A mão que afaga é a mesma que apedreja
28/08/2014
Frei Gustavo Medella
“A mão que afaga é a mesma que apedreja”. Este verso, do Poema Versos Íntimos, do poeta Augusto dos Anjos, ilustra bem a relação entre o Evangelho do último domingo (Mt 16,13-20) e o Evangelho que será proclamado neste 22º Domingo do Tempo Comum (Mt 16,21-27). Se, no domingo passado, Pedro surpreende e “afaga” o coração de Jesus com sua profissão de fé (“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”), neste fim de semana o apóstolo troca os pés pelas mãos e manda uma “pedrada” certeira no projeto do Reino pregado por Jesus, desejando desviar o mestre do caminho que Ele deveria trilhar (“Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!”). Pedro ainda não havia compreendido que a fidelidade de Jesus ao Projeto do Pai renderia ao Cristo resistências e inimizades, levando-o à morte. Faltava ao apóstolo compreender o mistério da cruz.
Sendo assim, depois de passar uma descompostura em Pedro, chamando-o inclusive de “Satanás” e “pedra de tropeço”, o Mestre, pacientemente, ensina aos discípulos que o caminho de seu seguimento é necessariamente o caminho da cruz: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga”. É… de vez em quando também nós, ao modo de Pedro, precisamos levar uma “chacoalhada” de Cristo, trazendo-nos novamente à realidade do discipulado que pressupõe trabalho constante, dedicação generosa e comprometimento integral. Se o Senhor de fato nos seduziu, como o fez com Jeremias, conforme narra a 1ª Leitura (Jr 20,7-9), busquemos nos colocar com paixão e entusiasmo na adesão ao Projeto do Reino.