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A história de Frei Luiz, frade e bispo no Nordeste do Brasil

02/06/2022

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                                                                                                                  Imagem: Divulgação

“Quando comecei o primeiro jejum em 2005, ninguém me conhecia. No início, muitos acharam que eu estava louco, mas depois a Diretoria da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se pronunciou a meu favor. Então havia uma divisão entre aqueles que apoiavam nossa luta e aqueles que eram contra.” Estas são as palavras de Dom Luiz Flávio Cappio, bispo franciscano brasileiro da Diocese de Barra, que em 2005 e 2007 ganhou as primeiras páginas dos jornais brasileiros e mundiais com duas greves de fome, para protestar contra o plano do governo brasileiro de desviar o curso do Rio São Francisco.

“Por amor ao povo, por amor ao rio – que era fonte de vida para os habitantes – não podíamos ser a favor de um projeto cujo objetivo fosse única e exclusivamente o uso econômico da água”, continuou o bispo. Jamais poderíamos concordar com um projeto que pretendesse transformar o rio, baseado nas grandes fazendas rurais que produzem grãos para importação. Buscava o enriquecimento de uma pequena minoria, em detrimento de toda a população. É o que afirma com determinação “Frei Luiz”, nome pelo qual o bispo é conhecido No nordeste do Brasil.

Em 2005, Frei Luiz iniciou sua primeira greve de fome que durou onze dias. Parou a greve depois de assinar um acordo com o governo que prometia parar o desvio do rio São Francisco e investir uma quantia considerável de dinheiro para revitalizar o rio. No entanto, quando, com o tempo, as promessas do governo não foram cumpridas, o bispo decidiu iniciar outra greve de fome em 2007. “Naquele dia completei 59 anos. Jejuei novamente, dessa vez não peguei o governo de surpresa, explica o bispo Luiz Flávio Cappio. Eles haviam se preparado. A greve de fome durou 24 dias e foi muito difícil”.

No 24º dia de greve de fome, Pe. Luiz perdeu a consciência e foi parar no hospital, na unidade de terapia intensiva. Ao acordar, viu-se cercado por vários grupos, entre colonos indígenas, sindicatos, presidentes de associações populares, professores, diretores de universidades. Cada um deles implorou a ele com palavras semelhantes: “Precisamos de você vivo para continuar essa luta. Abrace a vida que Deus lhe deu e viva para nos ajudar.” Mesmo que Frei Luiz não tivesse decidido fazer greve de fome para morrer, mas “pelo amor à vida”, ele decidiu quebrar o jejum. “Compreendi que era um instrumento de vida para o meu povo, para a minha gente, por isso, ao sair da unidade de terapia intensiva do Hospital Memorial Petrolina, anunciei o fim da minha greve de fome”, afirma o bispo brasileiro.

Seu caminho vocacional para chegar à Barra
Frei Luiz vem de uma família católica de origem italiana. Foi na família que aprendeu a amar Jesus e daí recebeu a sua vocação franciscana: “Vi em Francisco o homem que deu a vida aos pobres; Vi no Francisco um homem apaixonado pela vida, pela natureza”. Imediatamente após sua ordenação, Frei Luiz serviu na periferia de São Paulo, em contato com os trabalhadores. “A maioria das pessoas com quem trabalhei veio do Nordeste do Brasil, explica o bispo. Eles disseram que vieram para São Paulo para melhorar de vida, e eu fiquei imaginando como era a vida deles lá. São Francisco falou-me no coração e disse-me: o teu lugar é aí”. Sem perder mais tempo, Frei Luiz dirigiu-se à Barra pelo rio São Francisco. “Quando cheguei à Barra, depois de cinco meses de caminhada, o bispo – que tinha ouvido falar de um frade menor que andava de comunidade em comunidade, pregando a Palavra de Deus – se aproximou de mim e me pediu para ficar em sua diocese, pela falta de sacerdotes”.

Dessa forma, há 48 anos Frei Luiz atua na Barra, primeiro como missionário e depois como bispo. “Agora que completei 75 anos, já coloquei a Diocese à disposição do Papa e minha renúncia por limite de idade – diz o bispo. No momento estou aguardando o processo de nomeação do novo bispo e depois retornarei à Província da Imaculada Conceição. Quando tudo estiver arranjado, se Deus quiser, me retirarei para um eremitério. Foi tudo obra do Espírito Santo”.


Fonte: www.ofm.org