A pandemia escancara a realidade educacional no Brasil
09/03/2022
“Educar para um Projeto de vida” é o tema deste quarto episódio da Série da Campanha da Fraternidade, promovida pela Província da Imaculada Conceição, no formato podcast. O Professor da Associação de Ensino Senhor Bom Jesus, Mário Renato Longen, conversa com Frei Gustavo Medella sobre este assunto, tendo em vista o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26) da CF 2022.
Falar em projeto de vida hoje no Brasil e no mundo é preciso se levar em conta a realidade pandêmica da Covid-19. “A pandemia realmente alterou bastante o Brasil como um todo, as relações pessoais, a maneira de trabalhar, a maneira de olhar o país”, acredita Mário Renato, para quem ela trouxe duas provocações.
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“De um lado, ela abriu os olhos de muitas pessoas para as deficiências do sistema, especialmente do sistema educacional, gerando um descontentamento e o desejo de mudanças de muitas pessoas. Nós vimos muitas escolas sem um computador sequer para que o aluno pudesse assistir a uma aula. Vimos cidades inteiras sem aulas, porque não havia uma torre de transmissão de telefonia celular. Crianças tinham que caminhar duas ou três horas até um morro para pegar o sinal de celular e mesmo assim não conseguiam assistir suas aulas”, recorda.
Para ele, ao mesmo tempo que as pessoas perceberam essas deficiências, viram que o sistema precisava se fortalecer, abrindo novas possibilidades e gerando expectativas de mudanças. “Muitos professores se desdobraram, reinventaram-se, tentaram modificar a maneira de trabalhar com o aluno, com os conteúdos, a forma de se dirigir às crianças que, ao mesmo tempo, estavam com famílias. No Brasil inteiro, os professores tiveram os pais participando da aula, fazendo perguntas. Houve, assim, uma possibilidade de uma mudança, a partir da tecnologia e da necessidade com a qual os professores tiveram que se adaptar ao novo modelo. Então, trouxeram essa ideia: ‘Podemos mudar!’ É possível mudar aquilo que está funcionando e aquilo que não está funcionando. Da mesma maneira, gerou uma valorização da instituição escola. Se por um lado alguém criticava a escola, falava mal da escola, agora, a partir da pandemia, passou-se a compreender ainda mais o papel da escola diante das crianças, diante da família e da sociedade. O papel dos professores, a importância do professor, o valor de cada professor”, avaliou o professor.
Segundo ele, no contato que tiveram com os pais, ouviram deles que não faziam ideia de como os professores trabalhavam. “Alguns professores com turmas de 30 ou 40 alunos, tendo que vencer toda essa barreira da distância e ao mesmo tempo conseguir transmitir ensinamentos, transmitir valores, tudo o que era necessário. Com tudo isso, aquelas pessoas que dominam essa estrutura no país, social, financeira, política, querem manter essas deficiências para que que eles se mantenham no poder, protelando políticas públicas que vêm de encontro a essas necessidades, a essa alteração de estrutura. Ao mesmo tempo as pessoas que perceberam essas deficiências e que perceberam as possibilidades de mudanças e que querem as mudanças, querem uma sociedade melhor, um país melhor, querem essas soluções”, acredita Mário.
Para ele, talvez, tenha-se uma discussão maior a partir da Campanha da Fraternidade, uma discussão maior em relação ao tema educação, em que sejam mostradas quais sejam as mudanças necessárias, e os caminhos de acordo com o objetivo geral da campanha sejam apontados, por quem está lá dentro, por quem participa, por quem tem o desejo e a necessidade de que a educação faça essa diferença. “Vejo esses dois lados. Ao mesmo tempo que provocou o desejo da manutenção, provoca toda a sociedade, e naqueles que têm interesse e desejo da mudança”, acrescenta.
Falar em projeto de vida, segundo o professor, envolve muita coisa: Para onde ir, o que quero, para onde vou, desejo, o que penso. “Nós estamos num momento que muitos vivem automaticamente nessa correria do trânsito, no dia a dia dos compromissos, o celular que a cada segundo reclama que se dê uma olhadinha para ver se alguém respondeu a mensagem enviada ou não. Parece que estamos vivendo de maneira automática”, observou.
“Outro dia, conversando com o vigário episcopal numa celebração de crisma, ele me disse que os cientistas têm razão de que o tempo está passando mais rápido. Eu disse para ele: ‘Eu discordo, padre! Eu acho que nós estamos vivendo muito rapidamente, com muitos afazeres, e estamos deixando de perceber, no dia a dia, as coisas que acontecem’. Estamos vivendo de acordo com a maré”, critica.
Para ele, ao pensar um projeto de vida, pode-se escolher o que quer e o que não quer. “Se a gente parar para olhar a sociedade, a realidade que estamos vivendo, tudo aquilo que a nossa sociedade está vivenciando hoje, talvez de sã consciência, nós diremos: ‘Olha, não queremos isso, não queremos aquilo, não queremos essa correria’. Queremos, talvez, viver melhor, experenciar os momentos de família, os momentos do cultivo da nossa espiritualidade. Então, a educação pode, sim, auxiliar no processo de discernimento, não só na vida pessoal como na relação com outro. Assim, os questionamentos feitos diante dos temas e da realidade em sala de aula, podem auxiliar na construção da pessoa humana e de um projeto de vida”, orientou.
No dia 13 de março, no quinto episódio, o frade franciscano e professor de Filosofia, Frei Vagner Sassi, falará sobre o tema “Informação, conhecimento e sabedoria”.
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