A solicitude de Deus que nos desconcerta
05/02/2015
Frei Gustavo Medella
As considerações de Jó diante da fragilidade da própria vida trazem em si resignação e certa melancolia. Colocam-nos face a face com o precário e provisório que a vida humana traz em si. Chegam a espantar. Causam-nos desconforto. São desconcertantes e fazem parecer ridícula qualquer atitude de prepotência, arrogância e orgulho que possamos trazer em nosso iludido coração. “Lembra-te que minha vida é apenas um sopro” (Jó 7,7).
E é neste “sopro” de cinquenta, sessenta, “setenta e poucos” anos – ou pouco mais ou pouco menos – que somos chamados a dar o melhor de nós, a nos superar. São Paulo encontrou o sentido de sua vida na pregação do Evangelho. Entregou-se todo inteiro à causa do Cristo: “Pregar o Evangelho para mim não é motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (1Cor 9,16). Esta entrega generosa de São Paulo o faz grande em sua pequenez e confere a ele a maturidade de quem se doa integralmente, sem grande preocupação com qualquer reconhecimento ou resultado: “Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns” (1Cor 9,22b).
Se desconcertante é a constatação de nossa fragilidade, também nos desconcerta a solicitude de Deus em assumi-la de modo integral, como o faz em Jesus Cristo. No Evangelho temos a graça de encontrar este Deus que está sempre ocupado em oferecer cura e salvação, em olhar nos olhos de cada necessitado, em estender a mão a quem está caído, assim com fez com a sogra de Simão Pedro (cf. Mc 1,31). Jesus é Deus que “conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura”, conforme rezamos no Salmo (Sl 146,3).
Se temos muitos motivos para ficarmos espantados, mais ainda são as razões para nos sentirmos gratos e felizes, sem ceder ao desânimo e ao desespero. Na companhia de Cristo e dos irmãos podemos chegar longe, alcançar lugares aos quais jamais teríamos acesso se caminhássemos sozinhos. Sigamos em frente, com os olhos fixos em Jesus!