A importância de integrar o negativo da existência
25/09/2015
Frei Gustavo Medella
Desgraça, apodrecer, carcomido, enferrujado, matança, demônios, escandalizar, cortar a própria mão, cortar o próprio pé, arrancar o próprio olho, inferno, verme e fogo que não se apaga. Os termos que aparecem nas leituras da liturgia deste 26º Domingo do Tempo Comum parecem saídos do roteiro de um filme de terror. Abordam o negativo da existência, dizem respeito ao que é destrutivo, desagregador, funesto e que – pasmem – surge no próprio coração humano quando ele se deixa levar pelo egoísmo, pela prepotência, pela arrogância, pela ganância. Chega a assustar a possibilidade de imaginarmos que nosso coração possa ser tão feio quanto os cenários das mais terríveis produções cinematográficas.
No entanto, esta possibilidade não nos deve apavorar quando temos a reta intenção e o esforço sincero de caminharmos na companhia de Jesus. É ele a Luz que nos deixa ver para além de toda escuridão e que nos permite dar passos seguros na direção de uma vida realizada. Como colaboradores diretos de Cristo, somos chamados a profetizar (Cf. Nm 11,25-19) e a expulsar demônios (Mc 9,38-43.45.47-48), não por nossos méritos ou forças, mas pela ação de Deus.
O exercício do profeta é aquele de anunciar a vontade de Deus e de combater toda prática que contraria as prioridades do Reino. Profetizar é ato de coragem e fé que nem sempre agrada aquele a quem a profecia se dirige. Basta pensarmos nos destinatários da mensagem de São Tiago na carta que temos como segunda leitura (Tg 5,1-6). São palavras duríssimas, que chegam a ferir ou ouvidos de quem as ouve, mas necessárias para reconduzir o coração daqueles a quem são dirigidas. Mesmo sendo duro reconhecer, às vezes cada um de nós precisa ouvir alertas como estes, para o nosso próprio bem.
Expulsar demônios, por sua vez, significa ajudar as pessoas a afastarem o mal para longe de si, não combatendo como em uma guerra sanguinolenta, mas trabalhando firme na construção do bem. Interessante notar que a ação inspirada por Deus é a de “expulsar o demônio”, e não de “implantá-lo” na vida das pessoas para depois dominá-las e explorá-las. Denominações religiosas que insistem demais na presença do diabo e ocupam grande parte do seu tempo em fazer exorcismos e rituais de descarrego devem ser encaradas no mínimo com desconfiança.
Deus não chama ninguém para fazer espetáculos nos quais o mal seja o protagonista, mas para, com todo esforço e empenho, trabalhar pela cultura do bem, da paz e da solidariedade. Quem assim age, é verdadeiro evangelizador, pois está contribuindo para a construção de um mundo melhor.