson sabia ir em busca daqueles que queriam e podiam ajudar e promoveu essa ponte do bem. Tenho certeza esse trabalho vai seguir em frente, com a graça de Deus, porque ninguém aqui desta comunidade vai deixar esta obra terminar, esta obra abençoada de construção de pontes que Frei Nelson também empreendeu”, pediu.
Segundo frade, Frei Nelson era construtor de pontes entre o ser humano e a graça de Deus manifestadas nos sacramentos. Perguntou ao povo quem havia sido batizado, recebido comunhão, alguns dos sacramentos da mão de Frei Nélson, e a igreja toda confirmou que sim.
Para Frei Medella, Frei Nelson foi construtor de pontes entre famílias. “Poucas vezes estive com os familiares de Frei Nelson, mas o pouco que pude estar, percebi a familiaridade que eles têm com os frades, fruto da postura do frade”, revelou.
Frei Nelson era construtor de pontes entre casais que viveram crises matrimoniais, enumerou Frei Medella. “E ele, com seu jeito de bom mineiro, fazia a pessoa enxergar um pouco além daqueles primeiros instintos apaixonados: ‘Vou largar, não quero saber mais…’. Espera aí, vamos nos aquietar!, dizia. Ele reconstruía a ponte daquele amor, daquele projeto que uniu duas pessoas”, observou.
Frei Nelson, ressaltou Frei Medella, foi ponte entre o que é sério, tenso, exigente e o que é leve, bem-humorado. “Frei Nelson sempre tinha uma piada, um ‘causo’ para descontrair algo que parecia tenso, difícil e complicado. Muitas outras pontes este nosso confrade construiu. E hoje ele não constrói, mas está passando pela última e definitiva, que é aquela que São Francisco chama de irmã morte corporal. Para nós, franciscanos, a morte é um novo nascimento e, hoje, Frei Nelson mergulhou em cheio naquele mistério que em vida ele procurou. Por isso, ele é querido por jovens, crianças, idosos, pessoas de outros credos, para além de qualquer fronteira, um homem respeitado e admirado em Pato Branco e em toda região”, disse, enfatizando que levava à Comunidade o abraço de toda a Província. .
No final, Frei Medella surpreendeu. Segundo ele, Frei Nelson diz também no documentário que ele gostava de palco, gostava de se apresentar às pessoas, e que quando ele estava em público parecia que se revestia de uma força extraordinária. “Certamente, ele gostava de aplausos. E, hoje, então, em homenagem a este confrade, a este homem de Deus, a este comunicador, a este pastor, nós não vamos fazer um minuto de silêncio mas vamos dar a Frei Nelson um minuto de calorosos aplausos”, pediu, sendo atendido com entusiasmo.
Dom Edgar Ertl, em entrevista à RBJ, lamentou o falecimento e enalteceu o trabalho prestado por Frei Nelson Rabelo em toda região. “Queremos agradecer pela vida em sacerdócio de Frei Nelson em nossa Diocese. Também nossa gratidão a ele pelo trabalho de evangelização em nossa Diocese através da Igreja e dos meios de comunicação”.
Segundo Dom Edgar, pela fé cristã essa não se trata de uma perda, mas sim de uma Páscoa, ou seja, passagem e ressurreição: “É a proposta de Jesus, ele ressuscitou e todos aqueles que professam a sua fé também um dia ressuscitarão, mas para isso precisamos passar, assim como São Francisco falou, cuja congregação Frei Nelson pertence, pela irmã morte. Então, hoje, ele recebeu e acolheu pela sua doença, a morte e será acolhido hoje pela ressurreição dos mortos por Cristo, que disse: ‘eu sou a ressurreição”.
PREFEITO DECRETA LUTO OFICIAL DE TRÊS DIAS
O prefeito de Pato Branco, Augustinho Zucchi, divulgou em nota que Frei Nelson foi um líder espiritual que deixa uma trajetória de fé e amor ao próximo na história da cidade. “Visionário, também contribuiu para consolidar o ramo da comunicação no Sudoeste do Paraná. Seu legado para as próximas gerações e sua memória permanecerão, para sempre, presentes na história das conquistas de Pato Branco e região”, disse, informando que decretou luto oficial durante três dias na cidade.
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Comunicação da Província da Imaculada Conceição e TV Sudoeste. Fotos: Ester Sandri